Na lista de onze perguntas enviadas a João Salgueiro, presidente da CGD entre 1996 e 2000, no âmbito da segunda comissão parlamentar de inquérito à recapitalização e gestão do banco, os socialistas começam por citar o relatório da EY que deu origem ao inquérito parlamentar, em que os relatores da EY dizem que "não existe evidência dos elevados riscos da operação terem sido analisados corretamente".
Neste sentido, o PS começa por perguntar a João Salgueiro "como surgiu esta operação e quais os passos concretos que levaram às tomadas de decisões quer original, quer subsequentes", para depois perguntar diretamente ao ex-presidente "qual a participação que teve, e que posições defendeu, tendo em conta a referência à sua presença em diversas reuniões onde este assunto foi abordado".
Os 'Boats Caravela' foram um instrumento financeiro investido pela Caixa que implicava troca de ativos, mas acabou por dar hipótese contratual à contraparte do negócio (o Credit Suisse First Boston) de colocar nos ativos trocados produtos financeiros de baixa qualidade, que desvalorizaram e geraram perdas de 340 milhões de euros para o banco público.
Os socialistas perguntam ainda "a que se deveu" a mudança para um regime de 'Credit Default Swap' [troca de ativos], uma vez que de acordo com a "documentação enviada pela CGD é possível verificar que a operação pensada inicialmente" não incluía esse instrumento.
O PS cita também a audição de António de Sousa, também ex-presidente da CGD, que disse que João Salgueiro "não se apercebeu qual era o risco que estava subjacente a uma operação daquelas, para questionar Salgueiro "qual a sua experiência em operações de características semelhantes".
O grupo parlamentar socialista pergunta também "qual o motivo" para a celebração do contrato com o Credit Suisse First Boston e a "não consideração de outras instituições", e "como e por quem foi feita a negociação, e em que moldes se acordou a aceitação dos contratos referidos".
Os socialistas perguntam também "quem foi o administrador ou os administradores, em quem delegou os seus poderes de administrador-geral, caso o tenha feito, ou a quem foram atribuídos pelouros relevantes para efeitos de tomada de decisão nesta operação".
"Segundo a documentação enviada pela CGD (...) a operação não foi analisada pela direção de risco nem pela direção de apoio jurídico. Como justifica que uma operação desta grandeza não seja devidamente analisada pelos órgãos referidos?", pode também ler-se no conjunto de perguntas a que a Lusa teve acesso.
O PS relembra ainda palavras de Tomás Correia, ex-administrador da CGD, que na comissão parlamentar disse que o risco dos 'Boats Caravela' "nunca foi percecionado nas apresentações efetuadas", para depois perguntar "quem fez" as apresentações e qual foi a posição de João Salgueiro, "eventuais pedidos de esclarecimento, e decisões tomadas" pelo ex-presidente.
Os socialistas concluem o rol de perguntas questionando se "se justifica a assunção de um nível de risco desta dimensão (...), que resultou numa perda colossal para a CGD, pelo acréscimo da taxa de juro a receber somente 1,425%".
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