Aluguer de botas ou sacos de plástico, serviço de lava-pés ou cobrança de “portagem” em pontes improvisadas para atravessar áreas alagadas são algumas das atividades que se veem pela cidade onde a chuva não tem dado tréguas.
Em grande parte dos bairros, a população tenta escoar a água de casas e ruas inundadas com recurso a baldes e eletrobombas e recuperar alguns dos seus haveres entre as terras e lixo arrastados pela força das águas, enquanto exploram oportunidade de negócio.
Eduardo Diogo, mecânico de 23 anos e morador do município do Cazenga, um dos mais populosos da capital angolana é “fundador” da ponte que atravessa a vala de drenagem da “7.ª Avenida”, cobrando passagem a peões e motociclistas.
A vala, onde já morreram várias pessoas e se acumula uma maré de lixo que agora oculta a água é também poiso de mosquitos, e acolhe pontes precárias de tábuas de madeira, lixo e terra, onde os transeuntes arriscam travessias periclitantes.
Com preços que variam entre os 50 e 100 kwanzas (9 e 18 cêntimos), o jovem garante que usa o dinheiro para comprar material para construir novas pontes, guardando uma parte para si, e lamenta que apesar das reclamações feitas às autoridades governamentais continuem sem soluções para a perigosa vala.
Sérgio Salvador Diogo, de 26 anos, é motoqueiro e protesta também contra a situação: “estamos a ficar frustrados, estamos a ver as crianças, o lixo, aí quando chove, a água vai mesmo nos bairros, nos kubicos (casas)”, disse à Lusa, queixando-se dos mosquitos e do lixo da vala aberta.
“Eu quero é mesmo que tapem esse mambo”, apela.
Diz que quem fez a ponte tem motivos para cobrar e reclama para a juventude do bairro o papel de promotora da infraestrutura precária pensada também para quem quer namorar: “as nossas mboas [mulheres] estão aqui. Para não ficarmos sem se ver metemos uma ponte e agora os estranhos que não namoram e não são daqui pagam mesmo 50. Temos motivo para cobrar porque essa ponte é privada não é do Estado, aqui ninguém está a roubar”.
Sebastião Francisco, alfaiate de 69 anos, lamenta também a inundação das ruas no setor 5 do Cazenga Popular, mas agradece a ajuda da administração municipal que cedeu eletrobombas para complementar a força manual das vassouras.
À entrada do mercado do Kikolo, um dos mais conhecidos de Luanda, o infortúnio de uns oferece também oportunidades para outros que alugam botas ou negoceiam sacos de plástico para quem quer ir ao mercado onde o acesso está totalmente alagado e enlameado.
No mesmo local há também quem preste serviços lavando os pés aos transeuntes, embora com pouco entusiasmo.
“João Lourenço estamos a sofrer, os 500.000 empregos estão onde, emprego é lavar os pés?”, questionam algumas das senhoras lava-pés.
Desde a semana passada as chuvas já provocaram a morte de pelo menos sete pessoas, incluindo três crianças na madrugada desta terça-feira, além de derrocadas de árvores, milhares de habitações inundadas e queda de postes de eletricidade.
Para as próximas 24 horas, o Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica (INAMET), continua com previsão de chuva moderada para a província de Luanda, podendo ser localmente forte, com probabilidade de ocorrência de trovoada nalguns municípios.
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