A subida acentuada do número de vítimas fatais — que anteriormente se cifrava em 115 — deve-se à recuperação de corpos a quase 10 quilómetros da cidade de Mokwa, epicentro das inundações, explicou Ibrahim Audu Husseini, porta-voz da Agência Estatal de Gestão de Emergências do Estado do Níger (NSEMA).

Husseini advertiu que o número de mortos ainda poderá aumentar, uma vez que vários corpos terão sido levados pela corrente do poderoso rio Níger. O Presidente Bola Tinubu afirmou que estão em curso operações de busca e salvamento, com o apoio das forças de segurança.

Numa publicação nas redes sociais durante a madrugada, Tinubu acrescentou que “estão a ser entregues sem demora materiais de socorro e apoio com abrigos temporários” em Mokwa, atingida por chuvas torrenciais desde o final de quarta-feira até à madrugada de quinta-feira.

Edifícios colapsaram e estradas ficaram submersas na cidade, localizada a mais de 350 quilómetros por estrada da capital, Abuja, conforme relatou um jornalista da AFP no local, na sexta-feira.

Serviços de emergência e residentes procuravam sobreviventes entre os escombros, com as águas a continuarem a correr ao lado das habitações destruídas.

“Alguns corpos foram recuperados dos destroços de casas colapsadas”, disse Husseini, acrescentando que as equipas no terreno vão precisar de escavadoras para conseguir resgatar os corpos.

Referiu ainda que muitas pessoas continuam desaparecidas, incluindo uma família de 12 membros, da qual apenas quatro tinham sido localizados até sexta-feira.

Mohammed Tanko, de 29 anos, funcionário público, apontou para a casa onde cresceu e disse aos jornalistas: “Perdemos pelo menos 15 pessoas desta casa. A propriedade desapareceu. Perdemos tudo.”

A Agência Nacional de Gestão de Emergências da Nigéria (NEMA) informou que a Cruz Vermelha Nigeriana, voluntários locais, militares e forças policiais estão a colaborar na resposta ao desastre.

De acordo com os números divulgados por Husseini, registaram-se 151 mortos, 3.018 desalojados, 265 casas “completamente destruídas” e duas pontes arrastadas pelas águas na movimentada cidade rural e comercial de Mokwa.

Mudanças climáticas

A época das chuvas na Nigéria, que normalmente dura cerca de seis meses, está apenas a começar este ano.

As inundações, geralmente causadas por chuvas intensas e infraestruturas deficientes, provocam estragos todos os anos, matando centenas de pessoas por todo o país da África Ocidental.

Cientistas alertam ainda que as alterações climáticas estão a intensificar os fenómenos meteorológicos extremos.

Na Nigéria, as cheias são agravadas por sistemas de drenagem inadequados, construção de habitações em zonas ribeirinhas e a deposição de lixo em canais de escoamento.

“Este trágico incidente serve como um lembrete oportuno dos perigos associados à construção em zonas de passagem de água e da importância crítica de manter os canais de drenagem e os leitos dos rios desobstruídos”, afirmou a NEMA em comunicado.

Segundo o jornal Daily Trust, milhares de pessoas ficaram desalojadas e mais de 50 crianças de uma escola islâmica estão dadas como desaparecidas.

Aviso prévio

A Agência Meteorológica Nigeriana tinha já emitido um alerta para possíveis cheias repentinas em 15 dos 36 estados do país, incluindo o estado do Níger, entre quarta-feira e sexta-feira.

Em 2024, mais de 1.200 pessoas morreram e 1,2 milhões ficaram desalojadas em pelo menos 31 estados, tornando-se uma das piores épocas de cheias da Nigéria nas últimas décadas, de acordo com a NEMA.

Na sexta-feira, crianças deslocadas brincavam nas águas das cheias, aumentando o risco de exposição a doenças transmitidas pela água, com pelo menos dois corpos visivelmente cobertos por folhas de bananeira e tecido ankara.

Sabuwar Bala, vendedora de inhames de 50 anos, descreveu como conseguiu escapar das águas revoltas: “Estava apenas em roupa interior, alguém emprestou-me o que tenho vestido agora. Nem consegui salvar as minhas chinelas.”

“Nem sequer consigo localizar onde ficava a minha casa, tal foi a destruição”, disse.