As projeções, divulgadas nas emissoras polacas, dão uma curta vantagem ao atual presidente da Câmara de Varsóvia, o liberal europeísta Rafal Trzaskowski, com 50,3% dos votos, contra 49,7% do seu adversário conservador, o historiador independente Karol Nawrocki.

Quem é Karol Nawrocki?

Apoiando-se no lema "Polónia primeiro, polacos primeiro", Nawrocki foi o escolhido pelo partido conservador nacionalista Lei e Justiça (PiS), que governou o país entre 2015 e 2023. É também o sucessor político natural do atual presidente cessante, Andrzej Duda, que lhe deu o seu apoio público.

Apesar de defender a continuação do apoio da Polónia à Ucrânia contra a invasão russa, Nawrocki tem-se mostrado crítico relativamente aos benefícios concedidos aos refugiados de guerra ucranianos. Num vídeo de campanha divulgado em abril, afirmou que "os apoios sociais serão, acima de tudo, para os polacos" e que "nas filas para os médicos e clínicas, os cidadãos polacos devem ter prioridade".

Em maio, acusou ainda a Ucrânia de ingratidão: "A Ucrânia não demonstrou gratidão pelo que os polacos fizeram" e qualificou o presidente Volodymyr Zelensky de "insolente". Nawrocki opõe-se à entrada da Ucrânia na NATO.

Nawrocki é um admirador assumido de Donald Trump. Em maio, encontrou-se com o ex-presidente norte-americano na Casa Branca e garantiu que este lhe disse: "Tu vais ganhar". A reunião gerou polémica, com deputados da coligação governamental a acusarem Trump de interferência eleitoral.

A secretária norte-americana da Segurança Interna, Kristi Noem, também manifestou apoio a Nawrocki durante uma conferência conservadora na Polónia: "Ele precisa de ser o próximo presidente", declarou.

Entre as suas propostas está o reforço dos controlos na fronteira com a Alemanha para travar a entrada de migrantes, além de exigir a Berlim o pagamento de indemnizações de guerra.

Na reta final da campanha, Nawrocki assinou um compromisso em oito pontos redigido pelo líder da extrema-direita polaca, Slawomir Mentzen.

Mas a campanha foi também marcada por polémicas. Nawrocki afirmou, por exemplo, ser contra um imposto sobre imóveis e disse possuir apenas um apartamento. Mais tarde, veio a saber-se que tinha adquirido um segundo imóvel através de um negócio pouco claro com um idoso.

Um outro escândalo surgiu quando uma reportagem acusou Nawrocki de, no passado, ter organizado encontros com prostitutas para hóspedes de um hotel onde trabalhava como segurança. O candidato classificou as alegações como "uma coleção de mentiras" e anunciou que iria processar o site noticioso responsável.

Natural da cidade portuária de Gdansk, no Báltico, Nawrocki foi pugilista e jogador de futebol antes de obter um doutoramento em História e um MBA. Foi diretor do Museu da Segunda Guerra Mundial em Gdansk entre 2017 e 2021 e lidera atualmente o Instituto da Memória Nacional, responsável por investigar crimes dos períodos nazi e comunista.

A sua investigação centra-se na oposição ao regime comunista, no crime organizado durante esse período e na história do desporto. Em 2024, a Rússia colocou-o na sua lista de procurados por alegados esforços para remover monumentos soviéticos na Polónia. Desde então, diz ter tirado licença de porte de arma.

Em 2018, envolveu-se numa controvérsia literária ao publicar, sob o pseudónimo Tadeusz Batyr, um livro sobre o gangster da era comunista Nikodem Skotarczak. No mesmo ano, apareceu na televisão estatal um indivíduo de voz distorcida e rosto desfocado — apresentado como Batyr — afirmando que Nawrocki inspirara o livro.

Mais tarde, Nawrocki escreveu nas redes sociais que Batyr lhe tinha pedido conselhos e o agradeceu com "um livro interessante, que recomendo". Recentemente, a imprensa local revelou que Batyr e Nawrocki eram, afinal, a mesma pessoa.

Nas redes sociais, o caso gerou humor. Um utilizador do TikTok escreveu: "Talvez substituam Nawrocki por Batyr na segunda volta. De qualquer forma, um apoia o outro. Já são dois votos."

O historiador tem também sido acusado de ligações a gangsters e a grupos neonazis, acusações que rejeita como "manipulação profunda", alegando que os seus contactos tinham fins profissionais. "Ninguém alguma vez me ouviu dizer uma palavra favorável ao nazismo", afirmou.

Falando fluentemente inglês e ainda ativo no boxe, Nawrocki diz que a Polónia precisa de "um presidente forte para tempos difíceis". Vive com a mulher, Marta, e tem dois filhos e um enteado adulto.

Quem é Rafal Trzaskowsk?

Trzaskowski venceu por pouco a primeira volta das eleições, a 18 de maio, com 31% dos votos, contra 30% de Nawrocki.

"Prometo-vos que serei um presidente que une e que está pronto para dialogar com todos", afirmou Trzaskowski numa ação de campanha, a poucos dias do confronto final nas urnas.

Com o apoio da Coligação Cívica, atualmente no governo e liderada pelo primeiro-ministro Donald Tusk, o político de 53 anos tenta agora a presidência após uma derrota apertada em 2020 frente ao conservador Andrzej Duda — que apoia abertamente Nawrocki.

Filho de uma família intelectual de Varsóvia, Trzaskowski tem raízes no ativismo e na cultura. O pai, Andrzej Trzaskowski, foi um famoso pianista de jazz na década de 1950, quando este estilo musical era mal visto sob o regime comunista.

Ainda adolescente, Trzaskowski envolveu-se na política durante as primeiras eleições livres da Polónia, em 1989, ano da queda do Muro de Berlim. Abandonou a escola para ser voluntário na campanha que marcou o fim da era comunista.

Licenciado pela Universidade de Varsóvia, onde mais tarde se doutorou com uma tese sobre reformas da UE, estudou ainda em Oxford, Paris e no prestigiado Colégio da Europa. Fala fluentemente inglês, francês, italiano, russo e espanhol — tendo trabalhado como professor de inglês antes de iniciar carreira política.

Em 2000, participou no processo de adesão da Polónia à União Europeia e, em 2009, foi eleito eurodeputado. Em 2013, integrou o governo de Donald Tusk como ministro da Administração e depois vice-ministro dos Negócios Estrangeiros. Em 2017, foi eleito vice-presidente do Partido Popular Europeu. É presidente da câmara de Varsóvia desde 2018, tendo sido reeleito em 2024 — embora alguns críticos apontem uma falta de ação durante o mandato.

Trzaskowski é casado, tem dois filhos e tem-se destacado como defensor dos direitos das mulheres. Promete alterar a atual legislação quase totalitária contra o aborto, em vigor num país maioritariamente católico. No Dia Internacional da Mulher, em março, afirmou querer "acabar com esta lei medieval".

Propõe legalizar o aborto até às 12 semanas — uma promessa que a Coligação Cívica ainda não conseguiu concretizar no parlamento.

No que toca à comunidade LGBTQ+, outro tema fraturante na sociedade polaca, Trzaskowski tem defendido a criação de uniões civis para casais do mesmo sexo. O Tribunal Europeu dos Direitos Humanos já condenou a Polónia por se recusar a reconhecer esses relacionamentos. Em debate eleitoral, classificou como "completamente absurdo" que duas pessoas que passam a vida juntas "não possam visitar-se no hospital ou herdar uma da outra".

Ao assumir a presidência da câmara de Varsóvia, assinou uma "Declaração LGBT+" com medidas de proteção à comunidade, o que gerou protestos da direita nacionalista, que combate uma suposta “ideologia LGBT”.

No entanto, na tentativa de conquistar eleitores mais conservadores, foi recentemente fotografado a beber cerveja com Slawomir Mentzen, líder da extrema-direita.

Nas redes sociais, Trzaskowski já partilhou o gosto por livros antigos, revelou ter fumado marijuana em jovem ("mas raramente") e publica frequentemente fotos com o seu cão, um bulldog francês chamado Babel (“Bolha”).

*Com AFP