Este indicador é usado para ilustrar a vulnerabilidade do mundo a uma catástrofe oriunda das armas nucleares, alterações climáticas e tecnologias disruptivas em outros domínios.
Os autores do documento, publicado pelo Boletim dos Cientistas Atómicos (BCA), salientaram que a alteração da liderança política nos EUA em 2021 alimentou esperanças de que a corrida para a catástrofe pudesse ser interrompida.
Porém, esta mudança, só por si, foi “insuficiente para reverter as tendências negativas na segurança internacional”, que se alongaram e continuaram através do horizonte de ameaças em 2021.
Assim, as relações tensas dos EUA com a Rússia e a China estão a ter desenvolvimentos, designadamente, no domínio das armas, que “podem marcar o início de uma nova corrida às armas nucleares”.
Acresce “a imensa distância entre os compromissos para a redução a longo prazo das emissões de gases com efeito de estufa e as ações que estão a ser tomadas no curto e médio prazo.
Depois, a resposta mundial à pandemia do novo coronavírus permanece “inteiramente insuficiente”.
A este propósito, no documento apontou-se: “Os planos para uma rápida distribuição global de vacinas colapsaram, o que deixou os países pobres largamente por vacinar e permitiu que novas variantes do coronavírus ganhassem terreno”.
E, para mais, “além da pandemia, preocupantes lapsos na biossegurança e tornaram claro que a comunidade internacional precisa de dar uma atenção séria à gestão da investigação biológica à escala global”.
Ainda a este propósito, os autores realçam que “o estabelecimento e desenvolvimento de programas de armas biológicas marca o início de uma nova corrida às armas biológicas”.
Por outro lado, “apesar do novo governo do EUA ter restabelecido o papel da ciência e das provas na política pública, a corrupção do ecossistema de informação manteve-se em 2021”.
Considerando este ambiente de ameaças diversificado, em que alguns desenvolvimentos positivos tiveram por contrapartida tendências negativas, preocupantes e em intensificação, o BCA considerou que o mundo não está mais seguro do que em 2020, o que os levou a manter o ‘Doomsday Clock’ nos 100 segundo ara a a meia-noite.
Esta decisão, porém, não sugere, “de forma alguma” que a situação na segurança internacional estabilizou. “Pelo contrário”, afirmaram, de forma explícita.
“O Relógio permanece o mais próximo eu alguma esteve do apocalipse terminal da civilização, porque o mundo permanece em um momento extremamente perigoso. Em 2019, designámos esta situação como ‘o novo anormal’, o que infelizmente persiste”, alertaram.
Em termos gerais, descreveram a situação da seguinte forma: “No ano passado, apesar de esforços louváveis de alguns líderes e do público, as tendências negativas nas armas nucleares e biológicas, nas alterações climáticas e uma variedade de tecnologias disruptivas – exacerbadas por uma eco esfera de informação corrompida, que mina processos racionais de tomada de decisão – mantiveram o mundo à beira do apocalipse”.
Recuar deste abismo, na sua opinião, requer várias medidas, como que EUA e Federação Russa limitem as armas nucleares, que EUA e outros acelerem a descarbonização, que EUA e outros trabalhem na Organização Mundial de Saúde para reduzir os riscos biológicos de todo os tipos, que os EUA persuadam aliados e rivais assumirem o princípio de não serem os primeiros a usar a arma nuclear, que a Federação Russa regresse ao Conselho NATO-Rúsia, que os investidores troquem as aplicações em projetos de combustíveis fósseis por outros amigos do ambiente, que os cidadãos de todo o mundo questionem os seus políticos, a todos os níveis, sobre o que vão fazer para resolver as alterações climáticas.
O BCA foi fundado em 1945 por Albert Einstein e cientistas da Universidade de Chicago que ajudaram a desenvolver as primeiras armas atómicas, no Projeto Manhattan, e criou o ‘Doomsday Clock’ dois anos depois, usando a imagem do apocalipse (meia-noite) e o idioma contemporâneo da explosão nuclear (contagem para zero), para ilustrar a gravidade das ameaças para a humanidade e o planeta.
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