O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, e o presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, estarão presentes na cerimónia histórica, enquanto o papa Francisco optou por um congresso religioso na ilha da Córsega no dia 15. É a primeira viagem de Trump ao exterior desde a vitória eleitoral.

A reabertura da Notre-Dame, cujo telhado incendiou e desabou a 15 de abril de 2019, era um objetivo pessoal do presidente Emmanuel Macron, que está numa situação política difícil.

O governo espera a presença de cerca de 100 dignitários de todo o mundo.

A reabertura será marcada por um espetáculo musical, mais popular, e a cerimónia estritamente religiosa.

O maestro venezuelano Gustavo Dudamel e o pianista chinês Lang Lang estão entre os protagonistas do concerto de gala na noite de sábado, a partir das 20h05 (19h05 em Portugal continental).

No âmbito da música pop, a estrela franco-beninense Angélique Kidjo e o cantor canadiano Garou estarão entre os participantes.

No máximo 3.000 convidados poderão entrar na esplanada na frente da fachada da catedral, onde acontecerá o evento musical.

Em Portugal, o espetáculo poderá ser seguido na RTP2, a partir das 22h00.

Sinos da Notre Dame de Paris
Sinos da Notre Dame de Paris This photograph shows three new bells, including the bell used during the Paris Olympic Games, set to be placed into Paris' Notre-Dame cathedral on November 7, 2024, one month before it is due to reopen and five years after a devastating fire. During the Paris Olympic Games, track and field champions rang the bronze bell located close to the finish line at Saint-Denis' Stade de France. In December, that same bell will ring in the newly reopened Notre Dame Cathedral during the most sacred part of the Mass. (Photo by Thomas SAMSON / AFP) créditos: AFP or licensors

Cinco curiosidades históricas

Maurice de Sully, o primeiro construtor

Maurice de Sully sonhava em construir a maior catedral do mundo ocidental.

Um projeto ambicioso para um homem nascido camponês que se tornou bispo de Paris em 1160. Não vinha de uma família poderosa, mas tinha o apoio do rei Luís VII, o Piedoso, com quem havia estudado na escola da catedral de Paris.

O século XII foi uma época de expansão do cristianismo, enfraquecido por heresias e cismas. Maurice de Sully, um grande pregador, estava convencido da necessidade de exaltar o poder da Igreja.

De acordo com os seus planos, a catedral, construída depois de ele ter erguido quatro igrejas na Île de la Cité, deveria ser a maior e mais alta. Deveria ter torres e um pináculo coroado por um galo para despertar os cristãos adormecidos.

A tradição situa a colocação da primeira pedra em 1163. Maurice de Sully, que morreu em 1196, não viu a conclusão da obra, por volta de 1345.

Um armazém de vinhos

Durante a Revolução Francesa, a catedral tornou-se propriedade do Estado. Um Te Deum foi cantado em 25 de setembro de 1792 para celebrar a proclamação da República.

Com a abolição do culto católico em 1793, a Notre Dame tornou-se um “templo da razão”, com um altar dedicado à deusa Razão. As estátuas de reis e santos na fachada foram decapitadas ou destruídas em fragmentos que foram espalhados por toda Paris.

Em 1794, Robespierre aprovou a existência de um “Ser Supremo”, cujo culto não exigia edifícios religiosos. As celebrações eram realizadas ao ar livre.

Abandonada e dilapidada, a catedral acabou a transformar-se num depósito de vinhos para o Exército.

A Coroação de Napoleão

Napoleão escolheu Notre Dame para sua coroação como imperador. Foi o primeiro soberano francês a fazer isso. Antes dele, apenas Henrique VI de Inglaterra foi coroado rei de França dentro de seus muros, em 1431.

Para a coroação do imperador, a catedral foi rapidamente restaurada. As casas de vários vizinhos foram desapropriadas e demolidas para criar uma grande praça com arquibancadas.

O edifício foi pintado de branco com cal e decorado com tapeçarias repletas de emblemas do Império, que bloqueavam a entrada de luz natural.

Um trono imperial dominava o interior. O acesso era feito por uma escadaria com 24 degraus cobertos com carpete azul.

Um segundo trono foi preparado para o Papa Pio VII, praticamente relegado ao papel de testemunha da autocoroação de Napoleão.

A cerimónia, imortalizada pelo pintor David, durou três horas no frio congelante de 2 de dezembro de 1804.

Salva por um romance

Foi após a publicação do romance “Notre Dame de Paris”, de Victor Hugo, em 1831, que a opinião pública tomou conhecimento do estado de deterioração deste tesouro gótico.

Depois de muitas revoluções, saques e incêndios, o monumento ficou em ruínas e as autoridades chegaram a considerar a sua demolição.

“É difícil não suspirar, não se indignar com as degradações e mutilações que o tempo e os homens infligiram ao mesmo tempo a esse venerável monumento”, escreveu Victor Hugo.

No seu trabalho, Victor Hugo personifica a catedral como uma mulher de carne e pedra, despertando uma emoção coletiva.

O sucesso do romance levou à criação do Service des Monuments Historiques em 1834, que nomeou Eugène Viollet-le-Duc como o arquiteto responsável pela restauração.

O trabalho levou mais de 20 anos e restaurou a catedral à aparência que manteve até o incêndio de 2019.

Gárgulas e Quimeras

Enquanto as gárgulas das calhas de Notre Dame são medievais, as quimeras da balaustrada foram acrescentadas pelo arquiteto Eugène Viollet-le-Duc no século XIX.

Inspiradas nas caricaturas de Honoré Daumier, a coleção de criaturas fantásticas na forma de macacos, homens selvagens, dragões e pelicanos vigia Paris.

Um deles, o Estirge, um vampiro alado e chifrudo com a língua para fora, tornou-se um símbolo da cidade.

No auge da revolução industrial, Viollet-le-Duc usou técnicas medievais para construí-las, como fez com a torre que desapareceu no incêndio de 2019.

A 23 de junho, as quimeras e as gárgulas foram devolvidas ao seu lugar. Cinco delas tinham sido danificadas pelo fogo. A torre, por outro lado, foi reconstruída de forma idêntica.

700 milhões depois e após a tragédia de 2019, Notre Dame reabriu esta sexta-feira
700 milhões depois e após a tragédia de 2019, Notre Dame reabriu esta sexta-feira

Missa especial para latinos

Quando as chamas destruíram uma das maiores catedrais do Ocidente, que integra a lista de património mundial da Unesco, o sentimento de pesar foi mundial, mas a mobilização também foi grande.

As doações chegaram imediatamente e o resultado foi uma renovação minuciosa, que deixou imaculadamente brancas as paredes do templo, com mais de 800 anos, e recuperou a luminosidade dos vitrais em forma de rosácea.

Sob o teto de chumbo, onde o incêndio começou, Notre-Dame recuperou a sua "floresta", a estrutura de vigas e suportes de carvalho maciço cuja construção lendária aconteceu na Idade Média.

Centenas de artesãos e 250 empresas participaram nas obras, com um custo de quase 700 milhões de euros (770 milhões de dólares, 4,6 bilhões de reais).

O órgão, com três séculos de idade, foi desmontado e totalmente restaurado. Durante as últimas semanas, ajustes foram feitos para que se recuperasse seu timbre original.

Um dos grandes símbolos da catedral, a agulha de 93 metros que coroa o telhado, com um galo empoleirado na ponta, já pode ser contemplada há várias semanas, assim como os sinos, que voltaram a tocar a 8 de novembro.

A agulha é uma das contribuições do arquiteto Eugène Viollet-le-Duc, o grande renovador de Notre-Dame no século XIX, também autor das famosas quimeras em forma de monstros e animais fantásticos da fachada, que foram limpas e restauradas.

Todas as capelas do templo estão prontas para receber os visitantes, incluindo aquela em que foi consagrada em 1949 à Virgem de Guadalupe.

Uma missa especial para a comunidade latino-americana está programada para 12 de dezembro, dia da Virgem.

Além disso, os amantes da música clássica e religiosa em Paris poderão aproveitar um calendário de concertos excepcionais ao longo de dezembro.

Notre-Dame tem três coros e o sentimento é de impaciência, revelou à AFP Émilie Fleury, diretora dos grupos de crianças e jovens. "Isso marcará as suas vidas para sempre", declarou.

Mobiliário novo

A missa das 9h30  (8h30 em Portugal continental) de domingo será celebrada na presença de 170 bispos e dos padres das 106 paróquias de Paris.

Durante a tarde será celebrada a primeira missa para o público, e os esgotaram cedo.

A catedral gótica mais famosa do mundo recebia quase 12 milhões de visitantes por ano pouco antes do incêndio. A arquidiocese de Paris acredita que o número pode aumentar rapidamente.

A obra pública não foi apenas uma tarefa de restauração.

As autoridades eclesiásticas optaram por renovar totalmente elementos cruciais do mobiliário. As quase 1.500 cadeiras da nave são novas, assim como o relicário, uma criação ousada em forma de disco redondo dourado, e o vestuário dos oficiantes foram encomendados ao estilista Jean-Charles de Castelbajac.

Báculo, oitava e homilia: um pequeno glossário religioso para a reabertura de Notre-Dame

Missas e ofícios

No domingo, 8 de dezembro, serão celebradas duas missas: a primeira, chamada missa inaugural, ocorrerá às 10h30 (9h30 de Portugal continental) com a consagração do altar. Na presença do chefe de Estado, reunirá cerca de 170 bispos, além dos sacerdotes das 106 paróquias parisienses. O acesso será apenas por convite.

Às 18h30 (17h30 em Portugal continental), será celebrada a primeira missa aberta ao público, embora tenha sido necessário registar-se previamente através de uma aplicação.

No sábado, 7 de dezembro, por outro lado, para a primeira cerimónia de reabertura, será realizado um simples ofício, sem a celebração da Eucaristia (ou seja, sem comunhão).

Imaculada Conceição

A reabertura de Notre-Dame coincide com a festa da Imaculada Conceição, celebrada pela Igreja Católica no dia 8 de dezembro.

"Contrariamente à crença popular, este dogma não se refere à concepção virginal de Jesus por Maria, mas ao privilégio divino segundo o qual a Virgem Maria nasceu preservada do pecado original", explica a diocese de Paris.

Báculo

No início das cerimónias de sábado, 7 de dezembro, o arcebispo de Paris, Laurent Ulrich, baterá nas portas fechadas da catedral com seu báculo, um bastão que simboliza a sua missão pastoral, com uma extremidade curva em forma de voluta.

O coro de Notre-Dame responderá três vezes com o cântico do Salmo 121: "Que alegria quando me disseram: Vamos à casa do Senhor! Que alegria quando ouvi que me disseram: Vamos à casa do Senhor! E agora os nossos pés já se detêm, Jerusalém, nas tuas portas.”

À terceira vez, as portas abrir-se-ão.

Grande órgão

Após iniciar o ofício com o sinal da cruz, monsenhor Ulrich abençoará o instrumento e dirigir-se-á a ele em oito ocasiões, segundo um rito chamado "despertar do órgão". Cada vez, o órgão responderá.

Magnificat e Te Deum

Durante o ofício, suceder-se-ão um cântico, um salmo e o "Magnificat", um cântico de Maria encontrado no Novo Testamento.

No dia 14 de agosto de 1944, na noite da Libertação de Paris, o general de Gaulle assistiu a um "Magnificat" em Notre-Dame.

Depois, será rezado um Pai Nosso (a oração ensinada por Jesus aos seus discípulos, segundo a Bíblia), seguido da benção final e um "Tedeum" (hino de louvor cantado especialmente no final de grandes acontecimentos).

Água benta

No domingo, durante a missa inaugural às 10h30, o arcebispo de Paris abençoará a água com a qual aspergirá a assembleia. Posteriormente, aspergirá o altar e o púlpito chamado ambão, como sinal de purificação que marca o seu uso sagrado.

Homilia

É o comentário da Palavra de Deus realizado após as leituras bíblicas (que serão as mesmas em todas as igrejas católicas do mundo para este segundo domingo de Advento).

Relíquias

É a primeira das cinco etapas de consagração do altar: serão depositadas e seladas as relíquias de cinco santos ligados à Igreja de Paris (Maria Eugénia de Jesus, Magdalena Sofia Barat, Catarina Labouré, Carlos de Foucauld e Vladimir Ghika).

O rito principal dessa consagração será a oração de dedicação (que indica que a catedral está definitivamente destinada ao culto) e a unção com óleo. Depois haverá uma oferenda de incenso, e finalmente o altar será decorado e iluminado.

Oitava

Este termo designa o período de oito dias de reabertura, organizado de 8 a 15 de dezembro. Durante esses dias, será celebrada uma missa às 10h30 (presidida pelo arcebispo de Paris), seguida às 17h45 pelas vésperas e às 18h30 por uma segunda missa.

*Com AFP