O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, e o presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, estarão presentes na cerimónia histórica, enquanto o papa Francisco optou por um congresso religioso na ilha da Córsega no dia 15. É a primeira viagem de Trump ao exterior desde a vitória eleitoral.
A reabertura da Notre-Dame, cujo telhado incendiou e desabou a 15 de abril de 2019, era um objetivo pessoal do presidente Emmanuel Macron, que está numa situação política difícil.
O governo espera a presença de cerca de 100 dignitários de todo o mundo.
A reabertura será marcada por um espetáculo musical, mais popular, e a cerimónia estritamente religiosa.
O maestro venezuelano Gustavo Dudamel e o pianista chinês Lang Lang estão entre os protagonistas do concerto de gala na noite de sábado, a partir das 20h05 (19h05 em Portugal continental).
No âmbito da música pop, a estrela franco-beninense Angélique Kidjo e o cantor canadiano Garou estarão entre os participantes.
No máximo 3.000 convidados poderão entrar na esplanada na frente da fachada da catedral, onde acontecerá o evento musical.
Em Portugal, o espetáculo poderá ser seguido na RTP2, a partir das 22h00.
Cinco curiosidades históricas
Maurice de Sully, o primeiro construtor
Maurice de Sully sonhava em construir a maior catedral do mundo ocidental.
Um projeto ambicioso para um homem nascido camponês que se tornou bispo de Paris em 1160. Não vinha de uma família poderosa, mas tinha o apoio do rei Luís VII, o Piedoso, com quem havia estudado na escola da catedral de Paris.
O século XII foi uma época de expansão do cristianismo, enfraquecido por heresias e cismas. Maurice de Sully, um grande pregador, estava convencido da necessidade de exaltar o poder da Igreja.
De acordo com os seus planos, a catedral, construída depois de ele ter erguido quatro igrejas na Île de la Cité, deveria ser a maior e mais alta. Deveria ter torres e um pináculo coroado por um galo para despertar os cristãos adormecidos.
A tradição situa a colocação da primeira pedra em 1163. Maurice de Sully, que morreu em 1196, não viu a conclusão da obra, por volta de 1345.
Um armazém de vinhos
Durante a Revolução Francesa, a catedral tornou-se propriedade do Estado. Um Te Deum foi cantado em 25 de setembro de 1792 para celebrar a proclamação da República.
Com a abolição do culto católico em 1793, a Notre Dame tornou-se um “templo da razão”, com um altar dedicado à deusa Razão. As estátuas de reis e santos na fachada foram decapitadas ou destruídas em fragmentos que foram espalhados por toda Paris.
Em 1794, Robespierre aprovou a existência de um “Ser Supremo”, cujo culto não exigia edifícios religiosos. As celebrações eram realizadas ao ar livre.
Abandonada e dilapidada, a catedral acabou a transformar-se num depósito de vinhos para o Exército.
A Coroação de Napoleão
Napoleão escolheu Notre Dame para sua coroação como imperador. Foi o primeiro soberano francês a fazer isso. Antes dele, apenas Henrique VI de Inglaterra foi coroado rei de França dentro de seus muros, em 1431.
Para a coroação do imperador, a catedral foi rapidamente restaurada. As casas de vários vizinhos foram desapropriadas e demolidas para criar uma grande praça com arquibancadas.
O edifício foi pintado de branco com cal e decorado com tapeçarias repletas de emblemas do Império, que bloqueavam a entrada de luz natural.
Um trono imperial dominava o interior. O acesso era feito por uma escadaria com 24 degraus cobertos com carpete azul.
Um segundo trono foi preparado para o Papa Pio VII, praticamente relegado ao papel de testemunha da autocoroação de Napoleão.
A cerimónia, imortalizada pelo pintor David, durou três horas no frio congelante de 2 de dezembro de 1804.
Salva por um romance
Foi após a publicação do romance “Notre Dame de Paris”, de Victor Hugo, em 1831, que a opinião pública tomou conhecimento do estado de deterioração deste tesouro gótico.
Depois de muitas revoluções, saques e incêndios, o monumento ficou em ruínas e as autoridades chegaram a considerar a sua demolição.
“É difícil não suspirar, não se indignar com as degradações e mutilações que o tempo e os homens infligiram ao mesmo tempo a esse venerável monumento”, escreveu Victor Hugo.
No seu trabalho, Victor Hugo personifica a catedral como uma mulher de carne e pedra, despertando uma emoção coletiva.
O sucesso do romance levou à criação do Service des Monuments Historiques em 1834, que nomeou Eugène Viollet-le-Duc como o arquiteto responsável pela restauração.
O trabalho levou mais de 20 anos e restaurou a catedral à aparência que manteve até o incêndio de 2019.
Gárgulas e Quimeras
Enquanto as gárgulas das calhas de Notre Dame são medievais, as quimeras da balaustrada foram acrescentadas pelo arquiteto Eugène Viollet-le-Duc no século XIX.
Inspiradas nas caricaturas de Honoré Daumier, a coleção de criaturas fantásticas na forma de macacos, homens selvagens, dragões e pelicanos vigia Paris.
Um deles, o Estirge, um vampiro alado e chifrudo com a língua para fora, tornou-se um símbolo da cidade.
No auge da revolução industrial, Viollet-le-Duc usou técnicas medievais para construí-las, como fez com a torre que desapareceu no incêndio de 2019.
A 23 de junho, as quimeras e as gárgulas foram devolvidas ao seu lugar. Cinco delas tinham sido danificadas pelo fogo. A torre, por outro lado, foi reconstruída de forma idêntica.
Missa especial para latinos
Quando as chamas destruíram uma das maiores catedrais do Ocidente, que integra a lista de património mundial da Unesco, o sentimento de pesar foi mundial, mas a mobilização também foi grande.
As doações chegaram imediatamente e o resultado foi uma renovação minuciosa, que deixou imaculadamente brancas as paredes do templo, com mais de 800 anos, e recuperou a luminosidade dos vitrais em forma de rosácea.
Sob o teto de chumbo, onde o incêndio começou, Notre-Dame recuperou a sua "floresta", a estrutura de vigas e suportes de carvalho maciço cuja construção lendária aconteceu na Idade Média.
Centenas de artesãos e 250 empresas participaram nas obras, com um custo de quase 700 milhões de euros (770 milhões de dólares, 4,6 bilhões de reais).
O órgão, com três séculos de idade, foi desmontado e totalmente restaurado. Durante as últimas semanas, ajustes foram feitos para que se recuperasse seu timbre original.
Um dos grandes símbolos da catedral, a agulha de 93 metros que coroa o telhado, com um galo empoleirado na ponta, já pode ser contemplada há várias semanas, assim como os sinos, que voltaram a tocar a 8 de novembro.
A agulha é uma das contribuições do arquiteto Eugène Viollet-le-Duc, o grande renovador de Notre-Dame no século XIX, também autor das famosas quimeras em forma de monstros e animais fantásticos da fachada, que foram limpas e restauradas.
Todas as capelas do templo estão prontas para receber os visitantes, incluindo aquela em que foi consagrada em 1949 à Virgem de Guadalupe.
Uma missa especial para a comunidade latino-americana está programada para 12 de dezembro, dia da Virgem.
Além disso, os amantes da música clássica e religiosa em Paris poderão aproveitar um calendário de concertos excepcionais ao longo de dezembro.
Notre-Dame tem três coros e o sentimento é de impaciência, revelou à AFP Émilie Fleury, diretora dos grupos de crianças e jovens. "Isso marcará as suas vidas para sempre", declarou.
Mobiliário novo
A missa das 9h30 (8h30 em Portugal continental) de domingo será celebrada na presença de 170 bispos e dos padres das 106 paróquias de Paris.
Durante a tarde será celebrada a primeira missa para o público, e os esgotaram cedo.
A catedral gótica mais famosa do mundo recebia quase 12 milhões de visitantes por ano pouco antes do incêndio. A arquidiocese de Paris acredita que o número pode aumentar rapidamente.
A obra pública não foi apenas uma tarefa de restauração.
As autoridades eclesiásticas optaram por renovar totalmente elementos cruciais do mobiliário. As quase 1.500 cadeiras da nave são novas, assim como o relicário, uma criação ousada em forma de disco redondo dourado, e o vestuário dos oficiantes foram encomendados ao estilista Jean-Charles de Castelbajac.
Báculo, oitava e homilia: um pequeno glossário religioso para a reabertura de Notre-Dame
Missas e ofícios
No domingo, 8 de dezembro, serão celebradas duas missas: a primeira, chamada missa inaugural, ocorrerá às 10h30 (9h30 de Portugal continental) com a consagração do altar. Na presença do chefe de Estado, reunirá cerca de 170 bispos, além dos sacerdotes das 106 paróquias parisienses. O acesso será apenas por convite.
Às 18h30 (17h30 em Portugal continental), será celebrada a primeira missa aberta ao público, embora tenha sido necessário registar-se previamente através de uma aplicação.
No sábado, 7 de dezembro, por outro lado, para a primeira cerimónia de reabertura, será realizado um simples ofício, sem a celebração da Eucaristia (ou seja, sem comunhão).
Imaculada Conceição
A reabertura de Notre-Dame coincide com a festa da Imaculada Conceição, celebrada pela Igreja Católica no dia 8 de dezembro.
"Contrariamente à crença popular, este dogma não se refere à concepção virginal de Jesus por Maria, mas ao privilégio divino segundo o qual a Virgem Maria nasceu preservada do pecado original", explica a diocese de Paris.
Báculo
No início das cerimónias de sábado, 7 de dezembro, o arcebispo de Paris, Laurent Ulrich, baterá nas portas fechadas da catedral com seu báculo, um bastão que simboliza a sua missão pastoral, com uma extremidade curva em forma de voluta.
O coro de Notre-Dame responderá três vezes com o cântico do Salmo 121: "Que alegria quando me disseram: Vamos à casa do Senhor! Que alegria quando ouvi que me disseram: Vamos à casa do Senhor! E agora os nossos pés já se detêm, Jerusalém, nas tuas portas.”
À terceira vez, as portas abrir-se-ão.
Grande órgão
Após iniciar o ofício com o sinal da cruz, monsenhor Ulrich abençoará o instrumento e dirigir-se-á a ele em oito ocasiões, segundo um rito chamado "despertar do órgão". Cada vez, o órgão responderá.
Magnificat e Te Deum
Durante o ofício, suceder-se-ão um cântico, um salmo e o "Magnificat", um cântico de Maria encontrado no Novo Testamento.
No dia 14 de agosto de 1944, na noite da Libertação de Paris, o general de Gaulle assistiu a um "Magnificat" em Notre-Dame.
Depois, será rezado um Pai Nosso (a oração ensinada por Jesus aos seus discípulos, segundo a Bíblia), seguido da benção final e um "Tedeum" (hino de louvor cantado especialmente no final de grandes acontecimentos).
Água benta
No domingo, durante a missa inaugural às 10h30, o arcebispo de Paris abençoará a água com a qual aspergirá a assembleia. Posteriormente, aspergirá o altar e o púlpito chamado ambão, como sinal de purificação que marca o seu uso sagrado.
Homilia
É o comentário da Palavra de Deus realizado após as leituras bíblicas (que serão as mesmas em todas as igrejas católicas do mundo para este segundo domingo de Advento).
Relíquias
É a primeira das cinco etapas de consagração do altar: serão depositadas e seladas as relíquias de cinco santos ligados à Igreja de Paris (Maria Eugénia de Jesus, Magdalena Sofia Barat, Catarina Labouré, Carlos de Foucauld e Vladimir Ghika).
O rito principal dessa consagração será a oração de dedicação (que indica que a catedral está definitivamente destinada ao culto) e a unção com óleo. Depois haverá uma oferenda de incenso, e finalmente o altar será decorado e iluminado.
Oitava
Este termo designa o período de oito dias de reabertura, organizado de 8 a 15 de dezembro. Durante esses dias, será celebrada uma missa às 10h30 (presidida pelo arcebispo de Paris), seguida às 17h45 pelas vésperas e às 18h30 por uma segunda missa.
*Com AFP
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