Domingo começou cedo para os voluntários da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), sendo que muitos dormiram juntamente com os peregrinos no Campo da Graça, mas seria no final do dia o momento mais íntimo com o Papa Francisco, quando este se deslocou ao Passeio Marítimo de Algés para um encontro com quem ajudou a colocar o evento de pé.

Se no sábado no Parque Tejo a confusão foi grande, a entrada para o Passeio Marítimo de Algés foi bastante mais fácil, e pouco a pouco durante a tarde lá os voluntários foram ocupando os seus setores. Em outros momentos da JMJ a mancha de diferentes cores de vários países era impressionante, aqui viu-se principalmente uma enorme mancha de pessoas vestidas de amarelo e sobretudo portugueses vindos de todos os cantos do país.

No Parque Tejo existiram várias falhas que o SAPO24 reportou, como casas de banho sem água e torneiras de abastecimento avariadas. Em Algés, os voluntários que andaram toda a semana a ajudar peregrinos não tinham água nos setores, estando esta apenas disponível na entrada do recinto, onde havia múltiplas torneiras disponíveis.

Apesar da falta de água, em Algés havia múltiplos pontos de alimentação e, na entrada, os voluntários tinham uma sombra onde podiam comer, algo que foi raro noutros recintos da JMJ.

Enquanto se esperava pelo Santo Padre, a energia não foi diferente de outros dias, e até parecia que se amanhã começasse outra JMJ estes mesmos voluntários marcariam presença. Disseram-no bem alto quando perguntaram do palco -"Estão cansados?" - e todos responderam que não.

Entre os camisolas amarelas distribuídos pelos diferentes setores, utilizavam-se todo o tipo de técnicas para evitar os 38ºC que se fizeram sentir: mantas térmicas, cobertores, sacos-cama, chapéus de chuva e de sol, lenços, echarpes, chapéus molhados, bandeiras de vários países, lenços de papel na cara que faziam lembrar um fantasma, entre todo o tipo de técnicas.

Um pouco por todo o recinto, viram-se pessoas a sucumbir ao calor e a sentir-se mal, que eram rapidamente ajudadas pelas forças de segurança e pelos bombeiros. O reconhecimento dos voluntários às forças de segurança e aos bombeiros era tanto, que sempre que passava algum responsável da PSP ou dos bombeiros estes eram aplaudidos, e mesmo aquando da saída do recinto, no fim da cerimónia, quase todos paravam para agradecer o trabalho dos polícias ao mesmo tempo que batiam palmas.

Entre os voluntários que esperavam o Papa, encontrámos Marta e Elzbieta, escuteiras da Polónia, de 21 e 20 anos respetivamente, que vieram acompanhar de um grupo de 200 voluntários na JMJ.

Eram o grupo com a maior bandeira do Passeio Marítimo de Algés, que era impossível não se ver do palco. Ao SAPO24, contaram que esta foi a primeira JMJ em que participaram e que é muito especial que o Papa venha de propósito falar aos voluntários.

Sobre os momentos mais complicados durante a Jornada, destacam: "O tempo foi péssimo, esteve sempre muito calor e não estamos habituados a isso na Polónia, mas mesmo ontem quando estávamos no Parque Tejo e houve uma espécie de tempestade de areia e lama provocada pelo vento, os escuteiros começaram todos a dançar e salvámos o ambiente a todos".

Levam da experiência algumas coisas complicadas que aconteceram mas, "apesar de alguns momentos menos bons, acabou por correr tudo bem e estamos muito felizes por termos participado pela primeira vez na JMJ".

Mesmo em frente estavam os colegas do Zimbabué, com uma indumentária típica africana que trouxeram para mostrar ao Papa.

Para a maioria do grupo, esta não é a primeira vez na JMJ. O porta-voz, Bosua, de 29 anos, participa pela quinta vez.

Sobre o mais difícil de ser voluntário, destaca que "o pior foi quando trabalhei no palco-altar e passou o Papa, todos queriam passar por cima dos voluntários, mas com a graça de Deus conseguimos. Ofendemos algumas pessoas para as afastar, mas estávamos a fazer o nosso trabalho".

Sobre o calor sentido durante o dia de hoje e em outros eventos, conta que "em África as pessoas dizem que está sempre muito calor, mas no Zimbabué este tempo não existe, aqui está muito pior".

Quanto ao ambiente da equipa de voluntários, diz que apesar das diferentes línguas "todos nos entendemos e ainda aprendemos mais idiomas. Esta é minha segunda melhor JMJ, gostei mais do Brasil porque era maior ainda, mas para quem já foi a cinco está é logo a segunda preferida. A Jornada está cada vez maior e melhor sempre que acontece".

Um pouco mais longe do palco encontramos Miriam, de Timor, e Fátima, de Moçambique, que não eram jovens, mas trabalharam desde o início como voluntárias numa paróquia em Barcarena, Oeiras.

Miriam contou-nos que já tinha visto o Papa ontem no Parque Tejo de muito perto, mas que não podia perder a oportunidade de o ver mais perto ainda. Para o grupo, ser voluntário na JMJ foi "cansativo, mas deu muitos frutos".

Para Miriam "o maior presente de todos foi ver o Papa". Já Fátima disse-nos que "é muito especial ter esta oportunidade, porque ontem no Parque Tejo nem todos os voluntários viram o Santo Padre de perto, e por isso este era um momento imperdível".

Mesmo antes de passar o Papa, ainda falámos com Huong, uma voluntária do Vietname que viajou sozinha para a Jornada e já está em Portugal há duas semanas.

Sobre ser voluntária, destaca sobretudo "uma enorme experiência e um sentido de serviço. Tivemos muito trabalho, mas ajudámo-nos sempre mutualmente e isso é o mais importante".

Sublinhou ainda que já tinha visto o Papa na JMJ, "mas este era o evento que mais esperava e estar mesmo virada para a passagem do papamóvel ia ser especial, porque o Santo Padre ia ver a bandeira do Vietname".

Voluntária Vietnamita - JMJ
Voluntária Vietnamita créditos: 24

O Papa, esse, chegaria momentos depois, por volta das 16h00, entre salvas de palmas e vivas e por uma última vez, com milhares de pessoas a gritar: "Esta é a juventude do Papa! Esta é a juventude do Papa!".

Na altura da chegada, todos foram obrigados a recolher aos respetivos setores, incluindo jornalistas, enquanto se via por uma última vez o papamóvel a passar em território português.

Geração JMJ2023

Depois de chegar ao palco, o Santo Padre ouviu a partilha da experiência de alguns voluntários e falou o Cardeal Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, que não deixou de agradecer ao "voluntário número um, Américo Aguiar”.

Destacou ainda que terminava agora "um programa repleto de momentos inolvidáveis", e frisou o "entusiasmo contagiante" dos voluntários que lhes permitiu “vencer os desafios” desta JMJ. Estes voluntários são a “geração JMJ2023”, sublinhou.

“A generosidade dos voluntários” é uma “profecia do mundo a construir”, rematou.

Depois disto, foi a vez do Santo Padre que, num discurso novamente cheio de referências a Portugal, voltou a dizer em português "Queridos amigos, bom dia". Passou, de seguida, aos agradecimentos aos voluntários que "tornaram possível estes dias inesquecíveis. Trabalharam durante vários meses, de forma escondida, sem barulho e sem protagonismos, para que todos pudéssemos estar aqui a cantar juntos: ‘Jesus vive e não nos deixa sós: não mais deixaremos de amar'".

Explicou depois os gestos que mais marcaram a JMJ, como "a garrafa de água oferecida a um desconhecido", que criam amizades.

E seguiu com um exemplo bem português: “Como sabem muitos de vós, e soube também eu, existe a norte de Lisboa uma localidade, a Nazaré, onde se podem admirar ondas que chegam até aos trinta metros de altura, tornando-se uma atração mundial, especialmente para os surfistas que as desafiam”, começa por dizer.

"Continuai assim, continuai a cavalgar as ondas da caridade, sejam ‘surfistas do amor’! É como uma tarefa que vos encomendo"

“Nestes dias, também vós enfrentastes uma verdadeira onda, não de água, mas de jovens que afluíram a esta cidade. Mas, com a ajuda de Deus, com tanta generosidade e apoiando-vos mutuamente, conseguistes cavalgar esta onda grande”, disse enquanto todos aplaudiam.

Acrescentou ainda: “Continuai assim, continuai a cavalgar as ondas da caridade, sejam ‘surfistas do amor’! É como uma tarefa que vos encomendo neste momento. Que o serviço que fizeram na JMJ seja a primeira de tantas ondas boas; cada vez sereis levados mais alto, mais perto de Deus, e isto permitir-vos-á ver duma perspetiva melhor o vosso caminho”.

Antes de sair do palco, pediu ainda aos presentes para que continuem a rezar por si: “Bom caminho! E, por favor, continuai a rezar por mim”.