"Vencedor, e agora?", dizia a manchete do jornal Kurier, referindo-se ao facto de ninguém querer aliar-se a este político de 55 anos, considerado muito radical, com uma agenda antiliberal e antieuropeia, e que se opõe às sanções contra a Rússia.
Será que sofrerá o mesmo destino de Geert Wilders nos Países Baixos, que teve que desistir das suas ambições como primeiro-ministro, ou do partido francês Reagrupamento Nacional (RN), marginalizado pela frente republicana?
"Os tempos mudam", sublinhou Wilders após o anúncio dos resultados, citando onze países europeus onde os nacionalistas estão em ascensão.
Na Hungria, o líder Viktor Orban saudou esta "nova vitória dos patriotas". Em Itália, o líder do partido de extrema direita Liga Norte, Matteo Salvini, falou de um "dia histórico para a mudança", enquanto em França a líder de extrema direita Marine Le Pen celebrou uma "maré crescente".
Ao obter 28,8% dos votos, superando os conservadores, Kickl conseguiu um resultado ainda melhor que os seus antecessores, Jörg Haider e Heinz Christian Strache.
Mas desta vez não houve grandes manifestações. "Nós esperávamos isto. Não estamos chocados, nem felizes", disse Isabella, uma mulher vienense de cerca de 50 anos, que não quis revelar o sobrenome.
Atmosfera revolucionária
A atmosfera é "revolucionária", escreveu o jornal Kronen Zeitung, o tabloide mais influente do país. Mas "o jogo de poquer que começa será difícil, longo e turbulento", explicou.
As negociações para formar um governo costumam durar em média 62 dias neste país, que atingiu um recorde de 124 dias em 1999-2000.
A bola está agora nas mãos do presidente da Áustria, Alexander van der Bellen, procedente dos ambientalistas.
"A tradição diz que o mandato deve ser dado ao partido que chegou primeiro", lembra Andreas Eisl, investigador do instituto Jacques Delors.
Sem esconder as suas reservas a Kickl, alertou que o governo deve ter o apoio de uma maioria de 92 deputados, e não pôr em causa nem os fundamentos da democracia, nem os compromissos do país no exterior.
Confiar negociações ao FPÖ seria simbolicamente significativo. Seria a primeira vez desde 1945 para este partido fundado por ex-nazis e liderado por um homem que quer ser chamado de Volkskanzler, o "chanceler do povo", como Hitler.
Mas o chefe de Estado também tem o poder de confiar a tarefa aos conservadores do ÖVP (26,3%), apesar de terem registado a pior derrota da sua história.
"É um verdadeiro desafio", comentou Eisl. Se o presidente decidir entregar o mandato aos conservadores, isso daria origem à narrativa promovida por Kickl, que já reclama de uma "negação da democracia".
Nesse caso, o chanceler em fim de mandato, Karl Nehammer, tomaria as rédeas e analisaria a possibilidade de chegar a um acordo com o FPÖ, como em 2000 e 2017.
Os escândalos recorrentes tornaram os conservadores cautelosos e, ao contrário do seu mentor Haider em 2000, Kickl não parece ter qualquer intenção de se retirar, segundo o especialista.
Pelo contrário, aposta numa "coligação tripartida" com os sociais-democratas do SPÖ (21,1%) e o pequeno partido liberal Neos (9,2%), uma fórmula inédita.
"Entre o ÖVP e o SPÖ, as diferenças são grandes", sublinhou Johannes Reiter, um aposentado de 74 anos. "Terão que encontrar um terreno comum, mas no fim chegarão lá", acredita.
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