À hora marcada, pelas 19:00, os comerciantes de Feces de Abaixo, na Galiza, Espanha, com o apoio dos vizinhos de Verín, pegaram na faixa com a frase em galego ‘Apertura da Fronteira Xá’ e encaminharam-se para a fronteira entre Portugal e Espanha, cortando o trânsito nos dois sentidos durante cerca de 40 minutos.
Estes empresários raianos têm exigido a reabertura da fronteira, encerrada pela segunda vez desde 31 de janeiro devido à pandemia de covid-19 e realizaram pela segunda sexta-feira consecutiva este protesto, que teve pela primeira vez a participação de comerciantes de Chaves, no distrito de Vila Real.
Chaves e Verín, localidades separadas por 28 quilómetros, formam mesmo desde 2008 uma eurocidade, um projeto de cooperação transfronteiriço que envolve a partilha de um cartão de cidadão que dá acesso a piscinas, bibliotecas, eventos, formações ou concursos, bem como uma agenda cultural e mais recentemente transportes.
No entanto, os comerciantes raianos não se chegaram a encontrar na manifestação de hoje, pois os portugueses, em menor número, ficaram junto ao Ponto de Passagem Autorizado (PPA) em Vila Verde da Raia, enquanto os galegos avançaram pelo controlo espanhol até ao limite da fronteira, a ponte por cima do rio Tâmega que delimita os dois países.
Puri Regueiro, proprietária de um supermercado em Feces de Abaixo, foi uma das cerca de 100 pessoas presentes do lado espanhol. A segurar a faixa e com um microfone na mão pediu a reabertura da fronteira.
A galega explicou que 90% dos clientes são habitualmente portugueses e que todos estes meses de fronteira fechada estão a causar “impactos económicos elevados”.
“Este é mais um dia de luta. Somos lutadores e esperam-nos pela frente mais dias, mas vamos continuar”, garantiu.
Na ponte que marca a fronteira entre os dois países houve depois um ‘encontro diplomático’ entre o presidente da Câmara de Chaves, Nuno Vaz, e da Câmara de Verín, Gerardo Seoane, que em nome da eurocidade têm solicitado a reabertura da fronteira aos cidadãos das duas localidades.
“Muitos comércios de Feces de Abaixo, Verín e Chaves funcionam com residentes dos espaços da eurocidade e estes têm vivido momentos difíceis”, apontou Nuno Vaz.
O autarca flaviense reforçou o pedido endereçado aos governos dos dois países para que os eurocidadãos possam “ter um estatuto diferente e circular entre as duas localidades desde que os critérios de saúde devido à pandemia estejam salvaguardados”.
Também Gerardo Seoane apontou “a particularidade de uma raia que durante 800 anos não tem existido”.
“Podemos estudar se a fronteira já existiu mais à frente ou atrás, mas na prática nunca foi real, e as relações pessoais e comerciais assim o dizem. Há outras formas de limitar as zonas de segurança sem repor fronteiras”, salientou.
No lado português, Helena Teixeira, proprietária de uma recauchutagem em Chaves, que tem diversos clientes espanhóis, marcou presença na fronteira “para mostrar a indignação”.
“Estivemos em menor número mas saímos daqui satisfeitos e vamos continuar a aparecer às sextas-feiras até termos uma resposta. Esperamos que os nossos governantes olhem por nós e pela nossa saúde financeira”, destacou.
Também presente na manifestação, o presidente da Associação Empresarial do Alto Tâmega (ACISAT), Vítor Pimental, salientou que há comércios em Chaves, como lojas de retalho ou restaurantes, em que 50% dos clientes são espanhóis.
“Neste momento atravessa-se muitas dificuldades e, perante os números baixos de covid-19, não representa riscos acrescidos abrir as fronteiras”, apontou.
Na quarta-feira o primeiro-ministro afastou o levantamento para breve das restrições de circulação nas fronteiras terrestres entre Portugal e Espanha, alegando que essa decisão será tomada apenas quando os dois países concluírem estarem reunidas as condições de segurança.
“O Governo procede a uma revisão quinzenal da situação. Portanto, para já, as fronteiras vão manter-se fechadas no espírito de boa colaboração que temos mantido com Espanha”, declarou António Costa.
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