À saída da reunião de pouco mais de uma hora com Augusto Santos Silva, o coordenador da Comissão, Pedro Strecht, disse que o encontro já estava agendado “há bastante tempo” e faz parte de uma decisão de contactos com várias entidades institucionais, tendo em janeiro passado já reunido com o Presidente da República e está a aguardar um encontro com o primeiro-ministro.
“Viemos dar conta dos trabalhos e prestar esclarecimentos sobre algumas dúvidas” que pudessem existir, declarou aos jornalistas, acrescentando que foi feito “um grande pedido de ajudar institucional à sociedade civil - e a Assembleia da República (AR) é uma casa que expressa isso muito bem - para que as pessoas possam continuar a colaborar” com a comissão.
“O parlamento pode ajudar porque os deputados são eleitos pelas pessoas e nós queremos mesmo chegar às pessoas. Não estamos centrados nos números, não estamos centrados em aspetos quantitativos, eles existem, como é óbvio, estamos realmente centrados naqueles que passaram por estas circunstâncias enquanto crianças e mantemos uma preocupação importante de até agora termos conseguido chegar a muita gente e isso é ótimo”, afirmou Pedro Strecht.
No entanto, ressalvou, “ainda há muitas pessoas que dizem respeito a alguma realidade mais do interior, das zonas eventualmente mais pobres e carenciadas, que não têm tão facilmente falado destas questões”.
Pedro Strecht lembrou que os deputados estão eleitos por vários círculos, representam as suas populações e junto delas é importante continuar a divulgar esta mensagem, até porque o tempo urge e o prazo para a conclusão dos trabalhos termina em dezembro.
O presidente da comissão sublinhou que “quem pediu o trabalho à comissão Independente foi a Conferência Episcopal Portuguesa, que engloba os 21 bispos diocesanos, o cardeal-patriarca, e é do interesse da igreja católica que todas as situações sejam apuradas, nomeadamente aquelas que aconteceram no passado, para prevenir e para que o futuro possa obviamente correr melhor em todas estas circunstâncias que dizem respeito ao bem-estar das crianças e adolescentes”.
O mesmo responsável afirmou que o desígnio da comissão é que no futuro deixem de existir situações de abuso e a atuação seja mais preventiva.
O Ministério Público abriu 10 inquéritos a partir das 17 denúncias anónimas reportadas pela Comissão Independente (CI) para o Estudo de Abusos Sexuais contra Crianças na Igreja Católica em Portugal, divulgou hoje a Procuradoria-Geral da República (PGR).
"Foram instaurados 10 inquéritos, sendo que um deles concentra seis das participações e outros dois (inquéritos), duas (participações) cada um", respondeu a PGR à agência Lusa, referindo que estão a ser tratados pelo Gabinete da Família, da Criança e do Jovem, da PGR. Entre os dois inquéritos que concentram duas denúncias cada, um deles foi arquivado e outro continua em investigação.
A CI sublinhou ainda que se mantém atenta aos testemunhos recebidos, referindo que o último balanço foi feito a 10 de julho, indicando terem sido validados 352 inquéritos e encaminhado 17 casos para o MP.
Sobre os casos arquivados, Strecht observou que muitos casos “dizem respeito a crimes que estão prescritos e também porque muitas das vezes as vítimas preferem o anonimato, e mesmo tendo hipótese de avançar com outro mecanismos do ponto de vista legal, preferem não o fazer”.
“Preferem sobretudo, e isso tem sido muito marcante no nosso estudo, e já foi dito pela Igreja, esperar o pedido de desculpa, o pedido de perdão e a efetivação desse pedido por parte da igreja católica portuguesa”.
Pedro Strecht disse ainda que as denúncias, testemunhos ou depoimentos “reportam sempre a um número de vitimas muito maior porque em cada depoimento, em muitos casos, são referidas muito mais vítimas”, mas que isso serão dados que serão divulgados só mesmo no final dos trabalhos.
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