António Costa falava momentos antes da entrega do Prémio Camões 2021 a Paulina Chiziane no antigo Picadeiro Real, em Belém, na presença do presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, e dos ministros dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, e da Cultura, Pedro Adão e Silva.
Nas suas primeiras palavras, o líder do executivo começou por assinalar que a entrega deste prémio ocorre pela primeira vez no Dia Mundial da Língua Portuguesa.
“De Camões, retemos o exemplo como criador de uma nova língua portuguesa e da sua universalidade. Em vez de uma visão estática da língua, Camões revela a possibilidade de expandir os limites dessa língua. O que torna a língua portuguesa universal é a multiplicidade de formas de utilização e de expressão de todos os que a falam, que a escrevem ou cantam”, sustentou o primeiro-ministro.
António Costa lembrou depois que Paulina Chiziane pertence à geração de escritores moçambicanos que emergiram a seguir à independência.
“Lembramos que há 50 anos em nenhum dos nossos dois países, Portugal ou Moçambique, era possível falar ou escrever em liberdade. Portugal vivia em ditadura e Moçambique e os demais países africanos de expressão portuguesa viviam sob o jugo do colonialismo — duas opressões gémeas que mobilizaram um combate comum antifascista e anticolonialista”, apontou.
Esse combate, segundo António Costa, “triunfou na libertação conjunta da ditadura e do colonialismo”.
“Foi nesta liberdade partilhada que nos reencontrámos, que nos reencontramos e que seguimos. Paulina Chiziane faz parte dessa geração que viu na literatura um lugar de emancipação pessoal e coletiva e cuja criação literária corresponde a uma necessidade profunda de interpretar e representar a cultura do seu povo. Pioneira a vários títulos, foi a primeira mulher a publicar um romance em Moçambique e é agora a primeira mulher moçambicana e nega distinguida com o prémio Camões. Saúdo o júri por esta justa escolha”, acrescentou.
Na sua intervenção, António Costa defendeu que o Dia Mundial da Língua Portuguesa “deve ser sentido, verdadeiramente, como celebração e valorização da comunidade dos países e dos povos que a falam, que, antes de ser uma realidade política, era já uma realidade afetiva”.
“Uma língua que não se restringe às formalidades e às decisões dos governos. Mas uma língua que os povos seus falantes usam para comunicar. E ainda que a falem com múltiplas variantes ou sotaques diversos, a falar se entendem. O português é, hoje, a língua de várias pátrias, uma língua que navega e se recria em cada porto, permitindo conhecermo-nos melhor na diversidade das nossas múltiplas identidades nacionais, mas também sentirmo-nos menos estrangeiros na casa de cada um”.
Para António Costa, em suma, está “e uma feliz ocasião para entregar a Paulina Chiziane o Prémio Camões, ele próprio um símbolo maior de uma grande comunidade linguística”.
Em relação à obra de Paulina Chiziane, o líder do executivo português destacou os livros que “retratam experiências e realidades muito particulares da sociedade moçambicana”.
“Através deles ficamos a saber as diferenças culturais entre o Norte e o Sul, os traumas da guerra civil, as tradições ancestrais, os dilemas do povo moçambicano, os seus modos, as suas aspirações. Como toda a grande literatura, eles permitem aos seus leitores aceder a mundos que lhes são distantes, mas que, ao mesmo tempo, têm uma dimensão universal”, assinalou António Costa.
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