“A situação é crítica”, resume Rami al-Abadelah, médico e diretor do serviço de infeções no Ministério da Saúde do governo do Hamas, movimento islâmico palestiniano que controla Gaza.

O aparecimento no início de março da variante identificada no Reino Unido — mais contagiosa que anteriores estirpes — no território densamente povoado favoreceu a transmissão entre os mais jovens e uma explosão do número de infeções.

Gaza, com dois milhões de habitantes, registou a semana passada um recorde de 23 mortos num único dia, de um total de cerca de 830 desde o início da pandemia.

O número total de 100.000 infeções deve ser ultrapassado esta semana, mas apenas 3.200 testes são realizados diariamente, revelando uma taxa de positividade de 36%, uma das mais elevadas no mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde.

“Oficialmente são cerca de 1.000 casos por dia, mas provavelmente são 5.000 ou mais porque as pessoas não vão ao hospital e não nos ligam para dizer que têm sintomas. Estas pessoas contaminadas passeiam-se nos mercados, entram em contacto com outras pessoas e o vírus propaga-se”, explica Abadelah, citado pela agência France Presse.

“Além disso, os hospitais estão em péssimo estado”, adianta.

O Hospital Europeu na cidade de Khan Younis, o principal centro de tratamento para doentes covid, está a ficar sem recursos. Segundo o seu diretor, Yousef al-Aqqad, 118 das 150 camas estão ocupadas por doentes em estado grave.

O Hospital Shifa, o maior de Gaza, tem 100 camas para doentes covid, incluindo 12 de cuidados intensivos. Foram adiadas algumas cirurgias e encerrado o serviço de ambulatório.

O Ministério da Saúde disse que quase toda a Faixa de Gaza foi designada de “zona vermelha” devido à alta transmissão do coronavírus na comunidade.

Face aos contágios, o governo do Hamas impôs um recolher obrigatório a partir das 19:00 para tentar impedir as famílias de se reunirem após o pôr-do-sol para a refeição de quebra do jejum do Ramadão, que está a decorrer.

A grave escassez de vacinas representa outro desafio.

“Recebemos 110.000 doses, mas precisamos de mais 2,6 milhões”, estima Abadelah.

Israel, cuja campanha de vacinação é considerada um sucesso a nível mundial, tem sido muito criticado por se recusar a aceitar a responsabilidade pela imunização dos palestinianos, o que lhe compete como potência ocupante, segundo várias organizações de direitos humanos.