“Os dados estão indicando que estamos dentro de uma segunda onda (…) Estamos numa segunda onda e se não houver medidas [das autoridades] esta onda irá crescer” disse Alves em entrevista à Lusa.
O especialista explicou que o Brasil regista uma tendência sustentada de alta no número das infeções e lembrou que a taxa de reprodução (Rt) da covid-19, usada para calcular quantas pessoas são contaminadas por alguém infetado, tem subido desde outubro.
“Em 06 de outubro quatro estados do Brasil tinham uma taxa de infeção (Rt) maior do que 1. No dia 27 de outubro passaram a ser 15 estados e no dia 16 de novembro eram 21 estados. Destes 21 estados, 16 deles tinham esta taxa de infeção acima de 01 há mais de 14 dias”, frisou.
Quando o índice está acima de 1, a previsão é de aumento de casos já que cada infetado contamina pelo menos mais uma pessoa.
Um consórcio formado pelos principais ‘media’ do país alertou que a média móvel de mortes no Brasil provocadas pela covid-19 nos últimos 7 registou uma variação positiva superior 50% em comparação à média de 14 dias atrás. Em número de casos, a variação da média móvel indicava uma alta superior a 77% em duas semanas.
Segundo o analista da USP, a alta não surpreendeu porque as autoridades brasileiras estão realizando menos testes para confirmar casos e mortes provocadas pelo novo coronavírus, facto prejudicou a deteção dos focos de contágio e incentivou um relaxamento da população em relação às medidas de prevenção.
“Existe uma diminuição constante no número de testes sendo feitos. Tanto do número de testes [para detetar] os casos como [os testes] para o número de óbitos por dia. Este teste vem diminuindo em torno de 10% a 20% por mês”, afirmou Alves.
Dados do Ministério da Saúde brasileiro divulgados pelo portal G1 indicaram que o total diário de testes RT-PCR, que identifica o RNA do vírus para confirmar a covid-19, que foram realizados no país recuou de 34.443 em agosto para 31.492 em setembro. Em outubro foram realizados 28.664 testes deste tipo.
Além da alta na subnotificação, o especialista apontou que o país substituiu gradualmente o uso de testes mais precisos como o RT-PCR por testes rápidos que têm uma taxa de acerto menor.
Alves também ponderou que o cenário no Brasil é diferente do de Portugal, onde houve uma clara diminuição de casos de covid-19 após a primeira onda. Alves frisou que esta queda foi sustentada por alguns meses antes de ocorrer um aumento das infeções no final do verão.
“Nós nunca saímos totalmente da primeira onda (…) Aqui no Brasil nunca houve esta diminuição [de casos] sustentada. Nossos gráficos são muito mais parecidos com os dos Estados Unidos”, frisou o professor da USP.
Em São Paulo, maior cidade do país, um grupo de infetologistas escreveu uma carta que foi publicada pelo jornal Folha de S. Paulo com um alerta sobre um aumento expressivo de internações e notificações de casos de covid-19 nos hospitais da cidade.
Numa conferência de imprensa, o prefeito de câmara de São Paulo, Bruno Covas, contrariou o especialista da USP e o grupo de médicos afirmando que “não há segunda onda na cidade” e que “há uma estabilidade na pandemia”.
No Rio de Janeiro, as alas de cuidados intensivo reservadas para pacientes infetados pelo novo coronavírus nas redes hospitalares chegaram a atingir uma taxa de ocupação superior a 90%.
O prefeito ‘carioca’, Marcelo Crivella, negou numa entrevista à CNN Brasil que a cidade está numa segunda onda da pandemia de covid-19, disse não acreditar que isto vai acontecer e chegou a dizer que “o Rio de Janeiro é um local seguro para as pessoas virem no próximo verão”, que no hemisfério sul começa em dezembro.
Já o Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, que se opõe a qualquer restrição à atividade económica, chegou a minimizar o risco de uma segunda vaga.
Embora as autoridades neguem, o último Boletim InfoGripe, realizado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), instituição ligada ao Governo central do país, observou que pelo menos quinze estados apresentam um crescimento de casos das doenças respiratórias, que incluem a covid-19, num levantamento encerrado em 16 de novembro.
O Brasil é um dos países mais afetados pela pandemia de covid-19, registou mais de 168 mil óbitos e 6 milhões de infetados.
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