Num debate de urgência pedido pelo partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN) sobre os problemas sociais com a imigração em Odemira, João Dias, do PCP lembrou à deputada do PSD Filipa Roseta que o seu partido esteve no Governo e que também teve responsabilidades sobre a situação, que se arrasta há muitos anos.

Foi o momento mais sonoro do debate, em que Filipa Roseta disse e repetiu, quatro, cinco, seis vezes seguidas, “não tem”, antes de o deputado João Dias ter também responsabilizado o executivo socialista pelo que está a passar-se, com a situação de centenas de imigrantes a viver em casa sobrelotadas, o que levou as autoridades a colocar um grupo em estabelecimentos turísticos.

O ataque do PSD, por Filipa Roseta, logo na abertura do debate, foi contra o Governo, por já se saber “há mais de dois anos” das “graves violações aos direitos humanos em Odemira”.

E criticou o executivo socialista por ter recusados as propostas do PSD, feitas em janeiro de 2020, para reforçar os serviços públicos, como na segurança social, dar mais ordenamento urbano à região, que desde 2018 viu “a população crescer exponencialmente”.

Concluindo, o Governo e câmara de Odemira, ambos do PS, demitiram-se das suas responsabilidades, disse.

O PS pôs dois deputados, Pedro do Carmo e Telma Guerreiro, a defender as opções do Governo, por “agir rapidamente”.

Pedro do Carmo fez, porém, um “mea culpa”, mas coletivo, ao dizer: “É errado dizer que ninguém fez nada, quando ninguém somos todos nós. Não por não termos feito nada, mas por não termos feito tudo o que podíamos.”

De resto, os ataques, à direita e à esquerda, seguiram-se ao longo de quase uma hora de debate.

Dos Verdes, José Luís Ferreira lembrou a responsabilidade dos executivos PSD/CDS, mas também do PS, nos últimos seis anos, e criticou a resolução do Conselho de Ministros que permitiu as habitações em contentores e os “campos de refugiados para trabalhadores agrícolas no Alentejo, citando a arquiteta e ex-deputada do PS Helena Roseta, num artigo de jornal de 2019.

Beatriz Gomes Dias, do Bloco de Esquerda, afirmou que o país “parecer que andava distraído com o problema dos imigrantes” no Alentejo, acusando os empresários de quererem “ganhar muito à custa da exploração dos trabalhadores, que muitas vezes nem recebem o seu salário”.

À direita, André Ventura, do Chega, criticou o Governo do PS por ter autorizado, há dois anos, 300 contentores como habitação em Odemira, “com a cumplicidade dos seus parceiros de esquerda”.

Se o Governo está preocupado, “e bem”, disse, com os imigrantes que “vêm do Nepal, da Índia e do Afeganistão”, também deveria preocupar-se com as populações, “quem nasceu na nossa terra”.

Pelo CDS, Telmo Correia, pediu menos “partidarite” a tratar este assunto, criticou o “ataque à propriedade privada”, num referência à requisição do empreendimento ZMar, e a “ofensa aos direitos humanos” da situação dos trabalhadores agrícolas, que “fazem muita falta”.

E criticou a decisão do Governo de extinguir o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), num momento em que o país precisa de “rigor e humanidade” neste dossiê e não “fronteiras abertas”.

Duas freguesias do concelho de Odemira (São Teotónio e Longueira/Almograve) estão, desde 30 de abril, em cerca sanitária por causa da elevada incidência de covid-19 entre os imigrantes que trabalham na agricultura e que vivem em condições precárias.