O crescimento do número de casos de infeção pelo novo coronavírus SARS-CoV-2, que provoca a doença covid-19, quando os portugueses retomarem a atividade em maio “é algo que tem que estar nas nossas mentes porque basicamente a dinâmica da infeção depende de vários fatores”, disse à agência Lusa o coordenador da Unidade de Investigação Epidemiológica do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA).
“Um deles é a quantidade de indivíduos que ainda podem ser infetados, ou seja, que não têm anticorpos, que não estão protegidos contra a doença e pelo número de casos que temos da população temos uma perceção de que este número ainda é muito grande”, afirmou o epidemiologista.
Outro fator está associado ao número de contactos que as pessoas têm. “Se nesta abertura da sociedade gradual for possível manter um distanciamento social que seja compatível com alguma atividade económica, este número de contactos há de ser diminuto, e não há de ser igual àquele que nós tínhamos antes do dia 16 de março quando ainda não estávamos despertos para a situação”, salientou Baltazar Nunes.
Além do distanciamento social, se forem mantidas outras medidas de controlo de infeção, como lavagem das mãos e o uso de máscara em contextos mais fechados “é possível conter a disseminação a um ponto que não se torna igual ao início, mas que não haja crescimento total vai ser difícil que isso aconteça”, adiantou.
Baltazar Nunes defendeu que “o ideal” é que esse crescimento seja lento para permitir que o SNS possa continuar a conseguir tratar novos doentes.
Para o investigador, é preciso evitar que haja “uma disrupção do Serviço Nacional de Saúde”, mas também que se ganhe em termos epidemiológicos alguma imunidade da população.
“Indivíduos abaixo dos 70 anos ou indivíduos sem comorbilidades, em que a maior parte deles apresenta sintomatologia muito leve e alguns até assintomáticos, seria importante que houvesse algum ganho de imunidade na população sem que isso entrasse em descontrolo e que levasse a que os outros grupos da população fossem atingidos e a epidemia ficasse mais descontrolada”, defendeu.
Por isso, salientou, “a ideia é tentar manter efetivamente algum cuidado e alguma contenção durante o processo de abertura” da atividade no país.
Sobre o comportamento da curva epidemiológica, disse que tem estado estável. “Se tem diminuído, tem diminuído muito lentamente”.
Teve um crescimento exponencial numa primeira fase, até 16 de março, em que foram introduzidas “as medidas de saúde pública mais restritivas”.
A partir dessa data, quando as escolas fecharam - apesar de algumas já o terem feito e algumas empresas terem colocado os funcionários em teletrabalho, e depois do dia 22 de março, quando foi declarado o estado de emergência, esse crescimento que estava exponencial começou a diminuir.
“A percentagem de novos casos que surgia em cada dia começou a ser muito menor” e desde essa altura “a curva tem estado estável”, notou.
Aparentemente, por vezes, está a decrescer, mas depois quando surgem “alguns surtos de maior dimensão” como aconteceu num ‘hostel’, em Lisboa, ou em lares, acontece um aumento, mas que pode estar associado a circunstâncias específicas de surtos localizados.
“Mas isso não pode significar que temos uma disseminação na população a uma velocidade muito maior. Por isso, por vezes, é complicado perceber por uma curva epidémica que é nacional a dinâmica depois da infeção local ou regional”, sublinhou. Baltazar Nunes.
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