A posição da SPP, divulgada hoje em comunicado, surge depois de notícias recentes que apontam para um efeito protetor da nicotina contra o novo coronavírus, que provoca a doença covid-19. A SPP não só nega que haja essa relação como se manifesta preocupada com o impacto da covid-19 sobre os dois milhões de portugueses consumidores de tabaco.
Na semana passada investigadores em França anunciaram que estavam a investigar a hipótese de a nicotina pode ter um efeito protetor contra a covid-19, uma hipótese apoiada pelo baixo número de fumadores entre os doentes hospitalizados. Um dos investigadores é Jean-Pierre Changeaux, do Instituto Pasteur.
Ouvido na altura pela Lusa o pneumologista Filipe Froes salientou que até hoje “nenhum estudo demonstrou a eficácia do tabaco em qualquer infeção respiratória”, e alertou que nesta fase de tentativa de conhecimento sobre a covid-19 “há estudos que não seguem metodologias corretas e que tiram conclusões precipitadas”.
Agora, no comunicado, a SPP alerta que o tabagismo está associado a várias patologias crónicas, como doenças respiratórias, cardiovasculares, diabetes e cancro, e que doentes com estes problemas têm maior risco de doença grave por covid-19, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Direção-Geral da Saúde (DGS).
“Além disso, o tabagismo tem um efeito nocivo para o sistema imunitário, tornando os fumadores mais vulneráveis às infeções, incluindo possivelmente o novo coronavírus”, alerta-se no comunicado.
A SPP fala ainda de outra “questão preocupante”, que é o contacto mão-boca realizado repetidamente pelo fumador, que é uma forma de infeção, como também é forma de infeção a partilha de tabaco e seus produtos.
“Apesar dos estudos serem escassos até à data, já há evidência (prova) científica que mostra que os fumadores têm maior risco de progressão para doença grave, maior risco de internamento em Unidade de Cuidados Intensivos com necessidade de ventilação mecânica e maior risco de morte, em comparação com os não fumadores”, frisa a SPP no comunicado.
No mesmo documento diz-se que Jean-Pierre Changeaux teve no passado ligação à indústria tabaqueira e que o estudo que leva à defesa da nicotina como agente protetor da covid-19 teve limitações que comprometem as conclusões retiradas. Além de que não se pode esquecer que “ser fumador e efeito protetor de nicotina são conceitos diferentes”.
No comunicado a SPP diz que reforça a posição defendida pelo pneumologista Filipe Froes à Lusa e conclui que a recomendação que deixa é “a cessação tabágica imediata, sendo que esta recomendação abrange igualmente os utilizadores de cigarro eletrónico e tabaco aquecido”.
A pandemia de covid-19 já provocou mais de 206 mil mortes no mundo e infetou quase três milhões. Em Portugal, morreram 928 pessoas das 24.027 confirmadas como infetadas, segundo a DGS.
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