O anúncio da descoberta foi feito num comunicado do Institute for Basic Science (IBS) da Coreia do Sul, tendo a investigação sido divulgada no passado dia 12 na revista científica Science Immunology.
Uma equipa de investigadores liderada pelo professor Shin Eui-Cheol, do Korea Virus Research Institute Center for Viral Immunology, que integra o IBS, revelou que “as células T (linfócitos T) de memória que se formam após uma infeção pela Ómicron respondem a estirpes subsequentes do vírus”.
De acordo com os cientistas, depois de ser infetado ou vacinado, o corpo cria anticorpos neutralizantes e células T de memória contra o vírus. O anticorpo neutralizante serve para evitar que as células hospedeiras sejam infetadas pelo vírus e as células T de memória, embora não possam prevenir a infeção, podem procurar e destruir rapidamente as células infetadas, evitando que a infeção viral progrida para uma doença grave.
Quatro anos desde o início da pandemia de covid-19 não foram suficientes para erradicar o SARS-CoV-2, surgindo continuamente novas variantes do coronavírus. As infeções são comuns, apesar dos extensos programas de vacinação, adianta o comunicado.
A Ómicron emergiu no final de 2021 e aumentou significativamente a transmissibilidade do vírus, em comparação com as variantes que a precederam, o que “permitiu que se tornasse a estirpe dominante em 2022”.
Desde então surgiram subvariantes da Ómicron, como as BA.1 e BA.2, as BA.4/BA.5, BQ., XBB e, mais recentemente, a JN.1.
O objetivo do trabalho agora divulgado era “descobrir as mudanças que ocorrem no sistema imunológico (…) após sofrer uma infeção pós-vacinação” e os investigadores centraram-se nas células T de memória que se formaram após a infeção pela Ómicron, dado que os estudos anteriores sobre esta variante se focaram principalmente na eficácia da vacina ou nos anticorpos neutralizantes e que a investigação relacionada com aquelas células era “comparativamente escassa”.
A equipa selecionou pacientes que recuperaram de uma infeção pela estirpe BA.2 da Ómicron no início de 2022 e estudou as “suas células T de memória, especificamente a sua capacidade para responder a outras variantes de Ómicron, como a BA.2, BA.4/ BA/5 e outras”.
Para tal, os investigadores separaram células imunológicas do sangue periférico dos indivíduos e mediram a produção de citocinas (proteínas segregada por células) e as atividades antivirais das células T de memória em resposta a “proteínas da espícula” (picos à superfície do vírus) de diferentes variantes.
“Os resultados da análise mostraram que as células T de memória daqueles sujeitos tiveram uma resposta reforçada contra não só a subvariante BA.2, mas também contra as BA.4 e BA.5 da Ómicron”. Com a infeção, o sistema imunitário dos pacientes foi fortalecido para combater futuras estirpes do mesmo vírus.
Os cientistas também descobriram a parte concreta da proteína que o corpo produz no processo de desenvolvimento da imunidade desencadeado pelas vacinas de mRNA (ácido ribonucleico mensageiro) e que é a principal causa do melhoramento observado nas células T de memória.
Segundo a equipa, “estes resultados mostram ser improvável que uma pessoa infetada pela Ómicron sofra alguma vez sintomas graves da covid-19 devido às futuras variantes”.
“Esta descoberta dá-nos novas perspetivas na recente era da Covid endémica”, afirmou a principal investigadora do estudo Jung Min-Kyung, citada no comunicado.
Adiantou que “se pode entender que, em resposta ao surgimento constante de novas variantes, os corpos também se adaptaram para combater as futuras estirpes do vírus”.
Shin Eui-Cheol considera que a “nova descoberta também pode ser utilizada no desenvolvimento de vacinas”, explicando que “ao procurar características comuns entre a atual estirpe dominante e novas variantes do vírus, pode haver maiores probabilidades de induzir as defesas de células T de memória contra as variantes subsequentes.”
A 30 de agosto de 2023, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA, na sigla inglesa) recomendou a autorização de uma vacina adaptada à subvariante XBB.1.5 da estirpe Ómicron do SARS-CoV-2.
Conhecida como Comirnaty Omicron XBB.1.5, a vacina destinava-se a ser utilizada na prevenção da covid-19 em adultos e crianças a partir dos seis meses de idade.
Cerca de duas semanas antes, o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC) tinha classificado linhagens recombinantes da Ómicron como variantes de interesse, alertando para o aumento da propagação e da transmissão da covid-19 na Europa.
A covid-19 é uma doença respiratória causada pelo SARS-CoV-2, um tipo de vírus detetado em finais de 2019 na China e que se disseminou rapidamente pelo mundo, assumindo várias variantes e subvariantes, umas mais contagiosas do que outras.
A doença foi classificada como pandemia a 11 de março de 2020 e, em maio de 2023, deixou de ser uma considerada uma emergência de saúde pública internacional.
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