O projeto de investigação CREATOUR (Desenvolver Destinos de Turismo Criativo em Cidades de Pequena Dimensão e em Áreas Rurais) arrancou em novembro de 2016 e ajudou a implementar e dinamizar 40 projetos-piloto nas regiões do Algarve, Centro, Alentejo e Norte, em que se olha para os recursos endógenos e saberes locais como forma de oferecer uma vertente de turismo capaz de promover o desenvolvimento local e chamar a atenção para os recursos culturais de cada sítio, explicou à agência Lusa a coordenadora da iniciativa, Nancy Duxbury.
Com uma abordagem teórico-prática, o projeto de investigação do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra tem 40 iniciativas a decorrer um pouco por todo o país, nomeadamente em zonas rurais e concelhos do interior de Portugal (apesar de alguns projetos serem desenvolvidos em pequenas cidades do litoral).
Os cuscos de Bragança, o barro negro de Vilar de Nantes, os caretos da Terra Quente transmontana, o artesanato de junco de Esposende, o burro mirandês, um festival numa quinta biológica na Serra da Estrela, oficinas de arte contemporânea na Beira Alta, a produção de mosaico romano na Serra de Sicó ou técnicas de pesca tradicionais em Vila Real de Santo António são algumas das propostas e recursos culturais explorados pelo CREATOUR.
Vinte dos projetos arrancaram em 2017 e os restantes em 2018, sendo que alguns já existiam, apesar de ainda estarem num estado embrionário quando foram integrados no projeto de investigação, explanou.
O projeto, vinca Nancy Duxbury, pretende distinguir-se daquilo a que normalmente se apelida de turismo de experiência, tendo um foco especial "no processo criativo e na capacidade do visitante engajar na atividade não apenas na perspetiva de aprendizagem, mas também como uma forma potencial de autoexpressão".
A escolha de pequenas cidades e zonas rurais, explica, está ligada a várias razões: a existência de organizações e indivíduos a viverem e trabalharem em pequenos locais que poderão estar interessados no desenvolvimento destas atividades; a riqueza da herança cultural dessas pequenas localidades e o facto de Lisboa e Porto já serem muito visitados e ser necessário diversificar a atenção dos turistas para outros locais do país.
Para a investigadora, o turismo criativo pode trazer várias vantagens para pequenas cidades ou povoamentos rurais, ao atrair os visitantes e envolvê-los com o espaço de uma maneira mais "significativa e criativa".
Estas opções podem permitir atrair visitantes que de outra forma não iriam, assim como mantê-los por um período mais longo naqueles locais.
O turismo criativo, frisa, pode ainda criar uma fonte de rendimento adicional para artistas e artesãos locais e afirmar-se como uma plataforma para novas ideias de negócio, ao mesmo tempo que permite chamar a atenção para os ativos culturais e tradicionais presentes naquele território, ao revitalizá-los e trazê-los para a contemporaneidade.
Antes do projeto arrancar, Nancy Duxbury encontrou, acima de tudo, uma oferta que passava pela interpretação, apresentação e exposição para venda dos trabalhos dos artesãos e artistas locais.
"Apesar de isto ser bem feito e importante, estava interessada em algo mais ativo e com mais opções de engajamento", notou.
O projeto acaba também por ser uma forma de se criar uma rede entre diferentes destinos que procuram entrar nesta abordagem ao setor do turismo, realça.
"O turismo criativo tem o potencial de atrair visitantes a espaços que, de outra forma, não visitariam ou em que não ficariam por muito tempo, porque aqui são, acima de tudo, atraídos para participar numa atividade criativa", sublinha a investigadora.
Apesar de ainda ser demasiado cedo para prever impactos a longo prazo em cada uma das comunidades envolvidas, a investigadora acredita que o turismo criativo poderá gerar "novas ideias e pensamento renovado sobre os recursos embutidos nestes locais. Por natureza, as atividades individuais são de pequena escala, mas um fluxo regular dessas atividades pode ser uma semente para processos de desenvolvimento mais abrangentes".
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