O Vaticano confirmou esta manhã o nome de D. José Ornelas como bispo da Diocese de Leiria-Fátima.

"O Santo Padre aceitou a renúncia à pastoral da Diocese de Leiria-Fátima (Portugal) apresentada por Sua Eminência o Cardeal António Augusto dos Santos Marto", pode ler-se na nota divulgada.

"O Santo Padre nomeou Bispo da Diocese de Leiria-Fátima (Portugal) SE Dom José Ornelas Carvalho, SCI, transferindo-o da Diocese de Setúbal", é assim confirmado.

D. António Marto já dirigiu uma mensagem de saudação ao novo bispo da Diocese de Leiria-Fátima, utilizando as palavras do livro do Eclesiastes como mote para este novo passo na Diocese: "Na vida, há um momento para tudo e um tempo para cada coisa debaixo do céu".

"O Senhor D. José Ornelas traz consigo uma riqueza enorme e única para imprimir um novo impulso à renovação pastoral da Diocese e do Santuário de Fátima”, afirma, acrescentando que este “é um bispo com ‘o cheiro das ovelhas’, de uma relação próxima e afável com o povo fiel de Deus, leigos, padres e membros da vida consagrada, aberto ao diálogo ecuménico e inter-religioso como também aos não crentes”.

Quanto ao futuro de D. António Marto, este manifesta a intenção de continuar perto dos seus diocesanos, a quem agradece todo o carinho ao longo dos anos. Além disso, "a sua crescente e cada vez mais forte ligação a Fátima fazem com que aquele santuário seja um dos seus destinos de eleição para a fase da vida que se segue", lê-se numa nota divulgada no site da Diocese.

Também o reitor do Santuário de Fátima reagiu à nomeação, agradecendo ainda a “solicitude pastoral” do cardeal D. António Marto.

“Neste momento, quero agradecer ao senhor cardeal D. António Marto toda a dedicação que teve para com o Santuário de Fátima e para com os seus peregrinos. Não tenho dúvidas de que ficará no coração dos peregrinos de Fátima, quer pela sua proximidade, quer pela profundidade da sua reflexão sobre Fátima e a sua Mensagem quer, ainda, pela sua solicitude pastoral”, afirma o padre Carlos Cabecinhas, numa nota partilhada pelo Santuário.

“Dou também as boas-vindas ao senhor D. José Ornelas Carvalho, que assume agora esta nova missão”, continua o reitor, sublinhando o conhecimento que o novo prelado já tem da instituição: “porque já presidiu aqui a celebrações, já colaborou com o Santuário, já veio muitas vezes a Fátima, mas sobretudo porque presidia e preside ao Conselho Nacional da Conferência Episcopal para o Santuário de Fátima”, é ainda referido.

“No início do novo ministério que lhe é confiado, o Santuário deseja-lhe as maiores felicidades e assegura-lhe a oração dos peregrinos para que o Senhor o acompanhe no novo ministério, com as bênçãos da mãe do Céu”, conclui o reitor.

D. José Ornelas entra na Diocese de Leiria-Fátima a 13 de março, numa celebração a que presidirá na Sé de Leiria, no dia em que, no Santuário, se faz memória das Aparições de Nossa Senhora aos Pastorinhos, na Cova da Iria. Até lá, D. António Marto exerce funções de administrador apostólico.

O novo bispo de Leiria-Fátima deixou já uma mensagem, após a nomeação ter sido oficializada pela Santa Sé.

"Nesta hora em que, pela voz do Papa Francisco, a Igreja me chama a deixar a Diocese de Setúbal, que sirvo, como bispo, há pouco mais de seis anos, para prestar idêntico serviço episcopal à Igreja de Deus em Leiria-Fátima, quero exprimir uma saudação amiga aos membros destas duas Igrejas, esperando ter ocasião de fazer chegar a cada uma delas, de forma mais pessoal, a expressão da minha gratidão, estima e esperança", começou por dizer.

Quanto ao futuro de Setúbal, D. José Ornelas frisa que, após a tomada de posse em Leiria-Fátima, "o Colégio de Consultores da Diocese de Setúbal elegerá um novo Administrador Diocesano, o qual assumirá, com o apoio do próprio Colégio, o governo da Diocese, até que chegue o novo Bispo".

Garantindo que leva Setúbal "bem no coração", o bispo afirma que "se é verdade que a partida comporta tristeza e saudade, não [vai] triste".

"Não me considero indispensável ou insubstituível, e muito menos com direito ao que quer que seja. Aprendi que a Igreja – pessoas e vidas – é para amar, cuidar e servir o melhor que se puder e souber, à imagem do Bom Pastor; não para possuir, dominar ou pôr ao seu serviço", aponta.

Na sua mensagem, D. José Ornelas nota também a sua ligação a Fátima desde que assumiu funções na Diocese que agora deixa. "Quando comecei o meu ministério episcopal em Setúbal, percorri a Diocese com a imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima que aqui estava de visita. Ela foi a minha primeira guia na missão que Deus me confiava", conta.

"Agora, peço-lhe que me acompanhe nesta nova missão em Leiria-Fátima. Que ela nos ensine a todos a sermos uma Igreja modelada na sua atitude de Mãe carinhosa, atenta à Palavra de Deus. Aprendamos a ser uma Igreja cuidadora de todos, especialmente dos mais pequenos e frágeis como ela fez com os pastorinhos, aos quais se revelou, consolou, fortaleceu e deu esperança, para vencerem inúmeras dificuldades, como a pandemia, a doença, a guerra e a própria morte", remata.

Quem é D. José Ornelas?

José Ornelas Carvalho, de 68 anos, nasceu no Porto da Cruz, na ilha da Madeira, tendo sido ordenado padre em 9 de agosto de 1981. Foi ordenado bispo em 25 de outubro de 2015, em Setúbal.

Pertence à Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos), tendo passado dois anos nas missões da Congregação em Moçambique (1974-1976), regressando, em seguida, a Lisboa, onde concluiu a Licenciatura em Teologia, na Universidade Católica Portuguesa (1979).

José Ornelas especializou-se em Ciências Bíblicas, em Roma e Jerusalém, concluindo com a Licenciatura Canónica no Pontifício Instituto Bíblico de Roma e obteve o grau de doutor em Teologia Bíblica pela Universidade Católica Portuguesa em 1997.

Na sua Congregação, foi formador no Seminário de Alfragide, em paralelo com a atividade docente e assumiu outros cargos no âmbito da Província Portuguesa dos Dehonianos, da qual se tornou Superior Provincial em 1 de julho de 2000. No Capítulo Geral da Congregação, foi eleito Superior Geral dos Dehonianos a 27 de maio de 2003, cargo que ocupou até 6 de junho de 2015.

A 16 de junho de 2020, sendo então Bispo de Setúbal, foi eleito como presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) para o triénio 2020/2023, sucedendo no cargo a D. Manuel Clemente, Cardeal Patriarca de Lisboa.

Na altura, em declarações à Ecclesia, em Fátima, pouco depois da eleição, disse ser importante que os bispos, “que sabem que por trás de cada um está uma Igreja", sejam "o primeiro sinal de união da Igreja em Portugal" e garantiu que “sobre os temas fundamentais na vida da Igreja não há divisão na CEP absolutamente nenhuma”.

Desde o início do seu cargo na CEP que D. José Ornelas se manifestou quanto à questão dos abusos sexuais na Igreja, garantindo que "é uma situação que com a qual não há possibilidade de [a Igreja] pactuar".

"Gostaria muito de dizer que vamos cortar e acabar. Não o garanto, porque isso ninguém pode garantir", disse, dias depois de ocupar o lugar.

Mais recentemente, em dezembro, na apresentação da Comissão Independente para o Estudo de Abusos Sexuais na Igreja Católica Portuguesa em curso, D. José Ornelas reivindicou a importância de se trilhar “um caminho de verdade, sem preconceitos nem encobrimentos” para a Igreja Católica portuguesa, reforçando o interesse da Igreja em apurar a verdade, mas evitando traçar expectativas sobre as descobertas e conclusões da comissão, a quem garantiu que terá meios de trabalho.

“Temos muita pena e custa-nos muito tratar estas coisas [abusos sexuais], como qualquer família que tratasse de um problema destes, mas não temos medo e temos todo o interesse em esclarecer tudo isto”, afirmou José Ornelas.

Uma posição sobre as contas do Santuário de Fátima, como presidente da CEP

Em outubro de 2020, D. José Ornelas presidiu à peregrinação aniversária das aparições de Nossa Senhora aos três Pastorinhos, em Fátima. Nessa ocasião, comentou a questão das contas do Santuário.

Em conferência de imprensa, o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa referiu na altura que "não falta vontade" para divulgar publicamente as contas do Santuário de Fátima.

Segundo D. José Ornelas seria preciso "criar as condições necessárias para que isso se faça como deve ser", considerando que há um ponto delicado, que tem que ver com a Concordata (tratado que regula as relações entre o Estado e a Santa Sé).

"No Santuário, há uma vertente que vem dos dons voluntários e isso tem um regime específico tutelado na lei portuguesa. Quando o Santuário tem dormidas, tem outras coisas, isso já entra noutra contabilidade. Essa dupla valência exige uma clarificação que no estatuto legal não está devidamente esclarecida", referiu.

Para D. José Ornelas, a Igreja não está "a fazer tempo", antes a tentar esclarecer junto com o Estado uma forma de encontrar "meios adequados para resolver esta questão", salientando que, apesar de não serem públicas, as contas do Santuário são auditadas "pelas melhores empresas de controlo".

Recorde-se que, já em 2017 o reitor do Santuário de Fátima, Pe. Carlos Cabecinhas, afirmava à agência Lusa que a não divulgação das contas da instituição devia-se à existência de interpretações diferentes em relação à Concordata no âmbito tributário.

A divulgação do resumo das contas do Santuário de Fátima aos peregrinos foi iniciativa do bispo emérito da Diocese de Leiria-Fátima, Serafim Ferreira e Silva, e começou no ano 2000, com informação relativa ao ano anterior.

A apresentação foi interrompida em 2006, depois da apresentação dos dados financeiros da instituição aos peregrinos que se encontravam no recinto do santuário a 13 de julho.

A passagem pela Cova da Iria em tempos de pandemia, para reforçar que "estamos no mesmo barco"

Na mesma ocasião, na noite de 12 de outubro, na procissão das velas, D. José Ornelas evocou os tempos de pandemia vividos — naquela que era a primeira peregrinação com a presença de peregrinos no recinto do Santuário de Fátima.

O então bispo de Setúbal e presidente da Conferência Episcopal Portuguesa desafiou os cristãos a superar esta crise de forma a que todos “possam sair beneficiados, numa humanidade mais solidária e mais fraterna” — que só é possível num esforço conjunto, aliado a uma resposta solidária para a crise social e económica provocada pela pandemia.

“É possível e é necessário que nós colaboremos para que, desta travessia do deserto da pandemia, possa nascer uma humanidade que habite uma terra que seja casa comum, que seja terra para todos”, sublinhou.

“Não permitamos que os mais débeis fiquem esquecidos nas suas dificuldades. Cresçamos na solidariedade, na criatividade, na busca de caminhos novos para um mundo novo, com os muitos problemas e oportunidades que temos diante. Se assim fizermos, guiados pelo Espírito do Senhor e imitando as atitudes da Mãe-Maria, sairemos desta crise com mais vida e possibilidade de enfrentar os desafios que o futuro nos apresenta”, referiu o bispo.

Diante de um recinto de oração com uma configuração totalmente distinta da habitual, D. José Ornelas afirmou que as alterações necessárias são um “sinal claro das limitações e condicionalismos que atingem o mundo”, com consequências que afetam sobretudo os mais frágeis.

Já na celebração do dia seguinte, 13 de outubro, D. José Ornelas frisava que a pandemia "veio alterar radicalmente toda a vida da humanidade, sobretudo nos modos de relacionamento entre as pessoas".

Na ocasião, dirigindo-se aos peregrinos no Santuário de Fátima, o bispo chamou ainda a atenção para os populismos e nacionalismos que têm surgido e crescido nos últimos tempos, tema que havia referido também na homilia da noite anterior.

"Vivemos num tempo em que movimentos populistas manipulam a nostalgia do passado, o medo real e imaginário, o perigo do estrangeiro e do que pensa diferente, que usam a ganância de possuir e dominar e até usam o nome de Deus e modelos religiosos para os seus interesses", vincou.

Segundo D. José Ornelas, esses movimentos "constroem muros, exacerbam nacionalismos egoístas e conflituosos", impedindo que "se chegue a consensos mundiais para encontrar soluções para os problemas de todos, como a pobreza, a injustiça, a guerra e a depredação do planeta, que colocam em perigo o futuro”.

Para o presidente da CEP, "este não é certamente o projeto de Deus" e "não é deste modo que se constrói a Igreja”. "A pandemia veio tornar mais visíveis estes problemas, como todos sabemos. Estamos no mesmo barco. Ou nos ajudamos para nos salvarmos todos ou então o barco afunda", alertou.

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