Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa: "um professor e investigador notável"
“Com o falecimento de Daniel Serrão, desaparece, além de uma personalidade de assinalável dimensão cultural, um professor e investigador notável, que tanto contribuiu para a renovação da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e, depois, para a afirmação da Universidade Católica Portuguesa”, lê-se numa mensagem divulgada hoje no ‘site’ da Presidência da República Portuguesa.
Marcelo Rebelo de Sousa recorda que, “particularmente relevante foi o seu papel pioneiro – com, entre outros, Luís Archer e João Lobo Antunes – para a importância académica e a autonomia disciplinar da Bioética”.
Recordando Daniel Serrão “com amiga saudade”, o Presidente da República “apresenta à família e às suas escolas os mais sentidos pêsames”.
Universidade do Porto:“ um legado perene”
Em comunicado, o reitor da Universidade do Porto recordou que Daniel Serrão foi “um brilhante estudante da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto”, instituição onde se viria a afirmar “como um dos professores de maior destaque (…) quer pela sua obra científica, quer pela sua vasta intervenção pública em prol dos valores humanistas”.
“O seu trabalho científico na área da Bioética é, aliás, justamente reconhecido internacionalmente, tendo sido um dos primeiros professores de Medicina em Portugal a dedicar-se ao debate em torno das questões éticas da profissão. O seu desaparecimento seria, por isso, uma perda irreparável para a Universidade do Porto, em particular para a sua Faculdade de Medicina, não fosse o facto do prof. Daniel Serrão ter deixado um legado perene em toda a academia”, acrescentou Sebastião Feyo de Azevedo.
O nome de Daniel Serrão ficará “para sempre ligado à formação de brilhantes gerações de médicos e investigadores científicos na Universidade do Porto”, mas o reitor da instituição académica salientou que “será, porventura, o seu humanismo, a sua humildade e a sua relação de proximidade com estudantes e colegas pelo qual o prof. Daniel Serrão mais será recordado na comunidade académica”.
Ordem dos Médicos: “um dos príncipes da Medicina portuguesa”
Em comunicado, a Ordem dos Médicos lembrou que Daniel Serrão se destacou “pelas suas opiniões desassombradas contra a clonagem de embriões humanos, os quais considerava um crime científico”. “Foi responsável por um notável impulso para o desenvolvimento da Anatomia Patológica em Portugal, além de uma dedicada atenção concedida à reflexão sobre o futuro, a estrutura e a sustentabilidade do Sistema Nacional de Saúde e a sua projeção nacional e internacional no campo da patologia e da ética médica e bioética”, acrescentou o mesmo texto.
Assim, o Conselho Regional do Norte da Ordem dos Médicos recordou Daniel Serrão como “um dos príncipes da Medicina portuguesa, uma figura de referência no campo da Ética e da Medicina, um exemplo e uma referência para os médicos e para a sociedade civil”. “Honrar o seu vasto património intelectual e humanístico, que fará sempre parte da nossa memória individual e coletiva, é uma obrigação de todos nós”, realçou.
Associação Portuguesa de Bioética:“um dos grandes obreiros da introdução da bioética em Portugal”
“Uma das personagens mais marcantes da vida portuguesa nos finais do sec XX e princípios do sec XXI, em primeiro lugar porque, sendo um católico convicto, tinha uma visão humanista da sociedade e uma curiosidade científica ímpar, o que lhe permitiu ter uma abrangência muito grande em diferentes atividades e em diferentes setores da sociedade portuguesa”, recordou o presidente da Associação Portuguesa de Bioética, Rui Nunes.
O também especialista em bioética afirma ter tido “o privilégio” de acompanhar Daniel Serrão ao longo de cerca de 30 anos e de privar com ele na faculdade de medicina do Porto. Esse caminho feito em conjunto, permitiu-lhe testemunhar que Daniel Serrão “foi um dos grandes obreiros da introdução em Portugal da bioética, enquanto um novo domínio científico multidisciplinar e que no fundo contribuiu decisivamente para muitas das evoluções entretanto ocorridas na sociedade”. “Ou seja, ele foi um pioneiro nesta área do conhecimento, ajudou a criar uma escola que penso que é hoje de referência na universidade do Porto e também na cena internacional e para além deste avanço técnico e científico e académico naturalmente traduziu-se em evoluções importantes da sociedade portuguesa, como agora se constata com a legalização do testamento vital e outros passos que tiveram essa visão precursora em Daniel Serrão”.
O presidente da Associação Portuguesa de Bioética sublinha ainda que o médico hoje falecido teve “essa clarividência de perceber que o mundo estava em mutação, isto há 30/40 anos atrás, que sobretudo no domínio das ciências da vida, da biologia, da genética, da reprodução, da transplantação de órgãos e das questões éticas do fim da vida humana, que a ética tradicional não respondia aos desafios da sociedade contemporânea e que era preciso introduzir em Portugal uma maneira diferente de pensar”. “E eu creio que foi bem-sucedido, tive o privilégio modestamente de colaborar nessa trajetória e de testemunhar esta evolução ao longo dos últimos 30 anos em Portugal”, frisou.
Assunção Cristas: “um mestre que levou a ética às fronteiras da vida e aos limites da ciência médica”
"A morte, hoje, de Daniel Serrão é uma notícia triste mas que nos convoca para a grandeza da vida deste médico e para o seu legado - um mestre que levou a ética às fronteiras da vida e aos limites da ciência médica”, refere Assunção Cristas, numa nota enviada à agência Lusa.
A líder do CDS-PP recorda o “professor Catedrático jubilado e referência da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, que discutia e estudou a vida como humanista, filósofo e cientista - Daniel Serrão tinha uma visão global, sem barreiras, sobre tudo o que é humano”. “Seja pelo percurso da ciência, ou pelo da Fé, entre a natureza e a transcendência dedicou-se ao outro, ou seja, a todos”, referiu.
Assunção Cristas, em nome do CDS-PP, apresenta à família, amigos colegas e discípulos de Daniel Serrão “as condolências e admiração”. “Hoje todos somos mais livres, porque Daniel Serrão questionou os nossos limites, porque estudou, discutiu, aconselhou. O seu legado responsabiliza-nos para continuar esse percurso”, considerou.
Ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes: “um dos pensadores sobre o sistema de saúde
“Tive a ocasião de conviver com ele ao longo das últimas décadas e reconhecia nele um dos príncipes humanistas da medicina portuguesa”, afirmou, recordando a “visão muito personalista” de Daniel Serrão, bem como “a sua ponderação, a capacidade que teve de transformar a bioética numa individualidade ao nível da investigação e do conhecimento”. Para o ministro da Saúde, Daniel Serrão foi também “um dos pensadores sobre o sistema de saúde e em particular sobre os desafios que se colocam ao Serviço Nacional de Saúde (SNS)”.
Afirmando que este está a ser “um fim de semana muito difícil para Portugal e para os portugueses”, a propósito da morte de Mário Soares, Adalberto Campos Fernandes classificou Daniel Serrão como “um homem bom, uma personalidade que tinha da ciência e da vida uma visão de grande profundidade”.
Recordando que em muitas matérias pensava e pensa de maneira diferente do professor Daniel Serrão, o ministro da Saúde declarou: “Uma sociedade que pensa de uma só maneira é uma sociedade pobre, uma sociedade que despreza aquilo que mais rico existe na ciência e na inovação que é a diferença é uma sociedade que não está bem consigo própria”.
Daniel Serrão é “um homem de convicções no plano da bioética, da visão que tinha do mundo e da sociedade e da humanidade e, nessa matéria, essa diferença é uma diferença fundada numa profunda convicção e de valores que tinha na vida”, adiantou. Sobre as diferenças em relação a algumas matérias mais polémicas, Adalberto Campos Fernandes disse: “Isso só nos dá mais força para reconhecer e respeitar a sua obra e o seu pensamento”. “Ele era e sempre foi um homem da saúde em Portugal”, concluiu.
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