Ao chegar-se de manhã ao Parque Tejo, os peregrinos tinham ocupado a relva da zona de convidados para dormir.
Pelas 5h30 o denominado, para este evento, Parque da Graça parece mais um parque zombie, com jovens a taparem a cabeça para se esconder do burburinho matinal de quem chega e, assim, tentarem ter mais umas horas de sono.
Três horas antes da missa, já há muitos padres paramentados a tirar fotografias junto do altar palco onde estarão com o papa. Olhando para os setores onde dormem os peregrinos apenas algumas cabeças se vão levantando, tímidas e bamboleantes. O silêncio contrasta bastante com o barulho que no dia anterior, pelas 0h00, ainda se ouvia no parque, por agora apenas o som dos grilos ecoa no Parque Tejo, isso e alguns sonoros ressonares.
O complicado puzzle de sacos cama, mochilas e corpos começa a desfazer-se ao poucos quando ainda nem amanheceu. A ponte por cima do rio Trancão, tem já muitos peregrinos a escapar à hora de ponta e a tentar chegar ao lado do altar. Fazendo outros peregrinos questionar alto, “mas para onde é que é esta gente toda vai?”
Os mais madrugadores e atentos demoram-se a ver a vista, “espetacular, não é? É pena os mosquitos”, ouve-se na bifurcação das margens do Trancão e do Tejo.
Do lado de Loures, a limpeza começa cedo, funcionários da Câmara recolhem o lixo e começam a abrilhantar o parque para o último dia de JMJ. Limpeza necessária, principalmente no sítio em que se atravessa a autoestrada para passar do setor B para o C, o rasto dos peregrinos é bastante visível em forma de desperdício. Numa jornada onde um dos temas foi ambiente, e com um Papa autor da Laudato Sí, não deixa de ser contraditório. Embora, importa salientar, por aquilo que é possível ver nos setores, não parece haver rasto de poluição, apenas na autoestrada cortada para os peregrinos.
À falta de chuveiros a higiene matinal faz-se de várias formas, há quem se limpe às t-shirts, há quem se vista diretamente e há quem use toalhetes de limpeza para fingir um duche. E, de forma geral, as câmaras dos telemóveis fazem as vezes de espelho.
Ao lado daqueles que lavam os dentes e a cara nos lavatórios disponíveis dá para perceber que a noite não resolveu o problema das canalizações. Há ainda mais água e lama que na noite anterior.
Se a energia chega lentamente ao Parque Tejo, ao hospital campanha do setor D10 chegou e faz-se anunciar com os cânticos dos profissionais de saúde da Cruz Vermelha. “Poe tua mão, na mão do meu Senhor da Galileia”
A esta hora é impossível não reparar que os mais acordados são alguns casais que, ao longo de todo o recinto, vão aproveitando o recato e a privacidade da manhã para passear de mãos dadas e dar longos beijos.
Com o sol a abrir o escuro da noite em tons de laranja, há uma constante que se vai ouvindo entre os peregrinos portugueses. “Sabes onde há café? E dá para pagar com multibanco?”
Mas os que não se levantaram com a primeira luz e sons de manhã, haveriam de acordar sobressaltados às 6h30 em ponto com as colunas a tocar alto e os ecrãs a ligar. Num acampamento americano ouve-se “rise up! It’s Pope day”, “levantem-se é dia do Papa”. Não têm sido todos?
Os polícias, que até agora têm tido cuidado para não fazer barulho, também brincam enquanto posicionam baias de segurança “está a acordar”. E os bandos de andorinhas voam em cima dos peregrinos como que anunciando a manhã, enquanto estes ficam a encantados a olhar para elas.
Pelas 7h00 não há hipótese para continuar a dormir, nos ecrãs lê-se Pe Guilherme, nas colunas os sinos anunciam o que aí vem. A alto e bom som o já conhecido por Padre Dj mistura músicas religiosas com hits conhecidos da juventude, como o Jerusalema ou Xutos e Pontapés. É hora da festa, é dia de Papa. É o último dia Papa em Lisboa.
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