Para o investigador do Instituto Nacional Dr. Ricardo Jorge (INSA), “é essencial” começar a pensar no desconfinamento e fazê-lo, mas de “forma faseada” para evitar um aumento de casos de “um momento para o outro” difícil de controlar.
“É essencial que o início do desconfinamento seja feito numa fase em que o número de novos casos por dia seja suficientemente baixo para nós conseguimos conter a epidemia”, defendeu em declarações à Lusa no INSA, quando se assinala um ano sobre o aparecimento dos primeiros dois casos de covid-19, em 02 de março de 2020.
Esse valor a partir do qual o país pode desconfinar e manter a epidemia sob controlo sem as medidas de confinamento, mas como medidas de rastreio de contacto, de testagem e outras, está a ser avaliado por um grupo de peritos.
“É claro que isto é mais efetivo se eu tiver por exemplo 100, 200, 300 novos casos por dia do que se tiver 1.000 casos por dia”, defendeu.
Para o epidemiologista, “um dos pontos cruciais” neste momento é a taxa de ocupação das camas em Unidades de Cuidados Intensivos dos hospitais que está ainda em níveis muito elevados.
O número de doentes em cuidados intensivos tem vindo a decrescer ao longo do tempo, principalmente, porque a incidência está contida, disse, sublinhando que este é um indicador muito importante na capacidade de sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde.
“Se introduzirmos qualquer medida que faça com que o ‘R’ [índice de transmissibilidade] se aproxime de 1 significa que deixa de descer e o número de casos passa a entrar num processo constante ou eventualmente a crescer”, advertiu.
Relativamente à abertura das escolas, disse que não se podem começar já a abrir sem saber qual é o efeito que poderá ter.
O responsável pela Unidade de Investigação Epidemiológica lembrou que não houve grandes surtos de transmissão nas escolas, mas o que se aprendeu é que a sua abertura “tem efeitos indiretos sobre a sociedade, porque liberta os pais para poderem eventualmente ir trabalhar e vai libertando a sociedade”.
“O ideal era que nós fôssemos capazes de abrir as escolas (…) e os adultos se mantivessem em casa”, o que seria “um grande passo”.
No seu entender, põe-se “muito peso” no fecho das escolas, mas lembrou que o seu encerramento foi aplicado em cima de uma série de medidas que já tinham sido implementadas no dia 15, afirmando “ser sempre muito difícil perceber qual é o efeito independente de cada uma delas sozinha”.
Questionado se a epidemia poderá abrandar no verão, o investigador disse que ainda não fizeram projeções quantitativas sobre o que poderá vir a seguir.
“Podemos pensar em cenários sobre o que é que pode acontecer e as perspetivas por um lado são positivas, uma vez que na primavera e no verão o vírus tem menos probabilidade de se transmitir e nessa altura já haverá níveis de cobertura de vacinação “bastante consideráveis”, mas também tem “as suas ameaças”.
Segundo o investigador, as “ameaças principais” são o vírus a alterar-se numa procura de ser mais transmissível ou de conseguir ultrapassar o sistema imunitário.
“Sabemos que existem algumas variantes que estão em circulação e que têm traduzido a ameaça de que possam ser mais transmissíveis do que as variantes que estiveram em circulação antes”, adiantou.
A covid-19 já matou em Portugal 16.243 pessoas dos 802.773 casos de infeção confirmados, segundo a Direção-Geral da Saúde.
Os dois primeiros casos de pessoas infetadas em Portugal com o novo coronavírus foram anunciados em 02 de março de 2020, enquanto a primeira morte foi comunicada ao país em 16 de março. No dia 19, entrou em vigor o primeiro período de estado de emergência de 15 dias, que previa o confinamento obrigatório e restrições à circulação na via pública em Portugal continental.
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