Diário de quarentena, por Patrícia Reis. Dia 7
Estamos bem apetrechados de comida. Temos medicamentos e as horas do dia passam lentas. Não faz mal. Entre emails de trabalho e revisão de textos, sentei-me para começar um folhetim a partir de uma notícia falsa. Pois, se as fake news podem ser transformadas em ficção isso é...? É manter a ideia de que são ficção, claro. A notícia dizia que um bordel tinha entrado em quarentena com os respectivos clientes lá dentro. E eu, sofrendo de excesso de imaginação, comecei logo a ver como a situação, afinal falsa, podia ser um poço de inspiração para uma história. Assim, comecei um folhetim intitulado Notícias do Meu Bordel e publiquei no meu mural do Facebook. O exercício da escrita é agora um divertimento. A partilha é apenas uma maneira de dizer que a cultura está viva e que nada impedirá os artistas de serem quem são, nem mesmo que vaca tussa.
O único problema desta história e da minha imaginação é que agora dava-me mais jeito ir para ali escrever a história do Joaquim Manuel e evitar todas as outras coisas que preciso de fazer.
Tenho uma mini empresa que será afectada enormemente com esta situação. Não sou caso único, tenho vários amigos em igual situação. Importa, portanto, continuar a assegurar o trabalho e dar resposta aos clientes que precisam de nós.
O tele-trabalho é desafiante e exigente, sobretudo porque é difícil manter a concentração quando é preciso fazer pequeno-almoço, almoço, lanche, jantar, lavar roupa, secar roupa, desinfectar tudo com regularidade, manter o contacto com a família e amigos e levar o cão à rua. Mas cá estou, a repetir para mim mesma que importa trabalhar para assegurar o futuro. Uns amigos, que têm um restaurante no Meco, mudaram de vida, fecharam o restaurante e têm agora um serviço de venda de peixe com entregas ao domicílio, peixe entregue em vácuo. Outro amigo está a filmar aulas de exercício físico. Há professores a dar aulas online, bandas de música cujos membros estão isolados em zonas diferentes e mantêm os ensaios via skype. Desistir não é uma opção. Juntos somos capazes. E juntos somos melhores.
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