"Nada está ligado à manifestação, nem à Rua do Benformoso. Tudo aconteceu no Largo do Intendente, é muito longe", sublinhou ao SAPO24 Farid Ahmed Patwary, jornalista no Dhakapost, tradutor e representante da comunidade do Bangladesh junto da PSP como tradutor.

Corrobora ainda esta informação com um vídeo do evento amplamente partilhado nas redes sociais durante esta tarde.

"Pode ter sido um evento criminoso, mas sempre que se trata de imigrantes querem fazer manchete nacional", acrescenta.

Ao SAPO24, a PSP confirmou que os eventos passaram pela Rua do Benformoso.

Segundo o subintendente Iuri Rodrigues, cerca das 14h30 de hoje quatro pessoas, apresentando “sinais de terem sido agredidas”, dirigiram-se à esquadra da PSP na Rua da Palma para “pedir apoio”, o que demonstra “a confiança” na polícia.

Em declarações à imprensa, o comandante adiantou que agentes se deslocaram ao local da ocorrência, onde estavam mais três pessoas feridas, das quais duas com ferimentos causados por facas, que foram encaminhadas para o Hospital de São José.

De acordo com o subintendente, “houve alguma violência”, registando-se “dentes partidos, agressões com arma branca numa perna e na barriga, cortes na cabeça”, causados por uma faca, mas também “objetos metálicos”.

O responsável afirmou que a PSP prossegue as diligências para apurar a origem dos confrontos, desconhecendo o que motivou a desordem, e indicou que, até agora, não houve detenções.

“Com base na informação que tenho, é muito pouco provável que haja detenções. As sete pessoas que foram assistidas aparentam ser vítimas e, portanto, não são detidas”, afirmou Iuri Rodrigues à imprensa.

A PSP vai “levar isto a fundo”, para “tentar perceber [quem foram] os autores das agressões” e levar o caso ao Ministério Público, disse o comandante. Para tal, a polícia está hoje a ouvir os agredidos e vai analisar outras provas, nomeadamente um vídeo, e ouvir relatos de testemunhas.

A polícia reforçou a presença na zona do Martim Moniz, algo que o comandante disse que já estava previsto, tal como em outras áreas da cidade, como o Mercado de Arroios e o Bairro Alto.

“Há um policiamento de proximidade na Rua do Benformoso e na Mouraria e estaremos aqui todos os dias”, referiu.

Ainda não se sabe a nacionalidade dos envolvidos.

"Não temos problemas com a presença da polícia"

"Não temos problemas com a presença da polícia. Quando os cidadãos observam polícia ficam melhor", diz Farid.

"Nesta zona da cidade existe muito tráfico de droga e por isso existem muitos movimentos criminosos. A presença da polícia é algo que os comerciantes querem, não pode é ser de uma forma violenta", explica, dando o exemplo da polémica operação policial de 19 de dezembro que deu origem à manifestação ocorrida este sábado do movimento "Não nos Encostem à Parede".

"Queremos também videovigilância nesta rua. É urgente! A videovigilância pode evitar toda esta criminalidade", sugere. "A polícia é a segurança base de todos os países", afirma.

Sobre a comunidade da qual também faz parte, sublinha ainda que: "Toda a gente sabe que os imigrantes correm grande risco ao cometer crimes. Se existirem queixas na polícia, perdemos o direito à residência e por isso não podemos estar cá regularizados, ou seja, é necessário grande cuidado quando nos referimos a crimes com imigrantes".

Recorde-se que a operação policial de 19 de dezembro na Rua do Benformoso resultou na detenção de duas pessoas e já teve como consequência a abertura de um inquérito por parte da Inspeção-Geral da Administração Interna e uma queixa à provedora de Justiça, subscrita por cerca de 700 cidadãos, entre eles deputados do PS, Bloco de Esquerda e Livre.

Este sábado, milhares encheram a Avenida Almirante Reis para protestar contra a ação policial e o tratamento dos imigrantes, juntando ativistas, políticos, migrantes e cidadãos anónimos.

*Com Lusa