"O Executivo da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior manifesta a sua apreensão e oposição face à possibilidade de ocupação abusiva do espaço público prevista num plano de filmagens noturnas (...) numa produção para a Netflix, pelo impacto negativo que estas filmagens (...) causarão na qualidade de vida, no direito ao descanso e tranquilidade e no direito à mobilidade dos moradores das zonas contempladas", lê-se no comunicado.
As filmagens da produtora Ready to Shoot estão previstas para o mês de julho durante oito noites seguidas entre as 18:00 e as 8:00.
A rodagem irá recorrer "a efeitos de fogo, armas de fogo, colisões entre automóveis, perseguições com automóveis e motociclos, perseguições de motociclos pelas escadas e escadinhas dos bairros e outros diversos efeitos especiais na Baixa, Chiado e Mouraria", esclarece a nota da Junta lisboeta.
Junta de Freguesia de Santa Maria Maior evoca o "direito ao descanso" dos moradores e o seu "direito à mobilidade" nas zonas em que as filmagens vão acontecer.
A Junta lamenta que o Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, "tenha já manifestado o seu entusiasmo pela sua realização, sem primeiro conhecer a opinião ou parecer da Junta de Freguesia".
Miguel Coelho, presidente da Junta de Freguesia, "não pode deixar de manifestar publicamente o seu desagrado com a transformação da freguesia num "estúdio cinematográfico". No entanto, a "Junta estará disponível para trabalhar no sentido de encontrar uma solução aceitável e com menor impacto negativo para as pessoas".
Em declarações à agência Lusa, o autarca considerou que o plano de filmagens previsto vai “penalizar de uma forma muito acentuada a qualidade de vida, o direito ao sossego e ao descanso das pessoas que vivem no território”, assim como os direitos de circulação, acesso e estacionamento, em consequência da “ocupação massiva” do espaço público por parte da produção cinematográfica.
A cumprir o seu terceiro mandato consecutivo na liderança da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, Miguel Coelho disse que o seu executivo “nunca dá parecer favorável” à realização de filmagens noturnas, “tirando uma ou outra situação excecional e por pouco tempo”, ainda que a autorização seja da competência da Câmara Municipal de Lisboa.
“Não digo não às filmagens, percebo que é uma circunstância excecional, certamente que haverá retorno financeiro muito grande para a autarquia de Lisboa, para a câmara, mas não posso de maneira nenhuma posso aceitar que na freguesia na qual eu sou o primeiro responsável haja oito noites consecutivas, praticamente, de filmagens noturnas. Não posso aceitar isso”, declarou.
O executivo da freguesia foi excluído do processo de autorização deste plano de filmagens noturnas apresentado pela produtora Ready to Shoot, numa produção para a Netflix, mas está disponível para encontrar uma outra solução: “Mais do que lamentar não ter sido ouvido, porque não fui ouvido, é que não haja aqui a sensibilidade para perceber que isto assim não pode ser”.
A expectativa de Miguel Coelho é que a Câmara de Lisboa, presidida pelo social-democrata Carlos Moedas, “procure, naturalmente, sensibilizar os produtores para redimensionarem o projeto, sobretudo o período de filmagens em Santa Maria Maior”, com uma eventual distribuição por outras zonas da cidade.
“Isto é transformar a freguesia num estúdio cinematográfico, portanto não é isso que eu quero aqui para este território e para esta freguesia”, frisou o autarca do PS, explicando que o plano de filmagens “é muito extensivo”, incluindo as zonas da Baixa, Chiado e Mouraria, e prevê “oito noites seguidas e dois dias” no mês de julho.
Neste sentido, a junta propõe ser incluída numa reunião com o presidente do município ou um outro responsável político e com a produtora, para encontrar “um ponto de encontro que, não impedindo as filmagens, também de facto não transforme Santa Maria Maior num estúdio a céu aberto durante tantos dias seguidos”.
“Não tenho competências para proibir, isto é mesmo licença camarária. Agora, também não posso é ser cúmplice de uma situação que eu sei que não é desejável aqui para freguesia e para quem cá mora e que tem direito ao descanso, à tranquilidade, a não ser alarmado de noite, enfim, um conjunto de prerrogativas já tão difíceis de manter no centro histórico […]. Portanto, não é agora que eu vou transigir só porque é a Netflix”, reiterou.
Em resposta escrita à agência Lusa, a Câmara Municipal de Lisboa informou que "o assunto está a ser alvo de análise", que está a decorrer "em estreita articulação com as Juntas de Freguesia envolvidas", cumprindo os trâmites normais deste tipo de processos, sem adiantar mais detalhes.
(Notícia atualizada às 18h06)
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