Em declarações à agência Lusa, no final de uma conferência de imprensa sobre a exposição, que é inaugurada na quinta-feira, o diretor do museu disse estar “tranquilo quanto à credibilidade das peças”, porque o MNAA “é uma casa de ciência e de investigação”.
No fim de semana, o semanário Expresso publicou dois artigos nos quais os historiadores Diogo Ramada Curto e João Alves Dias levantavam dúvidas sobre a autenticidade dos quadros “A Rua Nova dos Mercadores”, ponto de partida da exposição, e de “O Chafariz d´El Rei”, que apresentam cenários da Lisboa do século XVI.
Para António Filipe Pimental, “as pinturas são inquestionavelmente antigas, exatamente da data em que foram feitas. Se foi em 1590 ou 1610 não sabemos, nem era essa a nossa preocupação, mas são testemunhos coevos da Lisboa de então”.
“Foi o que nos importou para a exposição. O resto é interessante para outra esfera de debate, conseguir perceber quem as pintou, onde, e a data exata, mas não estamos garantidamente a falar de obras do século XX, mas feitas no século XVII, o mais tardar”, sustentou.
Análise às pinturas "vai ser avaliada"
"É preciso saber se é possível ir mais fundo nas análises, e também se os proprietários autorizam essa peritagem", disse o responsável do museu aos jornalistas.
"A Rua Nova dos Mercadores", que os investigadores têm situado entre 1590 e 1610, está dividida em dois painéis, e é propriedade da Society of Antiquaries of London, enquanto "O Chafariz d´El Rei" terá sido pintado entre 1570 e 1580, e pertence à coleção de José Berardo.
O Expresso também avançou que o Ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, disse que já foi pedida autorização aos proprietários dos quadros para analisar em laboratório a sua datação e esclarecer a polémica.
A inauguração de "A Cidade Global - Lisboa no Renascimento" está marcada para as 18:30 de quinta-feira e a abertura ao público na sexta-feira, com 250 peças da época do Renascimento.
Hoje, numa conferência de imprensa sobre a exposição, no MNAA, o diretor leu uma declaração assinada pela direção sobre a questão levantada pelo Expresso e chamou a atenção que a mostra assenta no livro das historiadoras Annemarie Jordan Gschwend e Kate Lowe, "The Global City: On the Streets of Renaissance Lisbon", "amplamente celebrado pela crítica internacional".
Nele, as autoras fazem uma reconstituição do ambiente da cidade de Lisboa no ciclo dos Descobrimentos, a partir de dois quadros que haviam identificado como uma representação da Rua Nova dos Mercadores, a principal artéria comercial de Lisboa no período do Renascimento.
Foi "pelo ineditismo da sua visão e objetiva relevância histórica" que o MNAA entendeu convidar as autoras a adaptarem o livro a uma exposição: "A Cidade Global: Lisboa no Renascimento", que ficará patente até 09 de abril.
António Filipe Pimentel sustentou ainda que a mostra conta com o contributo de Henrique Leitão, Prémio Pessoa 2014, como consultor para a História da Ciência e que reúne "um conjunto, o mais diversificado possível, de acervos, públicos e privados, nacionais e internacionais, numa amostra inédita de obras, todas creditadas ou pela documentação ou pela comunidade científica".
Sobre as notícias de Expresso, o diretor afirma que, nesta questão que "é do foro da História da Arte", o semanário dá voz "a dois historiadores, assumidamente não especialistas nesta área científica, deixando em silêncio os da especialidade, não obstante reconhecer os seus contributos, genericamente de orientação oposta".
Aos jornalistas, António Filipe Pimentel disse ainda considerar que o conteúdo dos artigos “é uma atoarda extravagante com comentários de grande superficialidade de pessoas que não são da área da História da Arte”.
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