O acervo do Museu Nacional do Rio de Janeiro, no Brasil, que foi consumido por um incêndio na noite de domingo e ao longo da madrugada de hoje, era um dos maiores históricos e científicos do país, com cerca de 20 milhões de peças.
A instituição, criada há 200 anos, foi fundada por João VI, de Portugal, e era o mais antigo e um dos mais importantes museus do Brasil.
De acordo com um comunicado publicado online pela direção do museu, não há vítimas a registar neste incêndio.
"É uma enorme tragédia. A hora é de união e reconstrução. Infelizmente ainda não conseguimos medir a dimensão total da destruição do acervo, mas precisamos de mobilizar toda a sociedade para a recuperação", escreve o diretor, acrescentando que a entidade tinha funcionado normalmente no domingo até às 17:00.
O Ministério brasileiro da Cultura também emitiu um comunicado lamentando "profundamente" o incêndio que dizimou o acervo e as instalações do Museu Nacional, ligado à Universidade Federal do Rio de Janeiro, e considera que "as causas e responsabilidades devem ser rigorosamente apuradas".
"O Ministério da Cultura vinha apoiando, desde 2017, a direção do Museu Nacional na elaboração de projetos e na busca por recursos para financiar o plano de revitalização e requalificação", indicando que um total de 21,7 milhões de reais [cerca de 4,6 milhões de euros] foi conseguido junto ao Banco Nacional do Desenvolvimento, que financiaria grande parte do projeto.
"Outras ações foram realizadas pelo Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM) e pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), com o objetivo de apoiar a gestão do Museu Nacional na busca de soluções. Infelizmente não houve tempo", acrescenta.
Na mesma linha do diretor do museu, o Ministério da Cultura sustenta que se trata de "uma perda irreparável” para o país: “A cultura brasileira e o Brasil estão de luto. Uma grande mobilização nacional em prol da reconstrução do Museu Nacional do Rio de Janeiro é necessária".
"O Ministério da Cultura fará todo o esforço para apoiar este processo, olhando também para os demais museus do País, com o intuito de evitar que tragédias como essa se repitam e causem mais prejuízo ao patrimônio cultural brasileiro", indica ainda o comunicado da assessoria de comunicação, que cita ainda o ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão.
"[Na segunda-feira] vamos começar a fazer o projeto de reconstrução do Museu Nacional. Também ordenei um levantamento completo das condições de proteção contra incêndio em todos os museus federais, para verificar que medidas devem ser tomadas de modo a evitar outra tragédia", acrescenta o ministro.
Por seu turno, o ministro português da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, que se encontra no Rio de Janeiro em visita oficial, já exprimiu pessoalmente ao seu homólogo, no domingo à noite, o seu pesar pelo ocorrido.
Também a Sociedade de Arqueologia Brasileira se manifestou "profundamente abalada" com o incêndio, mostrando-se solidária com os colegas, e repudiando "toda forma de negligência por parte de autoridades governamentais, as quais desde longa data tomaram consciência da necessidade de restauração da instituição, e praticamente nada fizeram".
No mesmo comunicado, mostra-se disponível para ajudar o Museu Nacional "naquilo de estiver ao seu alcance".
Em janeiro de 2015, este museu chegou a estar fechado ao público devido a “problemas com os serviços de vigilância e limpeza”, relacionados com o atraso de meses no pagamento, e os funcionários de limpeza também fizeram uma paralisação por falta de pagamento dos salários, noticiou a imprensa local, na altura.
O Presidente do Brasil, Michel Temer, reagiu, em comunicado: "Incalculável para o Brasil a perda do acervo do Museu Nacional. Hoje é um dia trágico para a museologia do nosso país. Foram perdidos duzentos anos de trabalho, pesquisa e conhecimento. O valor para a nossa história não se pode mensurar, pelos danos ao prédio que abrigou a família real durante o Império. É um dia triste para todos brasileiros".
Entre as peças do acervo estavam a coleção egípcia, que começou a ser adquirida pelo imperador Pedro I, e o mais antigo fóssil humano encontrado no Brasil, batizado de "Luzia", com cerca de 11.000 anos.
O Museu Nacional do Rio de Janeiro era o maior museu de História Natural e Antropologia da América Latina e o edifício tinha sido residência da família real e imperial brasileira.
Entre os milhões de peças que retratavam os 200 anos de história brasileira estavam igualmente um diário da imperatriz Leopoldina e um trono do Reino de Daomé, dado em 1811 ao príncipe regente João VI.
A história do museu remonta aos tempos da fundação do Museu Real por João VI, em 1818, cujo principal objetivo era propagar o conhecimento e o estudo das ciências naturais em terras brasileiras. Hoje, era reconhecido como um centro de pesquisa em história natural e antropológica na América Latina.
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