Os manifestantes em Bristol arrancaram a estátua de Edward Colston do seu pedestal no domingo e atiraram-na à água do rio Avon, durante um protesto desencadeado pela morte do afroamericano George Floyd pelas mãos de um polícia nos Estados Unidos.
Foi recuperada na manhã de hoje e "está a ser levada para um lugar seguro antes de se tornar parte da coleção do nosso museu", anunciou a autarquia de Bristol.
Colston era um alto funcionário da Royal African Company no final do século XVII, que enviou centenas de milhares de pessoas da África Ocidental para fazer trabalho escravo na América do Norte e Caraíbas.
Quanto a esta estátua, o artista de rua Banksy, originário da cidade, propôs uma solução para que defensores e detratores cheguem a um acordo: "Tiramos a estátua da água, colocamos de volta no pedestal, amarramos um cabo à volta do seu pescoço e agregamos estátuas de bronze, em tamanho real, dos manifestantes a derrubá-la", reproduzindo a cena de domingo, propôs no Instagram. "Assim, todos ficam felizes", sugeriu.
A destruição da estátua de Colston provocou a condenação do governo britânico, mas reacendeu reivindicações em todo o país para que se retirem outros monumentos históricos controversos.
Já na passada terça-feira, 9 de junho, coincidindo com o enterro de Floyd do outro lado do Atlântico, vários ativistas britânicos convocaram uma manifestação em Oxford contra a estátua de Cecil Rhodes, magnata da mineração e político colonial na África do Sul no século XIX.
Já em 2016 tinha sido organizados protestos contra a efígie de Rhodes, que adorna um prédio da Oriel College naquela renomada cidade universitária. Os ativistas não alcançaram o seu propósito, mas, agora, vêem-se encorajados, especialmente depois do derrube da estátua de Colston.
E se a Universidade de Liverpool anunciou que vai renomear um prédio que atualmente leva o nome do ex-primeiro-ministro William Gladstone, devido aos seus vínculos com o tráfico de escravos, na terça-feira, as autoridades do leste de Londres retiraram do distrito de Docklands uma estátua de Robert Milligan, cuja família era proprietária de plantações de açúcar na Jamaica.
O debate sobre o passado colonial do Reino Unido não é recente e há vários anos que o país é pressionado para que devolva obras como os frisos do Partenon de Atenas, exibidos no Museu Britânico, em Londres.
"Chegou a hora de um debate nacional franco sobre o legado do colonialismo", escreveu no Twitter a deputada do Partido Trabalhista Layla Moran, que pediu a destruição da estátua de Cecil Rhodes, "um supremacista branco que não representa os valores de Oxford em 2020".
Em Londres, perto do Parlamento, a estátua do ex-primeiro-ministro conservador e herói da Segunda Guerra Mundial Winston Churchill, cujas declarações sobre questões raciais causaram polémica, também foi atacada no passado fim de semana.
A luta, de resto, estendeu-se a outras regiões do Reino Unido, como em Edimburgo, na Escócia, onde a estátua do político Henry Dundas, que trabalhou para atrasar a abolição da escravatura, também é polémica. Adam McVey, do conselho municipal, disse que a estátua não lhe faria falta se fosse removida, em apoio aos ativistas contrários ao racismo.
Habitantes resistem à remoção de estátua do fundador do escutismo em Inglaterra
Uma estátua do fundador do escutismo, Robert Baden-Powell, em Poole, no sul da Inglaterra, vai ser removida pela autarquia para evitar que seja alvo de militantes antirracistas, mas habitantes locais mobilizaram-se nesta quinta-feira para protegê-la.
Um grupo de pessoas reuniu-se hoje junto à estátua prometendo lutar pela permanência no porto da cidade porque está virado para a ilha de Brownsea Island, onde o movimento dos escuteiros começou, em 1907. "Eu vou lutar”, prometeu Len Banister, um residente de 79 anos, opositor à ideia de o monumento ser removido.
A união dos municípios de Bournemouth, Christchurch e Poole decidiu na quarta-feira à noite remover temporariamente a estátua após ter sido identificada numa lista de potenciais alvos de manifestantes antirracismo.
A autarquia prometeu segurança 24 horas por dia até conseguir remover a estátua, trabalhos que poderão demorar devido à profundidade das fundações.
"Sabemos que a população local se orgulha das ligações de Baden-Powell e do movimento escutista a Poole, e que algumas pessoas sentem que estaríamos a ceder aos manifestantes removendo temporariamente a estátua. No entanto, sentimos que é responsável protegê-la para que futuras gerações a desfrutem e respeitem”, afirmou o vereador da Cultura, Mark Howell.
Militar de carreira, Baden-Powell (1857-1941) é conhecido por ter fundado o escutismo, uma organização com mais de 54 milhões de membros em todo o mundo que tem como princípios a realização de altruísmo e espírito cívico, mas os críticos condenam as opiniões racistas, homofóbicas e de simpatia do fundador pelo regime nazi.
Estátuas também derrubadas nos Estados Unidos
Os protestos antirracistas no Reino Unido foram desencadeados pela morte de George Floyd, um afro-americano de 46 anos, em 25 de maio, em Minneapolis (Minnesota), nos Estados Unidos, depois de um polícia branco lhe ter pressionado o pescoço com um joelho durante cerca de oito minutos numa operação de detenção, apesar de Floyd dizer que não conseguia respirar.
Desde a divulgação das imagens nas redes sociais, têm-se sucedido os protestos contra a violência policial e o racismo em dezenas de cidades norte-americanas, algumas das quais resultaram em confrontos e violência.
Os protestos pela morte de Floyd também resultaram na destruição de estátuas nos Estados Unidos.
Uma efígie de Cristóvão Colombo foi arrancada e atirada a um lago na terça em Richmond, Virgínia, e outra foi vandalizada no centro de Miami, coberta com tinta vermelha e mensagens que diziam "As ruas são nossas", "Black Lives Matter" (Vidas Negras Importam) e "George Floyd".
Notícia atualizada às 18h20
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