O objetivo desta auscultação deverá ser o de “integrar na vida da Igreja o seu contributo”.
Esta é uma das conclusões do relatório da segunda fase do processo sinodal elaborado a partir dos contributos das Dioceses e de outros organismos eclesiais nos últimos meses, e que agora será enviado para a Secretaria-Geral do Sínodo, cuja segunda Assembleia Geral decorrerá em outubro em Roma.
No documento de oito páginas hoje divulgado pela Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), é sublinhada “a necessidade de uma renovação contínua da Igreja para atender às necessidades reais das pessoas e responder aos desafios contemporâneos”.
Assim, importa “valorizar o papel das mulheres na vida eclesial e assegurar que possam participar nos processos de decisão, assumindo papéis de liderança, especificamente nos conselhos pastorais e económicos”.
“Deve-se procurar a meta da paridade, reconhecendo explicitamente o contributo crucial das mulheres, não apenas na pastoral e nos ministérios, mas também na missão da Igreja junto das comunidades”, advoga o documento.
Por outro lado, os participantes nesta fase de recolha de contributos para a proposta da CEP à segunda Assembleia Geral do Sínodo apontam para a importância de “construir a Igreja em torno da unidade, inclusão e diversidade, acolhendo todas as pessoas (com deficiência, jovens, idosos, em situação de pobreza, imigrantes e que se encontram nas mais variadas ‘fronteiras’ da sociedade)”.
É também “necessário encetar caminhos rumo à unidade junto das comunidades cristãs separadas da comunhão católica, bem como junto de membros de outras religiões”.
A participação dos leigos – não substituindo o papel dos padres nas comunidades -, dos jovens, aproveitando a dinâmica deixada pela Jornada Mundial da Juventude realizada em Lisboa em 2023, das pessoas com deficiência, integrando-as, nomeadamente nos Conselhos Pastorais como forma de reconhecer e valorizar as suas capacidades apostólicas, são outras direções apontadas pelo relatório sinodal hoje divulgado.
Merece também relevância o papel da caridade na vida da Igreja, deixando esta componente de ser o “parente pobre”.
“Exige-se esforço no sentido de mais proatividade na consciência e prática da caridade, em ordem a acolher, integrar e, na medida do possível, ajudar face às dificuldades materiais, culturais, religiosas e sociais”, defendem os elementos que compuseram o documento.
Referem também a necessidade de “envolvimento de paróquias e Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) na criação de espaços de acolhimento, a articulação com instituições do Estado e da sociedade civil no terreno, o desenvolvimento criativo de formas de integração dos pobres que vão para além do assistencialismo”.
Uma grande aposta na formação permanente dos membros do clero, em áreas como a psicologia e o trabalho em equipa, com estágios em comunidades mais desfavorecidas e periféricas (prisões, comunidades em que se cuide de doentes) ou em comunidades diversificadas (meio rural/citadino, interior/litoral, comunidades de migrantes, comunidades com minorias étnicas, comunidades nas quais a presença do presbítero não é tão frequente e outras realidades distantes do seminário, é também considerada premente.
E no capítulo da formação merece destaque “o acompanhamento do amadurecimento afetivo e sexual na formação dos ministros ordenados”.
A criação da figura do "coordenador pastoral", como elo entre o pároco e a comunidade e a criação de ministérios especificamente voltados para a pastoral familiar, nomeadamente, os para a caridade e para o serviço de escuta e acompanhamento, com enfoque particular no apoio às pessoas sós, aos idosos e às pessoas com deficiência, são outras das sugestões que a Igreja Católica Portuguesa vai enviar para Roma.
O documento é perentório a aconselhar que se continue a fazer “um discernimento” sobre “questões doutrinais/pastorais que ainda causam dúvida, controvérsia ou desacordo na vida da Igreja”, como “a moral sexual, o celibato dos padres, o envolvimento de ex-padres casados, a possibilidade de ordenação de mulheres”.
Por outro lado, reconhece que “a Igreja continua muito centrada no clero e em alguns leigos ‘clericalizados’”, o que “tem várias consequências, desde a indiferença e apatia de muitos ao pouco empenhamento de outros na vida da Igreja e na sua própria formação”.
“O clericalismo, que, entre outros aspetos, se manifesta numa conceção de privilégio pessoal, num estilo de poder mundano e na recusa a prestar contas, é um obstáculo sério ao exercício de um ministério ordenado autêntico”, avisam os autores do relatório.
O contributo da Igreja portuguesa para a fase final do Sínodo, convocada pelo Papa Francisco, que decorre desde 2021 teve como ponto de partida reuniões e sessões com participantes de diferentes sensibilidades e instâncias eclesiais, que incluíam membros de conselhos pastorais, equipas arciprestais, conselho diocesano e presbiteral e outros grupos de reflexão.
O documento final foi preparado por uma equipa que integrou José Eduardo Borges de Pinho, professor jubilado da Universidade Católica Portuguesa (UCP), Pedro Vaz Patto, presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz padre Eduardo Duque, professor da UCP, Carmo Rodeia, diretora do Serviço Diocesano para as Comunicações Sociais da Diocese de Angra, Anabela Sousa, diretora do Gabinete de Comunicação da CEP, e o padre Manuel Barbosa, secretário e porta-voz da CEP.
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