Em declarações à agência Lusa, em Lisboa, Gabriel Tchimuco, presidente da Associação de Apoio aos Doentes Angolanos em Portugal (ADAP), explicou que as pensões que acolhem estes doentes “nunca foram restauradas, recuperadas e apetrechadas”, preocupações que gostariam de fazer chegar ao chefe de Estado angolano, João Lourenço, que entre 22 e 24 de novembro realiza uma visita oficial a Portugal.
“As camas de há 15 anos, continuam a ser as camas de hoje, os colchões de há 15 anos, continuam a ser os colchões de hoje. A alimentação dos doentes é paupérrima”, lamentou.
Para Gabriel Tchimuco, o setor de Saúde é o “principal culpado” do estado atual: “O que se está a passar, é que o setor de Saúde não paga ao proprietário das pensões, há quase três anos”.
“Não se fazem omeletes sem ovos”, salientou Tchimuco, referindo-se ao facto de o setor de Saúde da Embaixada de Angola não pagar aos proprietários das pensões, que por sua vez, não conseguem garantir “uma boa alimentação aos doentes”.
“Estamos a falar de um almoço pobre e de um jantar que se reduz a uma simples sopa”, acrescentou.
O presidente de direção da Junta Nacional de Saúde de Angola, Augusto Lourenço, admitiu em julho último, em Luanda, que o Estado angolano deve mais de cinco milhões de euros ao setor de Saúde de Portugal, de despesas com pacientes abrangidos pela Junta Médica.
O responsável sublinhou que as referidas dívidas “resultam da acumulação de vários anos de atividade”, com pacientes enviados para tratamento nos hospitais portugueses, e que apesar da situação de crise económica e financeira que o país enfrenta, o Estado angolano “tem procurado amortizar”.
Em Portugal, existem duas pensões que albergam entre 150 a 170 doentes angolanos. Os restantes estão em residências.
Os doentes que optam por arrendar uma casa recebem um subsídio no valor de 150 euros, montante que segundo Gabriel Tchimuco há necessidade de atualizar, face ao valor do mercado de arrendamento imobiliário em Lisboa.
O presidente da ADAP, associação que é hoje formalizada publicamente em Lisboa, mostrou-se preocupado com a questão do alojamento, afirmando que as pensões “começam a ser pequenas”, face ao número de doentes.
“Precisamos de um espaço maior, porque somos muitos e os doentes precisam de privacidade, por questões de infeções, não usar as mesmas casas de banho, e também dar mais dignidade à própria pessoa”, indicou.
Gabriel Tchimuco recorda que os doentes quando saem de Angola “beneficiam de uma credencial de Junta que passa por um processo de inspeção”, onde “uma comissão médica avalia o doente e em função da gravidade”.
“Se for uma patologia que não se consegue dar procedimento a nível local, neste caso em Angola, o doente beneficia de uma credencial de Junta, vem para Lisboa, e é recebido pelo setor de Saúde da Embaixada de Angola em Portugal”, explicou.
O Presidente da ADAP acrescentou que as patologias mais comuns são insuficiência renal crónica e problemas de coração, adiantando que haverá mais de 30 doentes angolanos transplantados em Portugal.
Também Gabriel Tchimuco, que sofre de insuficiência renal crónica, veio para Portugal em 2013, para receber tratamento hospitalar que não está disponível em Angola.
Desde os 35 anos que o presidente da ADAP fazia hemodiálise e “felizmente” conseguiu um transplante, em 2016.
Por ter passado pelas mesmas dificuldades, Gabriel Tchimuco, hoje com 50 anos, criou a Associação de Apoio aos Doentes Angolanos em Portugal, uma tentativa de “debelar a maior parte dos problemas” que aparecem.
“O nosso objetivo principal é a salvaguarda dos direitos e da dignidade humana dos doentes angolanos que vêm para Portugal”, sublinhou.
“Podemos poupar vidas com maior e melhor atenção do setor de Saúde. Os doentes precisam de ser acompanhados, precisam de ter uma assistência social mais condigna e mais participação no setor de Saúde”, concluiu Gabriel Tchimuco.
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