O primeiro momento de tensão aconteceu junto à igreja dos Anjos, mais ou menos a meio da Avenida Almirante Reis, onde um grupo de cerca de 20 jovens com a cara tapada esperava pela passagem da manifestação.

A polícia presente no local imediatamente formou um cordão de segurança para impedir qualquer contacto entre os dois grupos.

Os jovens de cara tapada mantiveram-se em silêncio, à medida que a manifestação passava, enquanto os manifestantes gritavam palavras de ordem, insultos ou cantavam o hino nacional.

Posteriormente, entre os Anjos e o Intendente, dois jovens foram detidos pela polícia, constatou a Lusa no local.

Os dois jovens, um rapaz e uma rapariga, estariam a gritar ‘25 de abril sempre, fascismo nunca mais’, quando uma pessoa da manifestação contra a imigração se dirigiu aos dois e os agrediu com um soco, foi possível apurar no local.

A Policia imobilizou os dois jovens, que foram detidos.

Na passagem pela zona do Intendente, um forte dispositivo policial impediu qualquer contacto entre os manifestantes e o grupo de cidadãos que estava no largo, com faixas pró-imigração.

A manifestação organizada pelo Chega vai terminar no Rossio, onde o líder do partido, André Ventura, irá discursar.

Manifestação do Chega contra imigração
Manifestação do Chega contra imigração epa11632635 Far-right Chega party supporters participate in a demonstration promoted by the party 'against uncontrolled immigration and insecurity in the streets in Portugal,' in Lisbon, Portugal, 29 September 2024. Several organizations and movements, including SOS Racism, Stop Evictions, HuBB - Humans Before Borders, and Immigrant Solidarity, called via social networks for the counter-protest 'They will not pass! Against racism! Against fascism! Against Islamophobia!' at the same locations as the Chega rally. EPA/JOSE SENA GOULAO créditos: epa11632635

“É uma manifestação histórica", afirmou André Ventura

No início da manifestação, o presidente do Chega afirmou que hoje é “um dia histórico”, dizendo que se juntaram “quase três mil pessoas” em Lisboa para se manifestarem contra a imigração que o partido considera estar descontrolada.

“É uma manifestação histórica, no sentido em que é a primeira vez na história de Portugal em que um grande movimento sai à rua para dizer que quer não acabar com a imigração, mas controle na imigração”, disse, poucos minutos antes do arranque da manifestação, perto das 16:00 em Lisboa.

Ventura não quis responder sobre a presença de elementos de movimentos de extrema-direita, como Mário Machado, dizendo que quis que “toda a gente que venha a esta manifestação venha por bem”, dizendo que houve um grande esforço do Chega para que o protesto seja seguro.

“Espero que o Governo, espero que a Assembleia da República, espero que o país perceba, se não pararem a tempo, nós também não pararemos. Este movimento não parará de crescer”, disse.

A manifestação arrancou em direção ao Rossio com gritos de “nem mais um, nem mais um”.

Manifestção do Chega contra imigração
Manifestção do Chega contra imigração epa11632634 Far-right Chega party supporters participate in a demonstration promoted by the party 'against uncontrolled immigration and insecurity in the streets in Portugal,' in Lisbon, Portugal, 29 September 2024. Several organizations and movements, including SOS Racism, Stop Evictions, HuBB - Humans Before Borders, and Immigrant Solidarity, called via social networks for the counter-protest 'They will not pass! Against racism! Against fascism! Against Islamophobia!' at the same locations as the Chega rally. EPA/JOSE SENA GOULAO créditos: epa11632634

André Ventura disse estar a citar números da PSP, que seriam confirmados mais tarde, para falar de cerca de três mil pessoas na rua, o que considerou ter uma razão.

“Portugal está a ter uma imigração descontrolada. Nós estamos, neste momento, entre 10% a 15% de população imigrante. É um número que supera até países históricos de imigração na Europa e o governo socialista, quer este governo, não mostram intenções de mudar essa política”, acusou, dizendo que “é por isso que o povo tem de sair à rua”.

O líder do Chega disse que o partido defende “um país aberto a quem quer vir por bem, a quem quer vir trabalhar”. Questionado como é feito esse controlo, respondeu que anualmente a Assembleia da República terá de definir quotas “e só esses entrariam consoante as necessidades da economia”.

Questionado sobre o que fazer se mesmo esses cometerem crimes, Ventura defendeu que só há uma solução.

“Quem cometer crimes em Portugal, sendo imigrante, só tem um caminho, a deportação. É isso que nós defendemos”, afirmou, alegando que não é isso que tem acontecido em Portugal.

Já sobre a contramanifestação marcada para o Intendente, disse esperar que todos tenham respeito pelas ideias do Chega.

“Espero respeito de todos. Quer os que vieram à nossa manifestação, mas também os que estão do outro lado”, afirmou.

À pergunta se as pessoas que fogem da guerra não devem ser recebidas em Portugal, Ventura respondeu afirmativamente, mas contrapôs que “quem está a vir de Marrocos, quem está a vir do Senegal, quem está a vir do Nepal, não está a vir de nenhuma guerra”

“Ou nós acabamos com isto ou um dia não haverá país que sobreviva e não há fronteiras que sobrevivam. Hoje é a primeira vez, como digo, que nós vemos milhares de pessoas nas ruas de Lisboa a defender isto”, disse.

Sobre os benefícios da imigração para a segurança social, o líder do Chega argumentou que “o controlo da imigração terá boas consequências na economia”.

“Entrará quem quer vir contribuir e quem quer vir trabalhar e as necessidades da economia portuguesa não entrará quem já não cabe na quota portuguesa”, disse, alegando que a imigração “não pode ser vista só na segurança social”, dizendo que o excesso de imigrantes traz consequências negativas na saúde ou habitação.

O líder do Chega apontou para exemplos que considera negativos, como Alemanha e França: “Nós não nos queremos tornar num desses países caóticos. Não nos queremos tornar num desses países sem controlo de imigração. A Alemanha está agora a mudar as políticas de imigração. Porque é que nós deveremos mantê-la?”.

À hora prevista para o início da manifestação, juntavam se no jardim da Alameda, em Lisboa, mais de um milhar de pessoas com bandeiras do Chega e de Portugal, que iam gritando o nome do partido e do país e entoando o hino nacional.

No local estava um forte dispositivo policial, com várias carrinhas da policia de intervenção.

Mário Machado junta-se à manifestação

Cerca de 20 minutos antes do arranque, chegou ao local o líder do movimento de extrema-direita 1143, Mário Machado, acompanhado de algumas dezenas de pessoas, na maioria vestidos de preto, que se concentraram a alguns metros dos manifestantes e entoaram cânticos como 'Portugal é nosso e há de ser'.

A Amnistia internacional deslocou também para o local três elementos para observar o protesto, designado pelo Chega "Salvar Portugal".

Contactada pela Lusa, a Polícia de Segurança Pública (PSP) disse que conta com um reforço policial, “necessário e ajustado”, para acompanhar a manifestação “Salvar Portugal”, marcada pelo Chega contra a imigração, e uma concentração designada “Não Passarão”, promovida por coletivos antifascistas, considerando a possibilidade de se cruzarem, apesar de o parecer que deu à Câmara Municipal de Lisboa, e que foi aceite, foi para que ambas não acontecessem em simultâneo.

A população estrangeira em Portugal aumentou cerca de 33% no ano passado, totalizando mais de um milhão de imigrantes a viver legalmente no país, segundo um documento apresentado em junho pelo Governo.

De acordo com o executivo PSD/CDS-PP, a maior parte das autorizações de residência atribuídas em Portugal são para o exercício da atividade profissional.

O documento indica ainda que as migrações contribuem para “a revitalização demográfica e o aumento da população ativa”, tendo a maior parte dos estrangeiros residentes em Portugal entre os 25 e os 44 anos.

Estes dados foram apresentados após o Conselho de Ministros em que foi aprovado o Plano de Ação para as Migrações, tendo, na altura, o primeiro-ministro rejeitado “qualquer ligação direta” entre a “capacidade de acolher imigrantes e aumentos de índices de criminalidade”.