Foi em 3 de fevereiro deste ano que o agora almirante de 61 anos, submarinista, assumiu a ‘task force’ - após a demissão de Francisco Ramos devido a irregularidades no processo de vacinação -, embora estivesse desde o início da pandemia no planeamento das ações das Forças Armadas no terreno.
A partir desse dia, vestiu o camuflado para “uma guerra” contra o vírus SARS-CoV-2, e tornou-se uma cara conhecida dos portugueses. Um dos passos decisivos foi o arranque dos centros de vacinação e o momento mais conturbado ocorreu em 14 de agosto, quando Gouveia e Melo foi a Odivelas acompanhar a vacinação de jovens e acabou insultado à entrada por cerca de 30 negacionistas, que o acusaram de “assassino”.
“O negacionismo e o obscurantismo é que são os verdadeiros assassinos. O vírus associado à ignorância e ao medo ainda mata mais”, afirmou, antes de voltar a enfrentar os manifestantes na porta principal, mas já com escolta da PSP, que passou a acompanhá-lo.
A meio de agosto foi condecorado pelo Presidente da República com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Avis e, depois, em 28 de setembro, já ultrapassada a meta dos 85% de primeiras doses, Gouveia e Melo anunciou o fim da ‘task force’, destacando um processo “que vai ficar na história” e desejando “voltar ao anonimato”.
No entanto, o anonimato parece distante, com diversas presenças em eventos, entrevistas, distinções como personalidade do ano e, agora, a nomeação como chefe da Armada, depois de mais 40 anos ligado a este ramo.
A visão de Gouveia e Melo sobre a instituição está patente numa edição de 2019 dos Cadernos Navais, intitulada "Uma Marinha útil e minimamente significativa", texto de quase 80 páginas.
"Uma Marinha minimamente significativa, de duplo uso, capaz de ocupar e exercer as funções de Presença, Dissuasão e Projeção quer no espaço marítimo interterritorial, quer nas aproximações deste, contribuindo para a defesa e promoção dos interesses nacionais, para a diplomacia portuguesa e para a segurança coletiva de Portugal e dos seus aliados, é essencial", defendeu, na conclusão.
Numa entrevista ao semanário Expresso, na sexta-feira, Gouveia e Melo defendeu que é necessário investimento no mar como ativo geoestratégico, tirando proveito da situação geográfica do país para a economia.
Henrique Eduardo Passaláqua de Gouveia e Melo nasceu em Quelimane, Moçambique, em 21 novembro 1960. Ingressou na Escola Naval em 7 setembro de 1979.
O agora almirante passou 22 anos da sua carreira nos submarinos onde exerceu diversas funções operacionais, tendo comandado os submarinos Delfim e Barracuda.
Entre 1998 e 2002 liderou o Serviço de Treino e Avaliação da Esquadrilha de Submarinos e o Estado-Maior da Autoridade Nacional para o Controlo de Operações de Submarinos (SUBOPAUTH), assumindo mais tarde o comando daquela esquadrilha.
Gouveia e Melo esteve ainda na origem do curso de qualificação para comandantes de submarinos e, à data de setembro de 2019, era o oficial com mais horas de imersão, tendo enquanto comandante do Barracuda feito a imersão mais prolongada da história dos submarinos portugueses, num total de 31 dias.
Entre 2006 e 2008 comandou a fragata Vasco da Gama.
Exerceu as funções de Chefe do Serviço de Informação e Relações Públicas do Gabinete do Almirante Chefe do Estado-Maior da Armada, 2º comandante da Flotilha de Navios, Diretor de Faróis, Diretor do Instituto de Socorros a Náufragos, Chefe de Gabinete do Almirante Chefe do Estado-Maior da Armada e 2º Comandante Naval.
Desde o ano passado era adjunto para o Planeamento do Estado-Maior-General das Forças Armadas (EMGFA) e desde o início da pandemia esteve a preparar e a planear as ações conjuntas das Forças Armadas no terreno.
Antes de ser chamado para o EMGFA, era, desde janeiro de 2017, Comandante Naval na Marinha e nessa função foi o responsável pelos trabalhos de recuperação pelo seu ramo em Pedrógão Grande, na altura dos fogos, em 2017.
No percurso da sua carreira, Gouveia e Melo foi ainda distinguido com diversas condecorações.
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