Ou seja, é o mesmo que perguntar: com os mesmos votos, quais seriam os partidos portugueses que sairiam do Parlamento Europeu e quais iriam ser uma estreia lusa em Estrasburgo?

Na realidade não podemos comparar, porque as circunstâncias políticas evoluíram e esbateram-se as razões das eleições antecipadas. Da mesma forma que, com mais de um mês de novo Governo e a antiga maioria absoluta desfeita e na oposição, as intenções de voto estariam hoje certamente a refletir o momento atual.

Mas façamos o exercício, com a ajuda de João Gomes de Almeida, consultor de comunicação, que depois algumas contas baseadas no método de Hondt, concluiu, haveria mais representatividade da direita, uma vez que o Chega foi o terceiro partido mais votado. Mas iria também para o Parlamento Europeu o liberal Cotrim de Figueiredo, neste flanco que se aproxima da maioria atual na Europa.

Sem surpresas, o partido sacrificado seria o PCP, tendo em conta a redução significativa do número de deputados na AR. Mas também o Bloco de Esquerda sofreria com a repartição de votos à direita e ficaria apenas com um deputado, neste caso Catarina Martins.

Esta extrapolação deve ser entendida com um exercício teórico do técnico de comunicação, que esclarece precisamente que não podemos comparar com rigor os dois momentos eleitorais.

Em primeiro lugar, devido à surpresa da diminuição da abstenção das eleições de março. Não só se tratou de um fenómeno de inversão do numero de votantes, contrariando a tendência da subida da abstenção, que ganhava todas as legislativas em Portugal desde há cerca de duas décadas. 

Por outro lado, os “atores” são diferentes, com tendência para perfis mais experientes em liderança política e mesmo em figuras mediáticas, o que leva a concluir que a Europa está para a política como a Arábia Saudita está para o futebol. Ganha-se mais, joga-se menos e termina-se a carreira.

Talvez por este motivo, os futuros deputados europeus portugueses sejam de uma nova geração, indo como que suceder aos seus pares mais velhos, em particular no caso do PS e do PSD.

Nesta fantasia de comparar o incomparável, é preciso também ter em conta que é uma incógnita a participação dos portugueses no acto eleitoral europeu em termos de faixas etárias e se se confirma uma maior participação dos jovens e de pessoas com menores habilitações, influenciadas pelo populismo e já sem memória do regime pré-25 de Abril.

Na mesma linha de reflexão, poderíamos concluir que apenas os centros urbanos do país teriam “representatividade”, deixando mais uma vez o interior e o Alentejo desnudados de força política, à semelhança da Assembleia da República, porque o que conta para a distribuição de mandatos é o número de habitantes de cada circulo.

Todas as apostas são válidas e os números das sondagens e estudos são isso mesmo. 

Como "prognósticos só no final", voltando à metáfora do futebol, há que esperar para ver os resultados no dia 9 de junho, às 20h00, aqui como sempre no SAPO24.