Greta Thunberg, a jovem que luta pela consciencialização para as alterações climáticas, criticou as promessas dos grandes líderes mundiais, dizendo que são “blá, blá, blá”. Citando Boris Johnson e Narendra Modi, Thunberg lembrou que a ciência não mente e as emissões continuam a crescer, apesar das palavras dos políticos.

"Isso é tudo o que ouvimos por parte dos nossos líderes: palavras. Palavras que soam bem, mas que não provocaram ação alguma. As nossas esperanças e sonhos afogam-se nas suas palavras de promessas vazias", afirmou a ativista sueca, aplaudida por jovens do mundo inteiro.

"Não existe um planeta B, não existe um planeta blá blá blá, economia verde blá blá blá, neutralidade do carbono para 2050 blá blá blá", acrescentou, denunciando "trinta anos de blá blá blá" dos líderes mundiais e "sua traição com as gerações atuais e futuras".

Quatrocentos jovens, com idades entre os 15 e os 29 anos, oriundos de quase 200 países e selecionados pela ONU entre cerca de nove mil candidatos, estão reunidos até quinta-feira em Milão, no norte de Itália, para elaborar um texto com uma visão comum sobre a emergência climática e as ações prioritárias a ser concretizadas.

Esta declaração será apresentada no fim de semana a cinquenta ministros reunidos para os preparativos da COP26, prevista para novembro em Glasgow, na Escócia.

"Eu ouço-vos (...). Queremos ouvir as vossas ideias criativas e ambiciosas", disse o presidente britânico da COP26, Alok Sharma, em vídeo. "No início deste mês, uma sondagem entre os jovens revelou que mais da metade teme que a humanidade esteja condenada ao fracasso. Francamente, isso envergonha a minha geração", acrescentou.

"Mas hoje, os líderes mundiais têm a hipótese de se redimir, de assumir compromissos ambiciosos", para respeitar o objetivo ideal do Acordo de Paris (COP21) de limitar o aquecimento para 1,5° C em relação à era pré-industrial, afirmou ainda.

Futuro sem um lugar à mesa

No entanto, não é certo que suas palavras convençam os jovens reunidos na Lombardia. "Convidam jovens selecionados a dedo para reuniões como esta e fingem que nos escutam, mas não o fazem, nunca nos escutam", respondeu Greta Thunberg no palanque.

“Está na altura de os nossos dirigentes despertarem, chegou a hora de os nossos líderes pararem de falar e começarem a agir. Já é hora de os poluidores pagarem, é a hora de cumprirem com as promessas", disse a ativista ugandesa Vanessa Nakate, detalhando o "sofrimento" suportado em África, na Ásia e no Pacífico pelos povos menos responsáveis pelo aquecimento global.

"É o momento. E não se esqueçam de ouvir aqueles que são os mais vulneráveis", acrescentou, emocionada, diante do público que a aplaudiu de pé.

Enquanto as catástrofes climáticas continuam a crescer, os compromissos dos estados ainda não estão no nível da tarefa para concretizar as metas do Acordo de Paris, de limitar o aquecimento global a menos de 2° C em relação à era pré-industrial e, caso seja possível, em 1,5°C.

Segundo um relatório muito recente da ONU, o mundo caminha para um aquecimento "catastrófico" de 2,7ºC.

"Precisamos de ouvir a ciência. Devemos realizar a transição ]para uma economia baixa em carbono] antes de 2030", defendeu a peruana Valery Salas, de 24 anos, uma dos 400 delegados presentes. "Nós, jovens, estamos aqui para trabalhar, para propor, para encontrar soluções para um futuro melhor", disse à AFP, preocupada porque os jovens "não têm lugar na mesa" das decisões políticas.

Assim como nas manifestações que levaram milhões dos seus colegas às ruas de todo o mundo nos últimos anos, os jovens reunidos em Milão responderam a uma só voz:  "O que queremos?" "Justiça climática" "Para quando queremos?" "Agora".

*Com AFP