
"Agora compreendemos porque é que as lianas são visíveis em imagens de satélite", sublinharam os investigadores, após dois estudos recentes da Universidade de Leiden, nos Países Baixos, que realçam este problema.
As florestas tropicais absorvem aproximadamente a mesma quantidade de CO2 emitida anualmente que toda a Europa. Além disso, albergam cerca de metade da biodiversidade mundial.
No entanto, o seu contributo para a regulação do clima e da biodiversidade está ameaçado, não só pela desflorestação, mas também por um aumento extraordinário de lianas.
O ecologista Marco Visser, do Centro de Ciências Ambientais (CML) em Leiden, explicou, em comunicado, que "as lianas podem sufocar e matar árvores".
"Quando dominam, a floresta sufoca, e as lianas continuam a crescer principalmente em árvores caídas", frisou.
Durante a sua investigação de doutoramento em 2016, Visser foi o primeiro a modelar lianas como doenças infecciosas.
As trepadeiras, tal como a flor da paixão e muitas outras espécies, podem ser comparadas às ténias. Intercetam os recursos das árvores e podem mais do que duplicar a sua mortalidade.
Na CML, Visser supervisiona atualmente a candidata a doutoramento Manuela Rueda-Trujillo, que analisou centenas de estudos sobre lianas.
O artigo, publicado no verão passado na Global Change Biology, revelou que o aumento não se limita à América do Sul e Latina, como se acreditava anteriormente, mas está a ocorrer onde quer que existam florestas tropicais.
"Uma pandemia de lianas tem vindo a devastar a região há mais de 30 anos, com a sua prevalência a aumentar 10% a 24% a cada década", apontou Visser.
As lianas estão a expandir rapidamente o seu alcance nas florestas tropicais, por vezes suprimindo completamente o crescimento das árvores em certas áreas. Nestas áreas, a regeneração florestal é interrompida e o armazenamento de carbono pode diminuir até 95%.
"Isto é quase equivalente à desflorestação", alertou Visser.
Os investigadores atribuíram isso ao aumento dos níveis de CO2 atmosférico. Todas as plantas crescem mais rapidamente com mais CO2, mas as trepadeiras beneficiam ainda mais.
Ao não investirem no suporte estrutural, fazem 'batota' ao 'pedir' esse suporte emprestado às árvores, e as suas folhas exigem menos energia e nutrientes para serem produzidas.
Uma liana pode subir rapidamente na copa das árvores, espalhando uma cobertura frondosa sobre o topo e monopolizando toda a luz solar.
Em 28 de abril, Visser publicou uma pesquisa na revista Ecology mostrando que as lianas são visíveis do espaço. Em colaboração com colegas norte-americanos e britânicos, demonstrou porquê.
As folhas que tornam as lianas ultraeficientes refletem mais luz e radiação infravermelha do que a folhagem das árvores. São também muito mais planas que as folhas das árvores.
"As lianas são realmente egoístas", explicou Visser. As folhas das árvores caem, permitindo que a luz chegue às plantas vizinhas mais baixas. Até o solo da floresta recebe um pouco de luz solar.
Mas as lianas praticamente não deixam passar a luz às outras. Estas propriedades tornam-nas visíveis em imagens de satélite.
"Agora que compreendemos porque é que as lianas são detetáveis do espaço, podemos desenvolver técnicas específicas para mapear a sua disseminação e impacto a nível global", garantiu.
Visser não defende o corte destas plantas para já: "Não devemos intervir enquanto não compreendermos completamente a sua função ecológica. Dão frutos durante todo o ano e são vitais para espécies raras de macacos e aves".
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