As listas são muitas. Alguns nomes coincidem, outros nem tanto. O nome daquele que vai suceder ao Papa Francisco só vai ser conhecido depois da votação dos cardeais eleitores durante o conclave, que começa a 7 de maio, mas isso não impede que se tente perceber com antecedência o que pode acontecer.

Em 2013, o nome de Jorge Mario Bergoglio aparecia em poucas listas e nunca como favorito, mas o seu discurso numa das congregações gerais despertou as atenções dos cardeais para aquilo que queriam para o futuro da Igreja Católica. Ao fim de dois dias de votação, chegava o Papa Francisco, o primeiro pontífice sul-americano e, nas palavras do próprio, vindo do fim do mundo.

Agora, com a morte de Francisco, o mundo vai estar de olhos postos na chaminé da Capela Sistina, de onde vai sair o fumo branco que anuncia o próximo Papa.

Os nomes são vários e as questões muitas. Espera-se um Papa na linha de Francisco? Um mais conservador? Os italianos voltam a ocupar o trono de São Pedro? Ou vem aí outro pontífice do fim do mundo — ou mesmo um português?

Estes são alguns nomes possíveis entre os 133 cardeais eleitores.

Os italianos

Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano - 70 anos

Pietro Parolin nasceu em Schiavon, na província e diocese de Vicenza, no Norte de Itália, filho de um gerente de uma loja de ferragens e de uma professora primária, ambos católicos praticantes.

Entrou no seminário de Vicenza aos catorze anos. Depois da ordenação sacerdotal em 1980, com 25 anos, estudou direito canónico na Universidade Gregoriana de Roma. Durante esse tempo, começou a preparar-se para o serviço diplomático do Vaticano, trabalho que iniciou formalmente em 1986.

É fluente em italiano, francês, espanhol e inglês.

Em 2009, foi ordenado bispo por Bento XVI e nomeado núncio em Caracas, na Venezuela.

O Papa Francisco nomeou Parolin secretário de Estado em 2013 e, em 2014, nomeou-o para o seu “Conselho de Cardeais” interno, que o aconselhava sobre a reforma da Igreja.

Tem sido visto como um candidato de compromisso entre progressistas e conservadores. Um ponto fraco é o facto de ter pouca experiência pastoral, já que trabalhou sempre nas missões diplomáticas.

Matteo Zuppi, arcebispo de Bolonha - 69 anos

Nascido e criado em Roma, tem ligações familiares estreitas com o Vaticano. O seu pai, Enrico, era um jornalista e fotógrafo que o então secretário de Estado adjunto, Giovanni Battista Montini (o futuro Papa Paulo VI), nomeou editor do L'Osservatore della Domenica, uma edição semanal ilustrada do L'Osservatore Romano. A mãe de Matteo, Carla Fumagalli, era sobrinha do Cardeal Carlo Confalonieri, que foi secretário do Papa Pio XI.

Em 1977, com vinte e dois anos, licenciou-se em literatura e filosofia na Universidade La Sapienza de Roma, com uma tese sobre a vida do Cardeal Alfredo Ildefonso Schuster. Entrou depois num seminário da diocese de Palestrina, nos arredores de Roma, e estudou para o sacerdócio na Pontifícia Universidade Lateranense.

O Papa Francisco nomeou Zuppi arcebispo de Bolonha em 2015, sucedendo ao cardeal Carlo Caffarra, e elevou-o a cardeal em 2019.

Zuppi tem sido apontado como um prelado italiano muito ligado à ala política de esquerda da Igreja, que provavelmente continuaria o legado do Papa Francisco, nomeadamente no cuidado com a vida dos pobres e marginalizados. Tem também uma grande devoção a Nossa Senhora e foi chamado de "Bergoglio italiano".

Além do seu italiano nativo, o cardeal Matteo Zuppi apenas tem alguns conhecimentos de inglês.

É conhecido pela sua ação de rua e por ignorar o protocolo. Muitas vezes é visto a andar de bicicleta em Bolonha, em vez de usar um carro oficial.

Um ponto positivo tem sido a sua ação diplomática, nomeadamente como enviado papal para o conflito Rússia-Ucrânia, concentrando-se em esforços para repatriar crianças que, segundo a Ucrânia, foram deportadas para a Rússia ou para territórios controlados pela Rússia.

Os que vêm do "fim do mundo"

Luis Antonio Tagle, pró-prefeito do Dicastério para a Evangelização - 67 anos

O avô paterno de Luis Antonio Gokim Tagle provinha de uma família filipina de classe alta e a avó materna de uma família chinesa abastada que imigrou para as Filipinas.

Quis ser médico, mas acabou por entrar no seminário. Os Jesuítas desempenharam um papel importante na sua formação, tendo-o ensinado no Seminário de San José e depois na Universidade Ateneo de Manila. Foi ordenado sacerdote para a Arquidiocese de Manila em 1982.

Enviado para os Estados Unidos pelo seu bispo, licenciou-se em teologia em 1987 e doutorou-se em 1991. Voltou às Filipinas e Bento XVI criou Tagle como cardeal em 2012.

Em 2019, o Papa Francisco chamou Tagle para residir em Roma como prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos. Após a reestruturação da congregação, foi anunciado que Tagle seria pró-prefeito do Dicastério para a Evangelização.

É conhecido como o “Francisco asiático”, pela sua proximidade às ideias do Papa Francisco, nomeadamente no que toca a questões de justiça social, e chegou a ser visto como um dos preferidos do próprio para lhe suceder.

Há quem considere que um dos pontos negativos é o facto de não ter medo de partilhar as suas emoções e de exibir um lado mais brincalhão quando dança com jovens ou quando celebra missa de forma descontraída.

O cardeal Tagle é conhecido pelas suas capacidades linguísticas. Para além do seu tagalog nativo, é fluente em inglês e italiano e tem conhecimentos de francês, coreano, chinês e latim.

Robert Sarah, prefeito emérito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos - 79 anos

Nasceu a 15 de junho de 1945, na Guiné. Os seus pais converteram-se ao cristianismo a partir do animismo e, depois da escola secundária, foi obrigado a sair de casa para continuar os seus estudos no seminário menor de Bingerville, na Costa do Marfim.

Após a independência da Guiné, em 1958, regressou a casa, completou os estudos e foi ordenado sacerdote a 20 de julho de 1969, em Conacri.

Em 1979, foi nomeado arcebispo de Conacri, com trinta e quatro anos de idade, o que fez dele o bispo mais jovem do mundo e lhe valeu a alcunha de "bispo bebé", dada por João Paulo II.

É um antigo alto funcionário do Vaticano, mais aliado a uma vertente tradicional da Igreja, e tem desempenhado um papel importante no apoio aos católicos que frequentam a missa tradicional em latim. Mostra posições muito conservadoras sobre a homossexualidade e a imigração, entre outras temáticas.

Passou por várias pastas no Vaticano, como as Congregações para a Evangelização dos Povos e para as Causas dos Santos e o Comité Pontifício para os Congressos Eucarísticos Internacionais.

Embora não se tivesse destacado no anterior conclave, ganhou protagonismo no pontificado do Papa Francisco, principalmente com o cargo de prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos.

Fala fluentemente francês, italiano e inglês.

Jean-Marc Aveline, arcebispo Metropolitano de Marselha - 66 anos

Nasceu na Argélia, quando o país estava sob o domínio colonial francês, mas viveu lá poucos anos, já que a sua família foi obrigada a exilar-se em 1962, o que acabou por encurtar o tempo num país mais distante.

Repatriados, chegaram primeiro a Villejuif, perto de Paris, e depois a Marselha, onde se instalaram em 1965. Para o cardeal, a experiência que chegou a considerar com traumática fez com que mostrasse uma preocupação especial com os migrantes e uma sensibilidade para o tema do exílio, temas que partilhava com o Papa Francisco.

Em 1977, entrou para o seminário de Avignon e terminou os seus estudos em Paris, no seminário de Carmes. Estudou no Institut Catholique de Paris e licenciou-se em grego bíblico e hebraico e em teologia. Ao mesmo tempo, estudou filosofia na Sorbonne.

Terminou os seus estudos seminarísticos em Paris, no seminário de Carmes. Estudou no Institut Catholique de Paris e licenciou-se em grego bíblico e hebraico e em teologia. Ao mesmo tempo, estudou filosofia na Sorbonne.

Foi ordenado padre a 3 de novembro de 1984 e, ao fim de 30 anos, foi nomeado bispo auxiliar de Marselha. Levou sempre uma carreira académica a par com a vida eclesiástica, pelo que o tema da Educação lhe é muito próximo.

Aveline foi um dos 21 cardeais criados pelo Papa Francisco no consistório de 27 de agosto de 2022 e conseguiu que o Papa visitasse França, com o tema dos migrantes e das periferias em destaque.

Fala francês, árabe e inglês. Tem também conhecimentos de italiano.

O português

José Tolentino de Mendonça, prefeito do Dicastério da Cultura e Educação - 59 anos

José Tolentino de Mendonça nasceu na Madeira, em 1965, é um dos mais jovens membros do Colégio Cardinalício. Passou alguns anos em Angola e é filho de um pescador.

Depois de regressar à Madeira, em 1975, Tolentino de Mendonça entrou no seminário menor e licenciou-se em Teologia na Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa, em 1989. Foi ordenado no ano seguinte para a Diocese do Funchal, mas só serviu como pároco na Madeira durante três anos. Depois, voltou ao Patriarcado de Lisboa.

Desempenhou várias funções académicas a nível nacional e internacional e também importantes funções eclesiásticas.

Em 2018, o Papa Francisco escolheu-o para pregar os exercícios espirituais para a Cúria Romana em Ariccia e, quatro meses depois, nomeou-o arquivista e bibliotecário da Santa Igreja Romana, elevando-o ao mesmo tempo a arcebispo. Em 2019, foi feito cardeal e nomeado para vários dicastérios do Vaticano. Em setembro de 2022 foi nomeado prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação.

O cardeal poeta, como muitas vezes é designado, é associado à ala mais "progressista" da Igreja, com uma estreita afinidade com o Papa Francisco e os seus temas.

Alguns dos seus poemas referem-se a temas religiosos, mas a sua obra abrange também uma grande variedade de experiências humanas.

Fala fluentemente português, italiano e inglês, para além das línguas clássicas hebraico e grego antigo.