Depois de uma campanha eleitoral polarizada e marcada pelo avanço da extrema-direita, apoiada pelo regresso de Donald Trump ao cenário político, a Alemanha vai a votos este domingo, dia 23. À frente na corrida para o governo estão os conservadores (CDU), liderados por Friedrich Merz, o candidato favorito para governar um país.

O chanceler alemão, Olaf Scholz, disse hoje esperar uma recuperação das intenções de voto, com a ajuda dos indecisos, no último ato de campanha na véspera das eleições legislativas antecipadas na Alemanha.

“Amanhã [domingo] decide-se como vão continuar as coisas na Alemanha. Espero que muitas pessoas votem, muitos só decidirão em cima da hora. Precisamos de um mandato forte para o Partido Social Democrata [SPD] na Alemanha”, disse Scholz, num evento em Potsdam, no Estado federal de Brandemburgo.

A menos de 24 horas da abertura das assembleias de voto, Scholz, que se recandidata ao cargo pelo SPD, continuou a manifestar confiança de que as sondagens, que dão ao partido o terceiro lugar nas eleições para o parlamento, não estão corretas.

“Não acredito em milagres, mas sim na vitória. Estou convencido de que muitos não decidirão o seu voto até ao último momento”, afirmou aos jornalistas enquanto caminhava pelas ruas do seu círculo eleitoral em Potsdam, pouco antes do último ato de campanha.

A guerra Ucrânia-Rússia foi um dos temas que Scholz abordou numa breve intervenção em Potsdam, antes de se submeter a perguntas do público.

“Esta guerra tem que terminar, mas a Ucrânia tem que sobreviver como nação soberana”, sublinhou.

Scholz evitou dar qualquer sinal de ser um homem em retirada quando foi questionado se, caso fizesse parte do próximo Governo, procuraria fortalecer a União Europeia.

“Vou liderar o próximo Governo e isso permite-me prometê-lo com mais ênfase”, respondeu.

Questionado sobre a ascensão do partido da extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD), que segue em segundo lugar nas sondagens, Olaf Scholz recusou a ideia de tal se dever em parte a erros do seu Governo.

“A insegurança aumentou e, em tempos de insegurança, partidos como o AfD prometem resolver os problemas dividindo as pessoas. Não devemos permitir isso”, optou por responder.

Como começou a crise?

A Alemanha vai a votos no domingo para escolher um novo Governo e deputados para o parlamento, depois do executivo de Olaf Scholz ter sucumbido à moção de confiança que apresentou em dezembro no parlamento.

Tratou-se de uma iniciativa tática para provocar eleições legislativas antecipadas após a coligação que sustentava o Governo ter sido dissolvida.

Após mais de três anos no poder, a coligação “semáforo” liderada pelo Partido Social-Democrata (SPD) de Scholz (vermelho), com os Verdes e o Partido Democrático Liberal (FDP) (amarelo) rompeu-se a 6 de novembro.

Quem é o favorito a ganhar as eleições?

O candidato favorito nestas eleições é o líder da oposição conservadora alemã (CDU), Friedrich Merz, um advogado milionário sem experiência política, que lidera as sondagens para estas eleições.

Os conservadores da União Democrata-Cristã e a União Social-Cristã (CDU/CSU) estão à frente na corrida para o governo, com 30% das intenções de voto, seguidos pelo partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD, 20%).

O atual chanceler Olaf Scholz surge em terceiro lugar na preferência dos eleitores alemães, com 18%.

Com dúvidas em relação ao seu lugar no governo alemão, Friedrich Merz coloca-se contra a AfD e refere que "a maioria dos alemães não quer mais extremismo, mais ódio, nem mais polarização". Culpa Olaf Scholz pela ascensão da extrema-direita e argumenta ainda que se as forças moderadas não atuarem, a extrema-direita poderá um dia obstruir o trabalho do governo ou, inclusive, "aproximar-se de uma maioria".

Ainda assim, quer captar eleitores da AfD e, para isso, apresenta uma série de propostas sobre o fecho de fronteiras para migrantes sem documentos, mesmo que solicitem asilo — um direito legal — e a prisão daqueles que aguardam deportação. Na sua candidatura, Friedrich Merz prometeu aos eleitores alemães "tolerância zero" em termos de ordem pública, limitar a política "woke" e a linguagem inclusiva e estudar um retorno à energia nuclear.

Apesar de descartar a possibilidade de um governo com o partido extremista, Friedrich Merz procurou recentemente o apoio da AfD para aprovar uma moção parlamentar controversa que pretende endurecer a política migratória, em resposta a um ataque terrorista recente.

Além desse caso, vários atentados mortais nas semanas que antecederam as eleições inflamaram o debate sobre a imigração e aumentaram o apoio ao partido. A aproximação de Friedrich Merz à extrema-direita levou dezenas de milhares de manifestantes às ruas, que denunciaram uma "campanha como se fosse 1933".

*Com Lusa e AFP