As eleições deste domingo, 22 de setembro, na Madeira tiveram dois derrotados inequívocos: Bloco de Esquerda e Nova Democracia, que em 2015 tinham eleito respetivamente dois e um deputados, e que agora que falham a eleição de qualquer deputado e assim deixam de estar representados no parlamento regional.
Um primeiro dado objetivo é que o espectro partidário na Assembleia regional encolhe e passa de sete partidos a cinco partidos.
Olhando agora para os cinco partidos que elegeram deputados - PSD. PS, CDS-PP. JPP e CDU - vemos realidades distintas. O mesmo se aplica às interpretações face aos resultados.
Começando pelo PSD, há 43 anos no poder na Madeira, sempre com maioria absoluta. Sempre, até este domingo em que venceu mas ficou obrigado a um governo de coligação. Em lugares no parlamento, isto significa que, com 39,4% dos votos em 2019 versus 44,3% em 2015, o PPD-PSD passa de 24 deputados para 21 deputados.
E em votos expressos? Em 2015, o PSD obteve 56.569 votos. Em 2019, os sociais democratas foram a escolha de 56.448, o que dá uma ligeiríssima diferença de 121 votos.
O PS de 2015 não é o PS de 2019. Nem na forma como se apresentou aos eleitores, nem nos votos obtidos. Há quatro anos, o PS foi a votos em coligação com o PTP (Partido Trabalhista Português), com o PAN e com o MPT (Partido da Terra) e elegeu seis deputados. Em percentagem, obteve 11,43%. Nestas eleições, o PS apresentou-se sozinho e obteve 35,7% dos votos, elegendo 19 deputados, o que configura um muito significativo crescimento. Que se traduz, naturalmente, nos votos expressos: 14.574 em 2015 versus 51207 em 2019.
Olhando para os votos expressos, os dois maiores partidos, PSD e PS, estão separados por 5241 votos.
Não será por isso de estranhar que bipolarização tenha sido uma das palavras da noite eleitoral - pela primeira vez em quatro décadas de democracia, a Madeira acolhe uma realidade política dominada pelos tradicionais "grandes" partidos portugueses, PSD e PS.
O que não significa que a decisão sobre o futuro governo da Madeira esteja nas mãos de sociais-democratas e socialistas. Ou dito de melhor forma, está mas só até certo ponto. Não tendo nenhum dos dois maioria absoluta, a solução governativa terá de passar por uma coligação. Num parlamento com 47 deputados, a maioria alcança-se com 24 deputados e essa é precisamente a soma mágica dos 21 deputados eleitos pelo PSD com os três deputados eleitos pelo CDS-PP. Assim haja o entendimento que Miguel Albuquerque assumiu estar a ser conversado.
O CDS-PP pode assim acabar por ter a derrota mais saborosa da noite. Derrota porque face a 2015 quando elegeu sete deputados e teve 13.7% dos votos, os resultados deste domingo não foram bons. Elege três deputados e tem 5,7% dos votos. No que respeita a votos expressos, passa de 17.489 votos para quase metade, 8246 votos. No entanto, o rosto sorridente com que Rui Barreto, o líder centrista da Madeira, subiu à tribuna para as primeiras declarações face aos resultados eleitorais não deixavam dúvida que esta era, provavelmente, a derrota mais saborosa que poderia esperar.
À esquerda, o cenário não contempla sorrisos. Nem mesmo do PCP-PEV que mesmo na recta final conseguiu eleger um deputado solitário que irá representar os comunistas no parlamento da ilha. Jerónimo de Sousa não poupou nas críticas ao PS e fez talvez o discurso mais duro da noite acusando os socialistas de promoverem uma "bipolarização artificial" e de serem uma "fotocópia do PSD". Os comunistas que em 2015 tinham eleito dois deputados e obtido 5,5% dos votos, ficaram com apenas um mandato decorrente de 1,8% dos votos. Em números absolutos passam de 7.060 para 2577.
Pior que isso só o Bloco de Esquerda que em 2015 tinha obtido 3,8% dos votos e também eleito dois deputados e que agora encolhe para metade, ficando com 1,7% dos votos e não conseguindo eleger um único deputado. Em votos expressos significa uma redução de 4.850, em 2015, para 2489, em 2019.
O quinto partido a conquistar lugares no parlamento é o Juntos pelo Povo, um partido originário da Madeira e que assinala este ano uma década de existência. Em 2015 tiveram uma representatividade de 10,28, que lhes valeu cinco deputados e um lugar precioso no xadrez político madeirense. Um valor que ficou agora reduzido a metade, 5.47%, elegendo três deputados. Em votos são menos 5284 eleitores: 13.114 em 2015 versus 7830 este domingo.
O futuro governo segue dentro de momentos
No que respeita a futuras alianças, a coligação PSD e CDS afigura-se como a mais óbvia, até pelo histórico de alianças entre os dois partidos a nível nacional. Os primeiros sinais dos dois líderes regionais, Albuquerque e Barreto, também apontam nesse sentido. Mas, nada está decidido e, na verdade, o conceito de óbvio já não é o mesmo há pelo menos cinco anos.
Paulo Cafôfo, o candidato derrotado-vencedor do Partido Socialista, depois de um arranque no discurso da noite eleitoral que parecia sumarizar-se ás declarações entre cavalheiros - "tivemos o melhor resultado de sempre, mas o PS não foi o partido mais votado e quero felicitar o PSD" - disparou para um repto em modo António Costa-eleições de 2015 e desafio todos, é importante sublinhar "todos", os partidos da oposição a juntarem-se ao PS numa solução de governo.
É possível?
Face aos números expostos, sem dúvida que sim.
Aliás, se todas as forças com representação parlamentar, excetuando o PSD, se aliassem ao PS, a matemática não teria mistério algum: seriam 21 deputados sociais democratas de um lado e 19 socialistas + dois centristas + mais um comunista + três JPPs.
Mas quem disse que a política é fácil? Não é, e dificilmente será a Madeira a contrariar esse facto.
Por partes:
- O CDS-PP fez toda uma campanha, e reafirmou na noite eleitoral, que não fará coligações com as forças extremistas de esquerda (o que não configura exatamente o PS, mas pode configurar uma aliança hipotética - e bastante improvável no atual cenário - do PS com o PCP-PEV) ;
- O PCP-PEV pela voz de Jerónimo de Sousa proferiu o ataque porventura mais incisivo ao Partido Socialista, deixando claro que a estratégia do PS a solo e a bipolarização com o PSD mereciam todo o repúdio aos comunistas;
- Sobra o JPP, e os seus três deputados, que durante a campanha apenas excluiu acordo com o PSD, o que deixa disponibilidade para o PS. Problema: os três votos do JPP com os 19 do PS não chegam para a maioria parlamentar (os tais 24 deputados), o que implicaria sempre, pelo menos, mais um partido na geringonça madeirense
Pequenos partidos, o que a Madeira nos diz?
Resta olhar para os pequenos partidos, aqueles de que tanto se falou nestas semanas que antecedem as eleições nacionais de dia 6 de outubro.
Começando pelo PAN. Deixou de estar representado no parlamento ao deixar de estar coligado com o PS, mas não é possível saber qual a diferença de votos já que em 2015 os resultados vinham agregados na coligação. Este domingo, representou 1,4% dos votos na Madeira, o equivalente a 2095 votos. É o mais votado dos pequenos partidos
O segundo mais votado é o PURP com 1.23% dos votos e 1766 dos votos.
Segue-se o R.I.R. de Tino de Rans com uma votação de 1.21% e 1739 votos.
O PTP, outro órfão da coligação com os socialistas, obteve 1% dos votos e representou 1426 votos.
O Aliança de Pedro Santana Lopes não foi além de 0.53% dos votos, obtendo o voto de 766 eleitores, uma percentagem igual à do Iniciativa Liberal que obteve 762 votos.
O Chega de André Ventura teve 0.43%, resultante de 619 votos, um valor muito próximo do PTCP-MRPP e do PRD, ambos com 0,42%, decorrentes, respetivamente, a 601 e 603 votos.
O MPT, que também deixou de contar com a coligação com o PS, registou 0.35% e 506 votos.
Fecha a lista o PNR com uma votação de 0.19% resultante de 274 votos.
Falta falar da abstenção e são boas notícias. Segundo os resultados provisórios das eleições de hoje divulgados no site da Secretaria-Geral do Ministério da Administração Interna, a abstenção terá ficado nos 44,49% o que não é só uma melhoria face a 2015, ano que registou um valor recorde da abstenção não tendo votado 50,42% dos eleitores inscritos, como é a primeira vez que este valor desce em 35 anos.
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