"Não estamos equipados para lidar com pessoas que mentem descaradamente. Noticiamos ambos os lados com igual peso e não fomos suficientemente críticos. Fizemos um mau trabalho na verificação", disse o editor-adjunto da seção de Media do jornal britânico, no decorrer de uma conferência na Web Summit, em Lisboa.
O debate "Brexit: Tales from the Trenches" (Brexit: Histórias das Trincheiras) acabou por cruzar o resultado do referendo britânico sobre a saída do Reino Unido da União Europeia com a vitória do candidato republicano, Donald Trump, nas eleições presidenciais norte-americanas de terça-feira.
Jasper Jackson considerou que tanto a opção Brexit como o candidato republicano nos EUA (um multimilionário com presença frequente em reality-shows nos Estados Unidos) ganharam a batalha nos media sociais
"Os ângulos mais fantasiosos ou mesmo mentiras têm uma tendência maior a espalhar-se mais nos media sociais", pelo que "é mais fácil derrubar nos media sociais do que construir", disse o especialista em media.
"É uma questão de tempo dedicado a prestar atenção. A concorrência pela atenção é tão forte, quando tens tantas fontes de atenção diferentes nos media sociais, que tens mais reações imediatas quando se usam argumentos mais simplistas", realçou.
Uma possível solução seria a de os media convencionais confrontarem com essas mentiras as figuras associadas a cada uma das posições (dirigentes pró-Brexit ou elementos da campanha de Donald Trump).
O problema, afirmou Jasper Jackson, é que os próprios media sociais inviabilizam em parte essa via.
"Eles podem ser confrontados com as mentiras. Mas as mentiras são mais procuradas do que a verdade”, disse.
Jasper Jackson deu o exemplo de um grupo de rapazes na Macedónia que decidiu, a três dias das eleições norte-americanas, lançar um site com várias histórias falsas pró-Trump, "porque perceberam que esse caminho traria mais impacto e atenção para o seu site".
"O objetivo era angariar dinheiro para um projeto, mas tiveram uma atenção" incomparavelmente superior a outras histórias de meios convencionais.
"Nós, os jornalistas, temos aquele ‘problema' de ter de ir encontrar factos e desenterrar os vídeos do Trump. E estes miúdos têm tanto poder como um jornal do ‘establishment' como o New York Times", disse Jasper Jackson.
Donald Trump venceu as eleições presidenciais norte-americanas, derrotando, contra o que previam as sondagens, a adversária democrata, Hillary Clinton.
No discurso de vitória, Donald Trump garantiu que será o Presidente de todos os americanos e que é hora de os norte-americanos curarem as feridas da divisão e se juntarem "como um povo unido".
Garantiu também que os Estados Unidos irão "dar-se bem com todas as Nações que queiram dar-se bem" com Washington.
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