“Infelizmente não temos qualquer relação (com a administração dos Estados Unidos). (Donald) Trump tomou todas as decisões para acabar com (…) as relações com os palestinianos”, declara Nabil Abuznaid em entrevista à agência Lusa.
A 6 de dezembro de 2017, faz na próxima sexta-feira dois anos, o Presidente dos Estados Unidos reconheceu Jerusalém como capital de Israel, desencadeando a cólera dos palestinianos e rompendo com décadas de consenso internacional.
O estatuto da cidade é um dos problemas mais difíceis do conflito, os palestinianos reivindicam Jerusalém Oriental, ocupada por Israel em 1967 e depois anexada, como capital do Estado a que aspiram.
Abuznaid recorda que Trump também encerrou a missão da Palestina em Washington, deixou de financiar organizações de apoio aos palestinianos, nomeadamente aos refugiados, “mudou a embaixada para Jerusalém (na sequência do reconhecimento da cidade como capital israelita)” e acabou com o consulado nesta cidade “que negociava com os palestinianos” há muitos anos.
“Ele mudou tudo (…) age como se fosse o dono do mundo”, diz o diplomata sobre o Presidente dos Estados Unidos.
Lembra que o direito à autodeterminação dos palestinianos foi apoiado por 164 países nas Nações Unidas há uma semana para sublinhar: “Onde é que está o nosso problema? (está) Com duas pessoas acusadas de crimes”.
“O mundo é governado por pessoas que não são respeitadas dentro das suas próprias sociedades nem pelo resto do mundo”
O representante da Autoridade Palestiniana em Lisboa referia-se às acusações de abuso de poder contra Trump, que está a ser investigado pela Câmara de Representantes num processo de destituição, e às de fraude, suborno e abuso de confiança em três casos de corrupção anunciadas recentemente contra o primeiro-ministro israelita em funções, Benjamin Netanyahu.
“O mundo é governado por pessoas que não são respeitadas dentro das suas próprias sociedades nem pelo resto do mundo”, indica Abuznaid.
O embaixador considera que Trump e Netanyahu se “usam um ao outro à custa dos palestinianos”, o primeiro precisa do segundo “para obter alguns votos de judeus nos Estados Unidos” e “Netanyahu precisa de Trump para lhe dar mais poder em coisas como Jerusalém”.
Neste contexto, são insignificantes as expectativas de Nabil Abuznaid sobre o plano de paz norte-americano para o conflito israelo-palestiniano, que Trump prometeu apresentar para conseguir o “acordo do século”.
“Lamentavelmente não vejo que quaisquer negociações possam acontecer em breve”, afirma, adiantando que os palestinianos esperavam que a posição dos Estados Unidos fosse a de um “mediador neutro e parceiro para a paz”.
O diplomata questiona a possibilidade de negociações quando, diz, é pedido aos palestinianos “não falem sobre Jerusalém (…), não falem de colonatos, não falem de refugiados”.
“Com a política Trump-Netanyahu, com a sua posição em relação aos palestinianos (…) não há esperança para um Estado palestiniano e não negociamos por negociar, para dar mais tempo a Israel para construir colonatos”, declara Abuznaid.
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