A iniciativa, que visa debater e mostrar o trabalho feito pelos cientistas portugueses, é organizada anualmente pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, em colaboração com a Ciência Viva - Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica e a comissão parlamentar de Ciência e Educação, com o apoio institucional do Governo através do ministro da Ciência, Manuel Heitor.

Este ano, o evento, novamente aberto ao público em geral, tem como país convidado o Reino Unido, com o qual, apesar do "Brexit" (saída da União Europeia), Portugal quer "manter a relação estratégica" em termos científicos, justificou Manuel Heitor, em declarações aos jornalistas, na apresentação do programa do Ciência 2019, que volta a ter sessões temáticas paralelas e demonstrações práticas do trabalho realizado nos laboratórios.

As sessões paralelas, a iniciar por um jovem do ensino secundário que se destacou num projeto de cariz científico, são pontuadas pelas metas globais da Organização das Nações Unidas (ONU) para 2030, como a erradicação da pobreza e da fome, a saúde e educação de qualidade, a igualdade de género, as energias renováveis e acessíveis, a água potável e saneamento, o trabalho digno, as cidades e comunidades sustentáveis, a ação climática e a proteção da vida marinha.

Segundo a comissária do Ciência 2019, a astrobióloga Zita Martins, o encontro faz jus à igualdade de género, ao prever "um equilíbrio" de participantes homens e mulheres em todas as sessões.

Na edição deste ano, as sessões plenárias, com oradores convidados nacionais e estrangeiros, incluindo britânicos, têm como pano de fundo as comemorações dos 100 anos da União Astronómica Internacional e das observações do eclipse solar que validaram a Teoria da Relatividade Geral de Albert Einstein, dos 50 anos da chegada do Homem à Lua, dos 500 anos da viagem de circum-navegação de Fernão de Magalhães e dos 150 anos da Tabela Periódica dos Elementos Químicos de Mendeleev.

A computação quântica, apresentada como uma revolução no processamento de dados, é tema de um "workshop" promovido pelo Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia, em que especialistas vão falar sobre as aplicações práticas desta nova tecnologia (que pode ser usada em setores como o financeiro, farmacêutico, a construção automóvel e o abastecimento de água, gás e eletricidade).

Em diversos expositores, onde os cientistas irão mostrar o trabalho que desenvolvem, os visitantes poderão, por exemplo, aprender a manipular e a sequenciar amostras de ADN (material genético), ver robôs a interagir com humanos e saber como se fazem bolos com corantes naturais ou se converte óleo de fritar batatas em combustível semelhante ao gasóleo.

Qual a melhor ideia?

Durante os três dias vão estar à votação, através de uma aplicação de telemóvel, sete "ideias inovadoras" propostas por estudantes para aumentar a qualidade de vida das pessoas e do ambiente, como sacos e embalagens feitos à base de massa de amido (presente na batata ou no arroz), dispositivos de alerta sonoro ou vibratório de obstáculos para pessoas cegas ou com visão muito reduzida e um gin obtido do soro de leite de ovelha.

Consoante o número de votos obtidos, assim a ideia será financiada com maior ou menor montante.

Na segunda-feira, na sessão inaugural, que deverá ser encerrada pelo primeiro-ministro, António Costa, e pelo ministro da Ciência, Manuel Heitor, serão entregues as habituais medalhas de mérito científico, num total de 11.

Entre os distinguidos estão a investigadora Maria João Saraiva, pelos seus estudos de mais de 30 anos sobre a paramiloidose, mais conhecida por doença dos pezinhos, o fundador da Associação Portuguesa de Inteligência Artificial Luís Moniz Pereira e a bióloga Raquel Gaspar, que tem trabalhado com mulheres pescadoras na preservação das pradarias marinhas do estuário do Sado.

No encontro nacional Ciência 2019, que se realiza no Centro de Congressos de Lisboa, são esperados mais de quatro mil participantes, entre investigadores, empresários e alunos de doutoramento.

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, encerrará na quarta-feira a sessão plenária da manhã. Noutras sessões, as intervenções finais estarão a cargo dos ministros do Ambiente, dos Negócios Estrangeiros, da Economia, da Educação, da Presidência e da Modernização Administrativa e do comissário europeu Carlos Moedas.

O Reino Unido estará representado pelo embaixador em Portugal, Chris Sainty, e por vários cientistas, que vão abordar, nomeadamente, o futuro da exploração espacial, o combate às alterações climáticas e o impacto e os desafios da inteligência artificial.

Haverá ainda uma pequena mostra de inovações "made in UK", como um holograma tridimensional interativo, uma prótese de uma mão alimentada por um condensador à base de grafeno (material ultrarresistente) e um projeto de conversão de restos de marisco em bioplástico reciclável e biodegradável, informou a embaixada britânica em Lisboa.

Os protestos dos precários da ciência

Os investigadores precários da ciência irão também marcar presença no encontro nacional com protestos, dentro e fora de portas, indicou à Lusa a Associação de Bolseiros de Investigação Científica (ABIC), que promove, a par de sindicatos, as ações de contestação.

Sob o lema "Pelo fim da precariedade laboral e pela dignificação das carreiras científicas", os investigadores farão ouvir a sua voz na segunda-feira, na sessão inaugural, onde são aguardadas as intervenções do primeiro-ministro, António Costa, e do ministro da Ciência, Manuel Heitor.

Na terça-feira, o protesto decorrerá no exterior do Centro de Congressos de Lisboa, repetindo o gesto feito no ano passado, no encontro Ciência 2018, onde Manuel Heitor foi posteriormente vaiado quando discursava na sessão de encerramento.

No último dia do encontro, na quarta-feira, os precários da ciência deslocam-se às galerias do parlamento, onde será debatido o Estado da Nação.

As ações visam reclamar a valorização da carreira de investigação científica, a substituição de bolsas por contratos efetivos de trabalho, a regularização dos vínculos laborais precários e o "reforço sustentado" do investimento público na ciência, com calendarização plurianual, sintetizou à Lusa a vice-presidente da ABIC Bárbara Carvalho.