Sebastião Nicomedes de Oliveira, um ativista e ex-morador de rua que vive agora num prédio vazio no centro de São Paulo, explicou à Lusa que, entre os mais pobres, há uma grande expectativa sobre o novo Governo de Lula da Silva, que ganhou umas eleições polarizadoras contra o Presidente cessante, Jair Bolsonaro, por uma margem pequena de votos (menos de 2%), mas
“Eu participei na fundação do Movimento Nacional da População de Rua e junto com o Movimento Nacional dos Catadores de Recicláveis. A gente trabalhou muito para criar uma política de resíduos sólidos e uma política pública para a população em situação de rua nos primeiros governos Lula da Silva e a gente conseguiu melhorar de vida”, contou.
“Agora nas periferias e no centro de São Paulo, que são os lugares mais degradados, mais arruinados e mais empobrecidos, a expectativa é que ele [Lula da Silva] faça um Governo mais amadurecido (…) Viver num país rico com o PIB [Produto Interno Bruto] crescendo é maravilhoso, mas mesmo que o Brasil vire uma potência com tanta gente vivendo nas calçadas isto não vai adiantar. A expectativa é que ele [Lula] realmente crie uma equipa que se envolva, que faça essa mudança urgente no atendimento das pessoas da rua”, acrescentou Oliveira.
Dormindo perto de uma estação de trem metropolitano entre o centro e a zona leste de São Paulo há dois anos, Roberto Francisco dos Santos, disse ter votado em Lula da Silva por acreditar que ele cumprirá a promessa de ajudar os mais pobres.
“Nós que moramos na rua temos que acreditar, não podemos perder a esperança. Tem muita gente nas ruas que são analfabetas, que não são articuladas com nenhum tipo de movimento, que não acreditam em políticos, mas a grande maioria votou no PT [Partido dos Trabalhadores], votou no Lula porque eles também têm esse sonho de uma sociedade mais solidária e igualitária. Esse é o nosso sonho”, explicou.
Nas periferias de São Paulo o desejo de ascensão económica também está presente quando o assunto são as expectativas sobre o novo Governo liderado pelo líder progressista do Partido dos Trabalhadores (PT).
Cristiano Gonçalves Cardoso, líder comunitário e empreendedor na favela de Vila Prudente, a mais antiga de São Paulo, disse à Lusa que Lula representa esperança de ascensão económica para os pobres, na sequência dos programas criados nas suas gestões anteriores (2003-2010).
“Mesmo dentro de uma favela tem as classes [sociais]. Existe a classe que tem mais poder aquisitivo e as pessoas que vivem bem abaixo da linha da miséria em qualquer favela do Brasil. O que aconteceu na favela, no governo Lula? As pessoas que tinham uma condição financeira melhor saíram da favela, conseguiram alugar uma casa melhor fora da favela. Quem estava lá na linha da miséria conseguiu sair da miséria, alugou uma casa um pouquinho melhor porque tinha distribuição de renda. Então aconteceu essa, mudança”, contou.
“O que as pessoas esperam agora? Muita gente está na linha da pobreza aqui na favela, não conseguem nem comprar nem o gás [para cozinhar]. Não tem nem o que comer dentro das casas, há famílias que não conseguem pagar o aluguel”. Por isso, “esperam políticas públicas, o aumento real do salário mínimo, que parou (…) tem várias expectativas dentro da área periférica na parte de habitação. Aqui se fala 24 horas por dia sobre isto, sobre política”, acrescentou.
Lula da Silva venceu nas periferias das grandes cidades e zonas mais pobres do Brasil segundo dados divulgados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) após o sufrágio.
A popularidade entre a parcela que recebe até dois salários mínimos, e que forma a maioria da população brasileira, já estava presente em sondagens de intenção de voto realizadas antes da segunda volta da eleição presidencial, embora a disputa contra o Presidente cessante, Jair Bolsonaro, que tentou a reeleição, tenha sido bastante acirrada.
Uma nova sondagem nacional realizada pela Genial Quaest entre 03 e 06 de dezembro com 2.005 entrevistas presenciais indicou que entre as pessoas de baixos rendimentos, que recebem até dois salários mínimos, Lula da Silva teve 43% dos votos face a 28% dos que declararam terem votado em Bolsonaro.
Gilda Godoi, presidente de uma cooperativa de reciclagem de lixo na cidade brasileira de Ubatuba, no litoral do estado de São Paulo, contou o que cenário se repete.
“Lula vai ser o nosso Presidente, o presidente do povo, que traz a questão social muito na pele. Esperamos que ele faça essa inclusão dos catadores [de lixo], dos moradores de rua (…) Eles esperam ser inclusos na sociedade para ter geração de renda, ter dignidade e ter condições de comer melhor”, concluiu.
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