Numa conferência em que analisou as estimativas para o crescimento mundial até 2050 e as respetivas consequências, David Bloom foi taxativo ao afirmar que não há dúvidas que é no envelhecimento da população que reside o maior problema demográfico, um cenário transversal, ou quase.
“À exceção do Vaticano, todos os países do mundo estão a envelhecer”, disse, numa nota bem humorada, o académico norte-americano no decurso da conferência “Quem Somos? Os desafios das alterações demográficas em debate”, a primeira do ciclo ‘Nós, portugueses”, que assinala os 10 anos da Pordata.
Questões como o crescimento da população, a longevidade e a fertilidade estiveram em análise, associadas a aspetos como o impacto no investimento em saúde, os impactos económicos, laborais e de rendimento e produção de riqueza no mundo, ou ainda as questões ambientais, mais prementes nos países menos desenvolvidos, onde se espera que haja nas próximas décadas o maior crescimento populacional mundial.
Mas é o envelhecimento da população o maior problema com o qual as sociedades vão ter que lidar, sobretudo as mais desenvolvidas, defendeu David Bloom, que olha sem otimismo para o cenário português.
O professor da Universidade de Harvard salientou em relação a Portugal que o pico de população total e de população em idade laboral já foi atingido, em 2009, e que o declínio é a tendência das próximas décadas, esperando-se, por exemplo, que em 2050 seja de 52 anos, contra os atuais 46, que o peso dos cidadãos com mais de 65 anos represente cerca de 30% da população portuguesa e que a taxa de fertilidade se fixe em cerca de um filho por mulher.
Dados que, em conjunto, deixam David Bloom “muito inseguro” quanto ao futuro económico de Portugal, que até 2050 terá mais cidadãos dependentes do que a trabalhar e um cenário demográfico muito próximo do Japão, o país onde o envelhecimento da população é reconhecidamente o mais grave em todo o mundo e que já lida atualmente com problemas económicos graves.
As respostas serão necessariamente novas, frisou Bloom, afirmando: “não temos exemplos históricos de como lidar com o envelhecimento da população”, e terão que passar por políticas públicas, possivelmente apoiadas no desenvolvimento da tecnologia e da medicina, centrando-se em questões como o envelhecimento ativo, a independência física, económica e social dos mais velhos e a aposta na saúde, focado na prevenção e diagnóstico precoce, uma visão que “sai mais barata ao sistema”.
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