“Sabemos que hoje em dia um terço dos casais tem problemas de fertilidade ou infertilidade, o que perfaz um número de cerca de dois milhões de casais a nível mundial e, desses casais, 30% dos problemas devem-se ao fator masculino”, disse à Lusa, Marco Alves, investigador do ICBAS da Universidade do Porto e o responsável pelo projeto.
O projeto, designado ‘Spermboost’, começou a ser desenvolvido em 2016 e surgiu de “uma necessidade de mercado e de saúde pública”.
“Achamos que valeria a pena procurar alguns compostos, proteínas ou mecanismos que pudessem melhorar a preservação dos espermatozoides. Assim, pesquisamos uma substância que pudesse acelerar o espermatozoide e mantê-lo viável mais tempo”, explicou o investigador.
Segundo Marco Alves, as pesquisas desenvolvidas pelo ICBAS demonstraram que através de “um ativador de proteínas” o espermatozoide “fica móvel após duas horas [tempo que deve permanecer armazenado] sem perder qualidades”.
“Quando se faz uma fertilização in vitro nunca se sabe qual é o melhor espermatozoide, portanto, recorre-se à preparação. A nossa tecnologia, através de vídeo, mostra que os espermatozoides, passado duas horas, tem uma mortalidade bastante reduzida, comparativamente às técnicas utilizadas”, salientou.
A solução encontrada pelos investigadores permite assim “uma fertilização mais rápida e eficaz”, sem que “os espermatozoides percam o ADN” e seja necessário que os homens façam “mais do que uma recolha de gâmetas”.
“Este tratamento poderá fazer com exista uma menor necessidade de recolhas, evitando que os homens andem sistematicamente a fazer recolhas. Além disso, a probabilidade da fertilização in vitro correr bem é maior”, frisou.
O investigador explicou ainda à Lusa que, globalmente, o mercado para o tratamento de fertilidade já ultrapassa os 4,8 biliões de euros, sendo que o processo de fertilização in vitro pode ter um custo de 50 mil a meio milhão de euros por casal.
“Não se fala dos custos dos tratamentos, mas, na verdade, cada fertilização in vitro pode custar entre 50 mil a meio millhão de euros. O facto desta solução permitir que os homens se desloquem menos vezes às clínicas para fazerem a recolha dos espermatozoides, permite que os custos do tratamento sejam também mais reduzidos”, esclareceu Marco Alves.
De momento, a equipa, composta por seis investigadores do ICBAS e pelo professor Alberto Barros, diretor clínico do Centro Genético de Reprodução, no Porto, prevê fazer os testes de “biossegurança” para, no prazo de dois anos, poder lançar o produto junto do mercado farmacêutico.
O projeto ‘Spermboost’, que já possui a patente nacional e mundial, foi distinguido em setembro, no âmbito da iniciativa BIP Proof, com um prémio no valor de 10 mil euros, e conta com o apoio da Fundação Amadeu Dias.
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