Cohen, ex-advogado de Trump, foi interrogado pela Procuradoria sobre os pagamentos à ex-atriz pornográfica Stormy Daniels que foram disfarçados como despesas legais.
Depois do depoimento de Daniels na semana passada, Cohen é a testemunha mais importante da acusação, que tenta comprovar que o ex-presidente falsificou registos contabilísticos para ocultar o pagamento à ex-atriz pornográfica na reta final das eleições de 2016.
Cohen declarou à justiça que pagou do seu próprio bolso, a pedido de Trump, 130 mil dólares a Daniels, para comprar o silêncio da ex-atriz sobre uma relação sexual tida em 2006, a qual o republicano sempre negou.
Quando era presidente, Trump reembolsou a quantia a Cohen como gastos legais, de acordo com a procuradoria.
"Falei com o senhor Trump e expressamos que eu ia adiantar o dinheiro por ele, pelo que se mostrou agradecido", disse Cohen sobre uma conversa que ele e o chefe das finanças de Trump, Allen Weisselberg, mantiveram com o magnata.
"Bem, bem", terá dito Trump, segundo Cohen. "Ele [Trump] afirmou: não se preocupe, vai recuperar o dinheiro," declarou diante do tribunal.
Na audiência desta segunda-feira, a procuradora Susan Hoffinger perguntou a Cohen se ele alguma vez mentiu por Trump ou se intimidou pessoas.
"Sim... Era o que tinha de ser feito para cumprir a tarefa", respondeu ele, que de vez em quando se virava para olhar para Trump, afundando impassivelmente na cadeira.
Quando já era presidente, Trump reembolsou-o em parcelas, simulando despesas legais, segundo a Procuradoria.
O ex-advogado, apelidado de "pitbull" pela forma como defendia o seu ex-chefe, já se declarou culpado e foi condenado a três anos de prisão — cumpriu apenas 13 meses e um ano e meio de prisão domiciliária — por mentir ao Congresso e por crimes financeiros e eleitorais.
No seu depoimento, Cohen garantiu que quando trabalhou para Trump, cuidou tanto dos seus assuntos pessoais quanto profissionais. O advogado contou ainda que o magnata não tinha e-mail por medo de deixar provas por escrito que pudessem mais tarde ser usadas contra ele.
Também detalhou como promoveu a publicação de artigos de imprensa favoráveis ao republicano e negativos a Hillary Clinton, a sua rival nas eleições de 2016.
Além disso, informou ter pago para impedir a publicação de informações prejudiciais ao magnata através da prática que a imprensa anglo-saxónica denomina de "comprar e matar", o que terá acontecido no caso de Daniels e também no da ex-modelo da Playboy Karen McDougal, com quem Trump também terá tido um caso.
"Ele pediu-me para que cuidasse disso, que tínhamos de impedir que isso viesse a público", contou no tribunal.
"É suficiente chegarmos às eleições porque se eu ganhar isso deixará de ser relevante, já que serei o presidente, e se eu perder, deixará de ter importância", lembrou Cohen, em alusão ao que o então candidato republicano ter-lhe-á dito.
Na semana passada, Daniels contou com detalhe a suposta relação sexual com o magnata durante um torneio de golfe: falou sobre o seu pijama, as suas roupas íntimas, a posição sexual e que não usou preservativo.
Especificidades que a defesa considerou irrelevantes para o caso e pelos quais pediu ao juiz Juan Merchan a anulação, sem sucesso, do julgamento.
Ao longo de três semanas, o júri que selará o destino do magnata em plena campanha eleitoral ouviu várias declarações de que Cohen era uma pessoa difícil, que intimidava, persuadia os outros para conseguir o que queria.
Para os advogados da defesa, é um mentiroso patológico e um criminoso convicto. "Tudo o que disse está defendido por documentos", reagiu à AFP uma fonte próxima a Cohen.
O magnata chamou ao ex-advogado "rato", que, por sua vez, considerou o candidato republicano um "chefe da máfia".
Trump, que ao chegar ao tribunal repetiu ser vítima de uma "caça às bruxas" e de "interferência eleitoral", discursou no sábado num comício em Nova Jersey e voltou a criticar o juiz, assim como o procurador do tribunal de Manhattan, Alvin Bragg, que classificou como "democrata radical".
Além do caso de Nova Iorque, Trump foi acusado em Washington e na Geórgia de tentar reverter o resultado da eleição de 2020 e de levar documentos confidenciais ao deixar a Casa Branca em 2021, embora este julgamento tenha sido adiado e não tenha data prevista.
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