O senador Bernie Sanders venceu esta terça-feira as eleições primárias do Partido Democrata no estado de New Hampshire, ficando à frente do ex-autarca Pete Buttigieg.

Na segunda votação das primárias do Partido democrata para a corrida à Casa Branca, Sanders recebeu 26% (cerca de 71.400 votos), enquanto Buttigieg obteve 24,4% (67.000 votos).

Em terceiro lugar ficou a senadora Amy Klobuchar com 19,7%, seguindo-se a também senadora Elizabeth Warren com 9,4% e o ex-vice-Presidente Joe Biden com 8,4%.

"Este é o início do fim de Donald Trump", afirmou o senador de 78 anos, perante os seus apoiantes em New Hampshire, referindo-se ao Presidente norte-americano.

"A nossa campanha não se trata apenas de ganhar a (Donald) Trump, é de transformar os Estados Unidos", frisou Sanders.

A noite ficou ainda marcada pelo anúncio do candidato democrata Andrew Yang de que vai abandonar a corrida à Casa Branca, na sequência do fraco resultado que, tudo indica que vai obter.

“Eu sou um matemático e é óbvio depois desta noite, com estes números, não vencerei esta corrida", explicou, na terça-feira à noite, aos seus apoiantes, o empresário de 45 anos de idade.

As projeções dos resultados nas primárias colocaram Yang em oitavo lugar, com 2,9%. Resultados que, segundo o próprio, tornam a sua permanência na corrida algo “não necessariamente útil ou produtiva”.

O empresário, que lançou a sua campanha em 2017, participou nos sete debates organizados pelo Partido Democrata, o último dos quais ocorreu na sexta-feira em New Hampshire.

As primárias do estado do New Hampshire no Partido Democrata causaram também mais uma desistência: o senador Michael Bennet, que teve apenas 0,1% dos votos.

Com estas desistências, agora são nove os candidatos a candidatos democratas para derrotar Trump.

Os candidatos democratas à Casa Branca procuram afinar o seu  processo eleitoral após um início caótico no processo de nomeação do partido na semana passada no "caucus" (assembleias de cidadãos) de Iowa, onde Buttigieg e Sanders disputaram a vitória voto a voto num apuramento que demorou vários dias .

No Twitter, Trump ironizou a disputa democrata, com comentários sarcásticos sobre Warren, a quem ele apelidou de "Pocahontas", após a senadora afirmar que era descendente de indígenas.

"Acho que ela está a enviar sinais de que quer sair", afirmou o presidente.

Entre a revolução e o realismo

Em New Hampshire, um pequeno estado com apenas 1,3 milhão de habitantes, as urnas começaram a fechar no final da tarde de terça-feira. "Acredito que teremos uma boa participação", disse  John Williams, fiscal eleitoral da capital Concord, à AFP.

O advogado Mike Schowalter, de 39 anos, foi um desses eleitores e disse ter votado em Sanders, candidato que considera estar preparado para vencer Trump. Diferentemente de Hillary Clinton, que derrotou Sanders nas primárias democratas em 2016, Trump e Sanders conseguem igualmente dialogar com as pessoas que perderam os empregos para a globalização, acrescenta.

Ansiosos por recuperar a Casa Branca, os democratas dividem-se entre a "revolução política" proposta por Sanders, que se defende como um "socialista democrata", e o realismo do moderado Buttigieg, ex-autarca de South Bend, Indiana.

"New Hampshire, hoje temos a oportunidade de terminar o que começamos há quatro anos e enviar uma mensagem poderosa aos multimilionários", escreveu Sanders na sua conta de Twitter.

Buttigieg, o primeiro aspirante à Casa Branca declaradamente homossexual, também mandou um recado aos eleitores por meio do Twitter, apresentando-se como a renovação necessária para uma mudança real em Washington.

"O que decidirem hoje definirá o futuro da nossa nação", escreveu. "Juntos construiremos a coligação necessária para derrotar Trump em novembro".

"Tantos participaram. Democratas de pura estirpe. Independentes dispostos a permanecer à margem. E até alguns novos ex-republicanos. Prontos para votar por algo novo", disse Buttigieg, antes de anunciar que a sua campanha seguirá para Nevada e Carolina do Sul, os próximos estados a votar nas primárias, a 22 e 29 de fevereiro.

Em New Hampshire, estado no qual os eleitores pró-independentes superam o número de democratas e republicanos, e podem votar em qualquer eleição nas primárias, há sempre o risco de que a balança se mova.

Ao nível nacional, Sanders lidera com 23%, seguido de Biden com 20,4%, que está em queda desde janeiro. Segundo os analistas políticos, isto simboliza uma "mudança dramática".

Biden, que terminou em quarto lugar no Iowa e acaba de perder a liderança nas sondagens nacionais, recebeu ontem um novo golpe em New Hampshire, com apenas 8,4% dos votos. Já prevendo que a noite seria desfavorável, o ex-vice-presidente de Barack Obama viajou para a Carolina do Sul, onde espera reverter a tendência graças ao apoio da população negra. E não parece disposto a deitar a toalha ao chão.

"Acabámos de escutar os dois primeiros de 50 estados. Dois. Não toda a nação, nem metade da nação, nem um quarto da nação", afirmou.  "De onde eu venho, este é o sino de abertura, não o sino de encerramento", disse Biden, que no final de semana visitará Nevada.

O milionário Michael Bloomberg (13,6%) aparece já em terceiro lugar nas sondagens após entrar na disputa em novembro, ultrapassando Elizabeth Warren (13%), Buttigieg (10,4%) e Klobuchar (4,4%), segundo RealClearPolitics.

Bloomberg, ex-mayor de Nova Iorque, decidiu não competir nos estados de Iowa, New Hampshire e Nevada, este último com um "caucus" agendado para o próximo 22 de fevereiro. Também optou por não concorrer durante as primárias em 29 de fevereiro, na Carolina do Sul.

Com um discurso moderado e muitos dólares para gastar, Bloomberg pretende entrar de vez na corrida presidencial na chamada "Super Terça-Feira", no dia 3 de março, quando 14 estados terão primárias, entre eles territórios cruciais como a Califórnia, Virgínia, Carolina do Norte e o Texas.

O multimilionário investiu 260 milhões de dólares da sua fortuna pessoal na campanha, irritando Sanders, que o acusa de "comprar as eleições".

* Com agência Lusa