Os 300 voluntários que nos 365 dias do ano asseguram o jantar nos três restaurantes do projeto financiando pela Câmara do Porto têm sido “confrontados com novos desafios resultantes do aumento de imigrantes em busca de refeições, começando pela recusa em ingerir carne de porco e, noutros casos, qualquer tipo de carne”, contou a responsável.
“A nossa perceção é que em algumas noites quase metade das pessoas que servimos são de outras nacionalidades, na sua maioria oriundas de Marrocos, mas também do Brasil, Angola, Guiné-Bissau, Paquistão, Tunísia e Argélia, sendo que muitos delas não falam português ou inglês”, relatou Ana Salão.
Identificado o problema, contou a coordenadora, o passo seguinte foi informar a autarquia, passando as refeições a “raramente incluir carne de porco, sendo que nos dias em que houver, terão um prato alternativo”.
Nos restaurantes situados no Centro de Acolhimento Temporário Joaquim Urbano, na baixa e na Batalha, em média são servidas 500 refeições por dia, numa contabilidade que também pode chegar às 550, mas também ser bem mais abaixo.
O caráter pendular da comparência nos restaurantes “depende de vários fatores”, explicou Ana Salão, juntando a circunstância de “haver jantares também noutras instituições da cidade ao momento em que algumas pessoas recebem o Rendimento Social de Inserção e deixam de aparecer uns dias”.
A população que frequenta os restaurantes solidários é na sua grande maioria masculina: “em 90% são homens, mas há, também, mulheres com filhos”, disse.
E com “as equipas preparadas para comunicar em inglês” o desafio de ter de “resolver assuntos com quem apenas fala francês faz-se recorrendo às aplicações de tradução dos telemóveis”, relativizou a coordenadora.
A constatação que fazem de “quem chega e partilha as dificuldades em que vive” permite a Ana Salão contar à Lusa servirem refeições “a pessoas que têm emprego mas que são obrigadas a partilhar quartos com outras 11 ou 12 pessoas para poderem sobreviver, pois para comer não chega”.
Dos restaurantes para a rua, os voluntários do projeto distribuem quatro vezes por semana refeições a cerca de 200 pessoas e há ainda outro projeto, “nascido durante a pandemia para suprir pedidos de emergência, o SOS CASA”, contou a responsável.
Neste caso, procuram “responder a pedidos de cabazes alimentares, mas também de roupa, mobiliário e eletrodomésticos”, solicitações, sublinhou, que “têm crescido muito mais ao nível das famílias, muitas delas imigrantes, do que das pessoas em situação de sem-abrigo”.
“Resistimos à custa de bater a muitas portas e do apoio de empresas e de particulares”, assinalou Ana Salão sobre quem ajuda para os outros projetos que não o dos restaurantes solidários.
E como “todos os dias são para apelar e para ajudar”, Ana Salão referiu que a CASA está “muito necessitada de carne para cozinhar e de cobertores”.
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