Segundo um estudo publicado esta quarta-feira, 30 de janeiro, na publicação científica New England Journal of Medicine, os cigarros eletrónicos quase são duas vezes mais mais eficazes do que outras terapias de substituição — como pastilhas com nicotina, adesivos ou spray — , quando o processo é acompanhado por apoio comportamental.
Apesar da maior eficácia, a taxa de sucesso — ou seja, o número de pessoas que efetivamente conseguiu deixar de fumar — é baixa.
Este estudo, no Reino Unido, que envolveu 836 participantes — pessoas que estavam a ser atendidas pelo serviço nacional de saúde para deixar de fumar — concluiu, ao fim de um ano, a taxa de abstinência era de 18% no grupo de optou por usar cigarro eletrónico, contra os 9,9% no grupo que optou por outro tipo de terapias de substituição.
Além disso, entre aqueles que conseguiram ficar pelo menos um ano sem fumar, os que optaram pelo cigarro eletrónico tinham maior probabilidade (cerca de 80%) de se manterem fieis ao método de substituição ao fim de 52 semanas de terapia.
Todavia, no que diz respeito a irritação na boca ou na garganta durante o processo, esta era mais comum entre aqueles que optaram pelo cigarro eletrónico do que os restantes (65,3% vs 51,2% no grupo com outros substitutos de nicotina).
Já no que diz respeito a náuseas, estas eram mais frequentes no grupo que optou outros por substitutos de nicotina que não o cigarro eletrónico (37,9% vs 31,3% no grupo do cigarro eletrónico).
Foi também analisada a incidência de tosse e produção de catarro. O grupo que optou por cigarros eletrónicos relatou maior declínio em ambos os casos desde o arranque da terapia até às 52 semanas. Sobre a incidência de sibilos ou falta de ar, não houve diferença significativa entre grupos.
Mas nem tudo foi positivo, ao fim de um ano, 80% dos adultos que usaram cigarros eletrónicos para tentar deixar de fumar continuavam a usar cigarros eletrónicos, enquanto apenas 9% daqueles que optaram por outras terapias de substituição continuavam a usar produtos com nicotina ao fim deste período. Acresce a isto o facto de ainda não serem conhecidos os efeitos para a saúde do uso continuado de cigarros eletrónicos, refere o The New York Times.
É importante referir que os 836 adultos implicados neste estudo foram acompanhados, pelo menos durante quatro semanas, por terapeutas comportamentais. Tipicamente, os participantes eram de meia-idade e fumavam entre meio maço a maço e meio por dia, e já tinham tentado deixar de fumar em algum momento anterior. O ensaio clínico decorreu de maio de 2015 a fevereiro de 2018 e uma vez que as pessoas selecionadas foram recrutadas nos serviços de saúde, estas já tinham uma predisposição ou vontade de deixar de fumar — o que pode influenciar os resultados. Para aferir resultados, a abstinência foi comprovada através de análises.
No que concerne o método, no arranque do ensaio clínico, ao grupo que optou pelo cigarro eletrónico foi fornecido um kit, sendo que os participantes eram livres de, quando a garrafa de líquido inicial acabava, de comprar e utilizar o sabor e intensidade de nicotina da sua preferência. Já ao grupo que utilizou outro tipo de substitutos, estes podiam escolher vários métodos — pastilha, adesivo, spray nasal — e até combinar métodos, algo que até era encorajado.
Questionada sobre o sucesso dos cigarros eletrónicos neste estudo, Maciej Goniewicz, co-autora do mesmo, atribuiu isto a vários fatores, entre eles a liberdade de o utilizado escolher quando quer utilizar o cigarro eletrónico (comparativamente às regras específicas de utilização dos outros produtos), além de uma maior satisfação manifestada pelo grupo que optou pelos cigarros eletrónicos quanto ao método de substituição em comparação com aqueles que optaram por outras terapias.
O tabaco provoca cerca de 6 milhões de mortes por ano em todo o mundo.
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