No relatório trimestral sobre o mercado do gás, publicado hoje, a Agência Internacional da Energia (AIE) traça um quadro de “otimismo prudente”, muito diferente do de há um ano, após o início da invasão russa da Ucrânia, que fez temer problemas de aprovisionamento.
Em termos globais, estima que o consumo de gás se mantenha estagnado este ano, depois de uma quebra de 1,5% em 2022, semelhante à que tinha ocorrido em 2020 devido aos confinamentos da covid-19, e que neste caso se deveu à quebra das importações na Europa e na Ásia.
Esta situação ocorreu num contexto de escalada dos preços do gás devido à guerra na Ucrânia, que esteve diretamente relacionada com o corte acentuado (de 80% no conjunto do ano) nas entregas de gás por gasoduto da Rússia para a Europa, o que afetou as indústrias de elevada intensidade energética, que, em alguns casos, reduziram a produção, mas também levou a uma maior utilização do carvão como substituto, a medidas de eficiência energética e a uma maior utilização de energias renováveis.
Até 2023, os autores do estudo esperam que os principais motores de crescimento sejam a Ásia, com um aumento de 3%, em que a China (+6%) desempenhará um papel importante graças à recuperação da sua atividade e à maior utilização de gás pela sua indústria, e o Médio Oriente, com um aumento de 2%, principalmente graças ao Irão e à Arábia Saudita.
Na Europa, a forte queda do consumo de gás na estação de aquecimento que acaba de terminar (menos cerca de 25 mil milhões de metros cúbicos) deve-se em parte às temperaturas particularmente amenas registadas em outubro e na primeira quinzena de novembro.
Estas condições climáticas explicam 40% das reduções nos setores residencial e comercial, onde as medidas de poupança, a instalação de bombas de calor ou as mudanças de comportamento desempenharam um papel importante.
Por outro lado, o volume de gás utilizado para gerar eletricidade durante a mesma estação de aquecimento na Europa diminuiu 12%, devido a um decréscimo do consumo de eletricidade de cerca de 7%.
Em 2023, a descida de 5% da procura na Europa dever-se-á também, em grande parte, a uma diminuição de quase 15% da utilização de gás para a eletricidade, substituída por novas instalações renováveis.
Na indústria europeia, por outro lado, espera-se um aumento de 5% porque o contexto dos preços mudou completamente e, após os picos atingidos no verão de 2022, entre meados de dezembro e o final do primeiro trimestre de 2023, o colapso foi de quase 70%.
A AIE estima que, na América do Norte, após um forte crescimento da procura em 2022, esta vai decrescer 2% este ano.
Os autores do relatório sublinham que há uma série de incertezas e riscos que pairam sobre as suas previsões inicialmente tranquilizadoras.
Estes incluem a possibilidade de condições climatéricas desfavoráveis, como um verão muito seco ou um inverno mais frio do que o habitual, mas também uma paragem ainda mais acentuada dos envios de gás russo para a Europa através de gasodutos, bem como uma disponibilidade de gás natural liquefeito (GNL) inferior à prevista.
Em princípio, a oferta de GNL aumentará 4% (o equivalente a cerca de 20 mil milhões de metros cúbicos) e metade deste aumento virá dos Estados Unidos, que se tornarão o líder mundial das exportações de gás por via marítima.
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