Em declarações à agência Lusa, a propósito do aumento das temperaturas e de fenómenos climáticos extremos, e de este ser o ano mais quente alguma vez registado, Jim Skea disse que as consequências das alterações climáticas observadas este ano, embora já projetadas pelo IPCC, estão a acontecer muito mais rapidamente do que o previsto, em particular eventos climáticos extremos, como inundações ou incêndios florestas.

Mas, avisou o responsável, piores efeitos podem ocorrer se forem ultrapassados os 1,5ºC de aumento da temperatura em relação à época pré-industrial.

O IPPC está muito preocupado com alterações na produtividade dos sistemas agrícolas, ou com o degelo do “permafrost”, as zonas que até agora estão permanentemente cobertas de gelo.

“Por isso, quero dizer que continua a ser uma mensagem forte que a 1,5°C veremos os efeitos das alterações climáticas. Mas estes são muito, muito menores do que se formos além de 1,5 C e chegarmos aos 02ºC ou mesmo mais”, afirmou.

Jim Skea falava à Lusa em Lisboa, onde participou hoje na cerimónia da entrega do Prémio Norte-Sul do Conselho da Europa, que premiou o IPCC e a Associação das Cidades Ucranianas.

O IPCC é uma instituição científica na esfera da ONU que sintetiza e divulga a principal informação sobre alterações climáticas. Tem produzido relatórios e o seu trabalho é, refere o Conselho da Europa na justificação do prémio, crucial na sensibilização para a necessidade premente de agir a nível mundial contra as emissões de gases com efeito de estufa (GEE).

Jim Skea também já tinha alertado para a necessidade de conter o aumento das temperaturas globais numa reunião organizada pela comissão parlamentar de Ambiente da Assembleia da República, onde admitiu que é possível manter esses valores abaixo de 1,5ºC, dependendo das ações tomadas já, porque cada segundo conta.

Os fenómenos climáticos extremos podem afetar milhões de pessoas, disse, alertando que as opções de adaptação às alterações climáticas vão ficando menos eficazes à medida que o tempo passa, e que algumas mudanças provocadas pela crise climática podem tornar-se irreversíveis.

Para já, recordou, as ações tomadas não estão no caminho dos 1,5ºC mas antes dos 03ºC, com as medidas de adaptação a não serem suficientes, com a capacidade de adaptação a diminuir também.

É verdade, reconheceu, que há boas notícias, como a vintena de países que baixou emissões de GEE, as tendências positivas com medidas legislativas, a diminuição do custo da energia na última década, de 85% na solar a 55% na eólica.

A verdade, avisou, é que tomar medidas mais ambiciosas agora vai prevenir medidas no futuro mais dramáticas, disruptivas e caras.

As escolhas dos próximos 10 anos terão consequências nos próximos milhares de anos, disse.

Questionado pela Lusa Jim Skea afirmou que com temperaturas além dos 1,5ºC há um risco real de extinção de espécies, de perda de biodiversidade, mas também de riscos para os humanos.

“Não creio que estejamos a falar da extinção da espécie humana”, afirmou, acrescentando que algumas partes do mundo ficarão difíceis de habitar.

“Há tipos de assentamentos humanos, em particular em pequenas ilhas e áreas costeiras baixas, que podemos perder. E obviamente uma das respostas adaptativas responsáveis é migrar ou sair dessas regiões”, disse.

E quando será isso? Em poucos anos? No final do século? Jim Skea sorriu. E depois respondeu: “digamos… dentro de décadas”.